quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A DEMOCRACIA "GLOBAL" NAS FAVELAS. 1ª PARTE.

Ao alvorecer do dia 13 de Maio de 1888 a população brasileira era de 6 milhões de pessoas, cerca de 4,5 milhões de negros, 700 mil deles ainda escravos, que algumas horas depois também seriam libertos.
2º METADE DO SÉCULO IX, RIO DE JANEIRO
'Um jovem pobre e sem emprego fixo se desespera com a gravidez da esposa. Sem altennativas de trabalho a curto prazo sái pelas ruas estreitas e becos da cidade do Rio de Janeiro, capital do Império, á caça de escravos fugidos. Nas mãos uma corda, no bolso recortes amassados de anuncio de fulga de esacravos.
Desesperado então com a ameaça de perder a guarda do filho recem-nascido, para a roda dos enjeitados depara-se com um anuncio onde um senhor oferece uma "bela" quantia a quem capturasse e lhe devolvesse uma escrava fugida.
Poem-se então a caça-la até encontra-la num beco, entra em violenta luta corporal com ele, de tl forma que provoca na mulher negra aborto. Sim porque ela estava gravida de uns quatro meses, ao menos.
Feliz e aliviado do medo de perder o filho pra roda dos enjeitados entrega a escrava que ainda se esvai em sangue por entre as pernas ao senhor, recebe o prêmio e vai pra casa viver sua vidinha com o filho a esposa e a sogra.
Este é em sintese o tema do conto "Pai Contra Mãe" do romancista Machado de Assis.
Essa obra prima de ficção é um retrato da realidade cotidiana do Rio do fim do seculo 19.
Uma realidade cruel em que a imprensa burguesa da época se sustentava e bancava cada edição quase que exclusivamente com anuncios, principalmente de escravos fugidos.
Tão logo veio a Abolição em 1888, dois anos depois, a Primeira Republica, promulga a Lei de Vadiagem. O negro passa de escravo a malandro e "migra" das paginas de anuncio de escravos fugidos para as paginas policiais.
A mesma imprensa burguesa que enriqueceu com anuncio de escravos continuou a dar a ex-senzala agora favela motivos o bastante desconfiar e odiar a mídia burguesa e á classe dominante que ela serve, e a fazer o que pudesse para impedir que seus reporteres entrasse livremente nos cortiços e favelas e continuasse a nos xnovar e criminalizar jogando a policia sobre a gente.
A série de materias 'DEMOCRACIA NAS FAVELAS" do Jornal O Globo, começou a ser publicada no Domingo dia, 9 de Agosto, mas para entender bem qual é a dor jornalão nessa historia é ver como ela foi gestada:
" Há oito meses, talvez fosse impossivel fazer a foto que ilustra o "Por Dentro do Globo". A foto é a da equipe de reporteres sobre uma lage da Favela Santa Marta.
Sob o dominio de tráficantes, tarefa de levar 13 reporteres ao topo do morro deveria deveria ser sercada por uma série de cuidados. Ontem, a ida da equipe a comunidade ocorreu sem qualquer tipo de autorização, contato prévio com a associação de moradores ou operação policial
Este é um exemplo de que o Rio vive uma experiencia diferente..."
Transcrição do primeiro paragrafo da seção Por Dentro do Globo, pagina dois, Globo de Sábado, 8 de Agosto de 2009. Assinada pelo chefe da editoria Rio Paulo Motta.
Em seus 85 anos de existencia o Globo, não só ele, mas também seu primo mais novo, Jornal Extra, tem feito pouco ou quase nada pra ganhar a confiança do favelado. Se alguma vez ganhou, abusou dela e a traiu.
É muito por isso a imprensa burguesa, e os reporteres que trabalham para ela tem tido problemas para entrar nas favelas livremente nos ultimos trinta anos.
Seja quem for dentre nós favelados que tenhamos qualquer tipo de !"poder" pra restringir e controlar o acesso dessas midias devemos faze-lo. Não por ditadura, mas, mas muito por instinto de sobrevivencia e letima defesa, individual e coletiva de cada um de nós favelados.
Hoje no Complexo de Acari, no que depender de mim, do meu insignificante poder como um dos lideres comunitários, que eu possa ter vou exercer, pra fazer esse controle, essa auto-defesa prévia.
Isso inclusive a revelia da cúpula do tráfico local que, hoje em dia anseiam por noticias sobre Acari que mostrem o quanto nossa comunidade tem sido a mais pacifica, sem precisar ser pacificada á força pela policia.
Já fui procurado algumas vezes, por reporteres "amigos" pra mediar materias, já fui "consultado" localmente se deveriam abrir a favela. E tenho me negado a fazer tal mediação.
Esse na verdade o unico poder que tenho: fazer uso dos trinta anos de credibilidade e confiança, dura e sofridamente, de militancia favelada, pra dizer o que penso, o que acho, sabendo o peso a responsabilidade que tenho.
Já que basta eu dizer sobre um reporter ou jornal "eu não conheço", "não confio", "se quizer fazer... mas eu não faria"... pra embarreirar eu faço. Claro que outros lideres comunitários em Acari, tem igual ou até mais poder que eu nesse sentido, e o tem exercido tanto quanto eu, mas eles são eles e eu sou eu.
E tanto com relação ao Jornal O Globo, como com relação a reporteres como Carla Rocha, uma das co-autoras das materias Democracia nas Favelas vou ter essa atitude. Já que, em outras vezes passadas, Acari, e lideranças como eu, nos sentimos traídos em nossa confiança e boa fé, por, reporteres á caça de materias especiais, muito mais interessados, em ganhar prestigio e engordar suas vaidades profissionais com os prêmios ESSOS e Pulitzer de Jornalismo da vida, em muito menos por por a imprensa a serviço de forma imparcial e justa, da favela e da periferia.
Vou continuar acompanhado as materias. Ainda volto a escrever. Me aguardem...

2 comentários:

  1. Olá Deley,

    Passando bem rápido para olha teu blog, volto mais tarde para ler com toda calma e atenção que merece este seu post, também tenho postado algumas coisas e quero escrever um texto mais aprofundado sobre essa falça "democracia nas favelas" vendidida pelo jornal O Globo, mais umas de suas facetas.

    www.valldean.blogspot.com

    Abços
    Valdean

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  2. Como sempre, muita lucidez e inteligência. Obrigada por nos presentear com seus textos.
    beijos,
    Adriana Facina

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