sábado, 2 de janeiro de 2010

AINDA MAIS FUNKEIROS PODEM MORRER EM CONFRONTO COM A POLICIA.


Esta manchete virtual pode parecer um exagero, mas se a gente refletir um pouco sobre os caminhos que se apresentam aos/as artistas negros das favelas e periferias do Rio e das grandes capitais do Brasil, não há tanto exagero assim:

Até pouco tempo a única opção para o artista negro das favelas e periferias, o único caminho era o da salvação individual, embora que buscada em meio a um grupo, apontado pelas ONGs do chamado 4F- CUFA, AFROREGGAE, NÓS DO CINEMA E OBSERVATÓRIO DE FAVELAS e por grandes empresas que exploram comercialmente o Funk, como Furacão 2000.

SE VOCÊ QUER CHEGAR MAIS RÁPIDO VÁ SOZINHO...parte de ditado africano.

Esta é mais ou menos a filosofia geral que vigora na linha da atuação pontuada por esses grupos.
No passado recente algumas alas de escola de samba como a do Império Serrano eram verdadeiros Coletivos de artistas negros de favela e periferia com perfil “indisfarçadamente” socialista. Isso valeu á seus integrantes a perseguição da ditadura militar... como a sensura e a proibição do samba enredo de 1968, heróis da liberdade.

Vale lembrar as perseguições a artistas individualmente, como Zé Keti e João do Vale.
Nos tempos da ditadura militar o crime organizado na favela praticamente não existia e não havia “com que” o poder autoritário tentar associa-los a esses coletivos de artistas negros de favela e periferia. Mesmo com o sambistas da geração do Fundo de Quintal, Alosio Machado e Beto Sem Braço, Jovelina Pérola Negra, Sérgio Meriti e Zeca Pagodinho isso não aconteceu.
E não aconteceu porque, embora o enorme talento desses artistas suas letras não incomodavam o Poder.

Durante uns 10 anos houve um seca total de musicas de protesto que viessem das favelas e periferias.
Nos fins dos anos 80 e inicio dos 90 surge o Funk Carioca. O Funk Carioca nunca chegou a ser um movimento político/cultural mas seus jovens negros favelados nascem e cresceram em meio as seqüelas da violência da ditadura militar. O fim da ditatura militar teve data marcada para o “asfalto” 1989, houve a anistia geral e irrestrita e as forças de repressão civil e militar “proibidas” de continuar a atual com os mesmos métodos no asfalto, continuou livremente empregado-os na favela.

A favela continuou assim vivendo sob as botas, os fuzis e os paus-de-arara de um Estado Policial Civil/Militar que criou uma verdadeira cultura de violência que perdura até hoje.
Foi em meio a essa cultura de violência que surgiram os funkeiros. Artistas tão talentosos e tão sensíveis ao meio ambiente urbano onde nasceram e criados, como seus antecessores sambistas, esses jovens artistas favelados, tanto refletiam em suas letras o problemas existenciais e amorosos enquanto adolescentes, como os problemas sociais que lhes afetavam cotidianamente, a violência de estado o maior deles.

Em dezenas de favela, surgiam artistas e grupos isolados, que através de suas musicas, refletiam, protestavam contra a marginalizarão sócia a violência que eles e seus amigos de favela sofriam.
Com certeza, eu, eu posso afirmar hoje que, dois fatores contribuíram para o surgimento de jovens artistas negros favelados com pelo menos essa consciência de si, como marginalizado:
A educação “mais ou menos” libertadora que passou a ser dada nas escolas públicas do Estado do Rio e da capital, com a implantação do Cieps- Centros Integrados de Educação Pública, no primeiro governo Brizola. Nem precisou ser uma educação revolucionária... bastou que fosse uma educação populista, de centro esquerda surgida na cabeça do Professor Darci Ribeiro.

Outro fator, é que, neste período, a militância favelada comunitária teve forte influencia de grupos de esquerda radicais como o MR-8 e passou a bater mais de frente com os governos estaduais e municipais. Mesmo depois da cisão entre o OITO e o movimento favelado as lideranças comunitárias continuaram atuando com força, e a FAFERJ era um grande instrumento de luta. É verdade que estas lideranças comunitárias nunca bateram de frente contra a repressão policial e a violência de estado. Sempre teve medo de ser associada ao tráfico de drogas.
Muito menos por medo de sofrer as rebarbas desta violência, em muito mais pelo puritanismo herdado dos grupos socialistas do asfalto dos quais teve apoio durante muito tempo... até o racha da esquerda, que ficou dividida entre o PT, o PMDB E uma ala do PDT.
O fato é que, conscientemente ou não esses lideres comunitários influenciaram muitos desses jovens artistas favelados com sua atuações em defesa dos interesses do povo favelado.
Juntamente com isso, e não paralelamente, esses jovens, mesmo sem o discurso político radical dos lideres favelados, cresceram ouvindo Bezerra da Silva e muitos de seus funks refletem a clara influencia que tiverem dos sambas que este artista recolhia nas rodas de samba na periferia e nas prisões.

Na favela Acari, em especial, nos anos 90, depois da chacina do filhos das Mães de Acari, brotou uma embrionária consciência da necessidade de lutar contra a violência de estado, seus principais lideres comunitários se viram levados a buscar junto as autoridades publicas punição para as continuas violações de direitos humanos de seus moradores que prosseguiam em decorrência e por causa, da impunidade dos assassinos dos filhos das mães de acari.

As chacinas de vigário geral e da candelária ocorridas em 1993 são claras conseqüências desta impunidade e paradoxalmente, alertou ainda mais as favelas que tal poderia s repetir dentro de algumas delas, principalmente as que ficam na jurisdição de BPM que são verdadeiras quadrilhas fardadas como é o 09º BPM , em cuja área fica o Complexo de Acari.
Onde nasceu o Grupo de Funk Força do Rap que em 1996 se tornou a principal voz e protesto contra a violência de estado através do braço policial militar.
No dia 15 de Abril de 1996, um bebe de 2 anos e meio foi morto por PMS do Nono no Amarelinho de Irajá e o Força do Rap foi a força de acari mais ativa em apoio a Familia Maicon.

O estado e o 9º BPM jamais perdoou a Força do Rap e seguindo a risca a filosofia do verso de Fernando Pessoa.. “vingança é um prato que deve ser servido frio”, esperaram cinco anos para uma vingança cruel e covarde e no 17 de Dezembro de 2001 assassinam covardemente o Mc Betinho, um dos integrantes mais lúcidos e mais críticos, socialmente, do grupo.
Na segunda parte deste texto: Movimento Funk É Cultura e APAFUNK com aliança dos movimentos de esquerda e do MST versus 4Fs Furacão 2000... manutenção da hegemonia cultural burguesa estatal policial nas favelas ou a libertação, não só mas também através de uma cultura funk, mesmo com o risco de novos confrontos entre funkeiros e o estado.
Funkeiros, dessa vez, organizados coletiva e politicamente com cumplicidade revolucionária da esquerda, ou os setores revolucionários dela?
Polêmico não é mesmo?... então vamos a mais polêmica...
Mas antes o ditado africano na íntegra:
você que ir mais rápido vá sozinho, mas ser ir mais devagar e chegar, vá com todos!

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