quinta-feira, 30 de julho de 2009

SÓ QUERIA ESSAS ALEGRIAS ASSIM, MAS NEM ASSIM!

“ Coração, tão resistente que “762” não perfuram, tão frágil que petalas de rosas dilaceram
"deley de acari"

Faz um tempo, numa das “confusões” que meus e-mails causaram na lista da REDE a Isabel de Manguinhos disse que eu tava doente da cabeça, que eu precisa me tratar.
Já faz algum tempo que deixei de causar “confusões” na lista da REDE mas o que disse Isabel, nunca me saiu da cabeça.
Na hora fiquei bolado com ela, mas de vez em quando fico achando que ela tem razão.
Acabo de acordar agora, tres da tarde achando isso.
Senão porque grandes desgraças já não me abalam tanto
E pequenas alegrias frustradas me atingem como um tsunami?
Assim: Durante quase dois meses levei cerca de 48 meninos do Complexo de Acari pra disputar uma Copa de Futebol Society na Barra.
Foram sete fins de samana viajando 04 horas de onibus ida/volta
Acari/Barra/Barra/Acari, ficando o dia inteiro jogando contra as escolinhas dos times masi ricos do Brasil com apenas um copo de refrigerante e meio pacote de biscoito na barriguinha favelada de cada um.
Resultado: O nosso mirim, meninos até 13 anos foi campeão.
Foi motivo de alegria pra mim, e uma ponta de inveja: varias escolinha tinham meninas jogando junto com os meninos.
Rí muito quando alguns dos meninos de nosso time achavam que iam dar canetas, lençois nas meninas dos time adversários e ficavam bolados quando as meninas é que deram canetas e lençois neles.
UMA PEQUENA ALEGRIA

Retomei os treinos depois da copa acalentando o sonho de botar umas meninas pra treinar tembém, não meninas adultas, mas meninas pequeninas, com 10, 12 anos... na idade deles.
Essa semana, ontem em fim aconteceu: uma menina, uma doce e maravilhosa criaturinha humana apareceu.
Mandei ela pegar o colete de treino e entrar na roda de alongamento e aquecimento e fiquei aguardando o protesto dos meninos. Para minha surpresa, não só não houve protesto como um dos meninos a ajudou por o colete direito outros e a orientou a fazer os exercicios e sequer “notaram” que tinha uma menina no meio deles no coletivo.
OUTRA PEQUENA ALEGRIA

Ontem também haveria um torneio no Amarelinho pra menorzada de menos de 9 anos. Seria a primeira vez que os pequeninos siriam da Parmalat, Ocupação onde moram, na beira do rio acari, pra atravessar a favela e ir pro Amarelinho do outro lado de Acari, lugar que a maioria jamais foi.
Era pra mim uma alegria a mais pois iamos acompanhandos da Danny, adoravel companheira de lutas ,que venho de Foz do Iguaçu, tá no Rio, é Nutricionista, e eu alimento o sonho de ve-la
Trabalhando no Projeto Fome de Bola, Nutríção de Cidadania cuidando da alimentação e da saúde da menorzada.
Mas aí venho a frustração: Pouco antes de subir com a menorzada pro Amarelo, começou um operação da policia civil, caveirões voadores pra lá e pra cá. Suspensa a participaçãop da menorzada, e eu não tinha ideia, não caia a ficha, do quanto tava sendo frustrante pra mim. Talvez porque eu tava mais preocupado em levar Dany de volta pra um lugar seguro, ou pegar onibus de volta pra casa. Cheio de medo que o caveirão voador da civil fizesse pontaria na gente.
Mais uma outra pequena alegria:

De manhã teve treino novamente, tinha bastante garato, uns 40.
Como sempre os menores treinam primeiro, depois os mais velhos. Depois do treino dos menorzinhos, foi o treino, dos meninos de 10 e 11 anos.
E aí mais outra pequena alegria: apareceu mais uma menina. Entrou alongou, aqueceu com os outros meninos, com a outra jogou com eles.

Enquanto isso os maiores, de 12 á 15 anos aguardavam a vez deles.
Eu estava muito feliz, queria que Dany etivesse alí de novo, queria que toda Acari estivesse alí vendo aquelas meninas treinarem junto com os meninos, como uma igual a eles.
Mas de repente, do nada, novamente o ronco do caceirão voador, e atrás do ronco da “besta” a propria besta, a menos de 150 metros de altura dando tiros a doidado.
Mandei todos sentarem no chão. De repente, “meninos” de moto e á pé passam pela quadra correndo e o caveirão paíra , há uns 70 metros sobre a quadra por uns cinco minutos, fuzis apontados pra gente.
Minha primeira reação foi jogar pedaços de lajotas nele, mas pensei nos meninos.
No que o Caveirão Voador foi atras duns meninos que tavam dentro da mata mandei as crianças correrem para casa e fiquei no meio da quadra com a maquina fotografica numa mão e uma pedra na outra esperando ele voltar.
Meus olhos tavam muito marejados de lágrimas que eu não tinha certesa que ir conseguir ver o caveirão o bastante pra foca-lo com a camera ao mesmo tempo acertar um teco com a outra.
Meus olhos tavam embaçados tanto que nem sei quem for o morador que passou na hora e puxou pra dentro de uma barraca.
Fui pra casa, tentei almoçar, dormi triste, deprimido, e acordei cheio de raiva impotente e chorando muito.
Só mesmo uma água mineral com gás e limão pra acalmar um pouco.
Já não sonho muito mais com grandes alegrias, me contentam as pequenas conquistas da meninada da favela, como uma roda de funk, um troféu num festival... duas menininhas que conquistam num boa o direito de jogar futebol á serio, numa escolinha de futebol, com os meninos.
Quando pequenas alegrias de um réles favelado como eu se frustram assim, tudo que era certesa, não passa nem por dúvida:
Mas um outra certesa, sinistra, terroristica certesa: melhor mesmo um fuzil nas mãos que uma bola nos pés destes meninos, melhor mulher de bandido e submissão, que bola nos pés e igualdade e respeito dos homens, na vidinha dessas meninas.
É isso que os governantes querem, e´isso que a sociedade civil quer pra gente, meninada favelada.
E pra gente, mais-velhos, a desesperança, o medo agudo e dilacerante do futuro, inclusive do próprio... e o cruel sentimento de impotencia de que possa haver mesmo dias melhores e mais felizes pra gente da favela.
E dai pra alcolismo, pra cocaina, pra “segurar” a depressão profunda não falta quase nada.
Só que eu só tenho conseguido me viciar em ouvir marvin gaye noite a dentro e beber litros de água mineral com gás e limão.
Esta aberta a temporada de depressão, tristeza de não saber o que e choros convulsivos por qualquer da cá minha palha.
“Ando tão á flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar” Zeca Baleiro

Quanto mais o vôo sinistro covarde, cruel, desumano de um caveirão voador pondo terror e desesperança numa menorzada favelada que só queria pequenas alegrias assim”

quarta-feira, 29 de julho de 2009

MULHERES DESAFIAM MACHISMO NA POLICIA DO RIO



Mulheres desafiam machismo na polícia do Rio, diz 'Guardian'
29 de julho de 2009 • 05h50 • atualizado às 05h50

Uma revolução feminista está tomando forma dentro da polícia do Rio de Janeiro, segundo reportagem publicada nesta quarta-feira no jornal britânico The Guardian.
Com o título "Feminismo e M-16s: Como as mulheres estão transformando o machismo na polícia do Rio", o artigo destaca a recente contratação de policiais femininas tanto para os cargos de chefia da organização como para atuarem diretamente nas operações de combate ao tráfico de drogas e de armas na cidade.
"Em um país onde ser policial há muito tempo é considerado trabalho de homem, a linha de frente da guerra da droga do Rio - um mundo de sangue, suor e balas que deve estar entre os mais machistas do planeta - é um cenário improvável para uma revolução feminista", diz o jornal. "Mas as mulheres brasileiras estão abrindo caminho nesta profissão dominada por homens."
O The Guardian entrevista mulheres que atuam nas batidas policiais nas favelas cariocas e a delegada-titular da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (DRAE), Marcia Beck, que assumiu o cargo em abril. "Beck vê a presença cada vez maior de mulheres como um passo a mais no sentido de mudar a imagem da polícia como uma força violenta e temível", diz o jornal.
O diário então relembra uma sondagem do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, realizada no ano passado, que apontou que apenas 6,9% dos cariocas confiam na Polícia Militar, enquanto a Polícia Civil obteve a confiança de 9,2% da população.
Dilma
A reportagem afirma ainda que a revolução feminina brasileira não se restringe à polícia carioca. "O número de mulheres ocupando posições de alto nível em grandes empresas, na medicina e na diplomacia também está crescendo", diz.
O jornal lembra que "apenas dez dos 81 senadores brasileiros são mulheres", mas afirma que as vozes femininas estão também "ganhando espaço na política".
"No ano que vem, o maior país da América do Sul pode ter a chance de eleger, pela primeira vez, uma mulher para a Presidência, na forma de Dilma Rousseff, uma ex-militante de esquerda que é chefe da equipe de Lula e a escolhida por ele para sua sucessão."
Mas o The Guardian ressalta que as mulheres ainda sofrem discriminação em vários níveis, inclusive dentro da polícia.
O correspondente do jornal no Rio acompanhou uma batida no Morro da Mineira, da qual participaram algumas policiais femininas. Ele relata que algumas das entrevistadas admitiram ouvir provocações de seus colegas homens todos os dias.
BBC Brasil -
BBC

MATUTANDO SOBRE A RODA DE FUNK NO SANTA MARTA!

Sobre o olhar do vígia:

Não basta pra gente sermos felizes e andarmos tranquilmente na favela onde nascemos.
Queremos nossos amigos e amigas do asfalto sendo felizes e andando tranquilamente
na favela onde nascemos como se fossem crías como a gente é.

A companheira do asfalto que teve na Roda de Funk do Santa Marta pode sentir na pele como é constrangedor e inibidor o olhar do vígia, serem olhados e palmeados por olhos de chacais vorazes
loucos para dar um bote se alguem der um mole.

Nas favelas em que o trafico manda quem vem de fora é abordado por um gamba com um rádinho e uma pistola. Se voce vai na boca vai na boca, se vai num projeto social voce vai num projeto social,
se voce vai na casa dum amigo pra uma festa ou tomar uma cerva, o gamba até te leva lá e pede desculpa. Se voce volta mais vezes, vai ser lembrado,e passa batido.

Claro que sempre tem um gamba mais abusado, mas isso não é porque é bandido, é do carater dele mesmo,formação de familia, e ele se aproveita da "patente" pra se valer do cargo,
mas se o vacilo chega ao comando, ele vai ser cobrado.

Mas se voce vem a favela ocupada pela policia e é abordado por um pila voce não vai na boca porque não tem boca, então voce vai num projeto social e voce vai ser vitima de ironia, deboche, ser chamado de defensor de direitos de bandido.

Se voce for na casa de um amigo simplismente pra tomar um cerva, pra não fazer nada, o pila não acredita que voce cidadão tão distinto do asfalto, possa ter amigo, amiga na favela.... quem voce pode viisitar como visita qualquer outro amigo ou amiga no asfalto.

Por isso, as rodas de funk na favela precisam ter cada vez mais gente de fora favela que venha não só pra roda, que chegue antes pra não fazer nada de definido,só mesmo sentar num bar tomar uma cerva conhecer morador tomar uma gelada com uma daquelas donas que ralam a semana toda fazendo diária na casa das madames e tira um sábado ou domingo pra dar uma descançada fazendo halterocopismo.

Sobre as mulheres da Santa Marta

Foi bom e emocionante ver a Cia de Teatro Marginal da Maré.
Dos bons teatros populares suburbanos do anos 70.
Mas a apresentação da Cia assula uma matutação: Foi o teatro que levou mais mulheres artistas na Roda do Santa Marta.
Apareceu um companheirinha mandando bem o rap do silva mas que era mais amiga do funk.
Dei uma saída pra umas “tricotagens” com os manos do mtd e não sei se a mc tiana cantou.
Se a gente for olhar bem, posso “tar” meio segueta da mente, mas acho que tem muito mais mulheres amigas do funk batalhando na apafunk e no movimento funk é cultura do que mulheres profissionais do funk.
Nosso argumento de que o microfone tá aberto pra todo mundo geral só reforça nosso machismo leninista de cada dia porque não levamos em consideração as barreiras no caminho das meninas de favela e periferia pra chegarem até ao palco, ao microfone.
Isso não é só do funk é de todas as manifestações culturais afrodescendentes nascidas no meio urbano: as lecy Brandão, dona Ivone Lara, Clementina de Jesus são exceções que só confirmam a regra.
As meninas do DPQ e uns manos aqui de Acari iniciaram um “esforço” no sentido de “incluir socialmente” meninas de acari no mundo do funk. Esbarramos em muitas dificuldades, demos um break, mas vamos voltar a ação.
Mas criar “mecanismos” de verdadeira inclusão das mulheres no funk precisa ser uma política cultural prioritária da apafunk é do movimento funk é cultura, não só de uma dúzia de três ou quatro
Funkeiros e amigos do funk “mais” conscientes.
Que tem medo da “mulher no funk”? a resposta imediata é óbvia...
Mas, e se a pergunta for: Quem tem medo da mulher maioria no funk? A resposta imediata é mais ou menos óbvia...
Mas, e se a pergunta for: Quem tem medo da mulher maioria no funk “mandando” no microfone questionamentos, sem se represália e forma de putaria, todas as formas que vem fazendo das mulheres no funk e na cultura popular em geral, pouco mais que objetos sexuais ou deusas amantes idealizadas fora de realidade concreta em qua vivemos.?
A resposta é?...
Antes de brotar de algum lugar uma resposta.
Dois alembramentos: Um de ontontem, outro d’agora.
De ontontem: Os poetas e ficcionistas negros brasileiros realizaram nos anos 80 tres encontros nacionais:
O primeiro em Sampa, na semana santa de 1985 reuniu 16 escritores e poetas de três estados. 12 homens e 4 mulheres.
O segundo encontro, no rio, no feriadão de finados do mesmo ano, reunião 26 escritores, 14 homens e 12 mulheres.
O terceiro encontro, ocorreu dois anos depois, em Petropolis e reuniu 56 poetas e ficcionistas, 32 mulheres e 24 homens.
Do primeiro encontro para o terceiro, o Coletivo de Escritores Negros Brasileiros constatou que a maioria dos artistas literários negros brasileiros é de mulheres.
Só um dado pra matugem na apafunk e no movimento funk é cultura: dos 56 poetas e ficcionistas presentes ao terceiro e ultimo encontro, o único negro favelado era eu.
O alembramento d’agora: ouvi na CBN na rapidez de mudança de estação, que o jornal inglês The Guardian, ta saudando a ascensão de coronéis PM mulheres e delegadas aos postos de comando da segurança pública, como uma revolução feminista na policia brasileira!
Tenho minha opinião. Mas em respeito as companheiras feministas socialistas... é isso que é uma, é a revolução feminista?
Que todos nós revolucionários esperamos?
Ainda volto a matutar mais ssobre a roda de funk no santa marta:

sexta-feira, 24 de julho de 2009

OS CRÍAS CONTRA OS VÉRMES DA PEDRA DE CRAK


A gente nunca sabe quando começa mesmo odiar ou amar alguma coisa ou alguém.
Principalmente se for negativo e traumático. Sei que sempre odiei X-9 e Caquêtas.
Só em 2004 quando ví o capitão do exército que me torturou em 1977, na Barão de Mesquita, que minha memória emocional venho á tona.
Fui levar uns garatos pre treinar futebol de praia em Copacabana e ele estva lá jogando volei com amigos.
Os meninos pediram pra beber água na bica improvisada ao lado da rede e ele negou.Fui desenrolar com ele e o reconheci. E me lembrei dele, não da hora da minha prisão, mas dele ter estado em varias apresentações de peças e debates da Fetierj, federação de teatro independente dos anos 70 que fazia a resistencia cultural e artística á ditadura militar.
Ele que me xisnovara que eu era o diretor da peça subversiva.
Mas meu ódio mesmo aos X-9 começou mesmo quando eu ainda era menino, tinha uns 12 anos. Meu tío preferido era funcionário civil da aeronautica, e camarada de luis carlos prestes. Foi xnovado pelo colega de trabalho que ele mais ajudou, perdeu todos os beneficios que teria como funcionario ao longo da carreira, se aposentou com uma aposentadoria pífia, enquanto seus colegas, que não resistiram a ditadura, inclusive o que o dedurou, se aposentaram com beneficios poupudos.
Mas foi quando encontrei o x-9 que me dedurou, jogando volei na praia de copacabana,que aprendi a ter auto-controle, frieza necessária pra encarar un x-9 de frente com o ódio á flor da pele, mas sem perder a frente.
Por isso não me foi dificil encarar os dois P-2 que estavam na festa junina me acari sábado passado.
Logo que me escaldei que eram x-9 o sangue me subiu a cabeça mas também logo me liguei que tomasse iria ter um retorno brabo.
Minha primeira reação foi avisar a quem seria mais vigiado por eles. Mas muito provavelmente esses “quem” iriam radicalizar, bater de frente, e talvez as consequncias seriam muitos trágicas para esses quens mesmo.
Passei então a usar o metodo anti-X9 que aprendi durante os anos da ditadura militar quando era perseguido pelos agentes do serviço secreto do exercito.
O RATO QUE VIGIA O RATO.
Fiquei “palmeando” os dois por mais de uma: eram, de meia idade, mais ou menos uns 40 anos. Ficaram o tempo todo bebendo, olhando meio, levaram uma hora pra beber quatro latas de cerveja, sme falar com ninguem. Evidencias de quenão eram de acari, nem conheciam ninguem na festa.olhavam atentos para quem parecesse bandido, se olhavam e cuxixavam.
Eram umas das poucas pessoas além de mim com mais de 40 anos na festa, em meio á mais de 600 jovens. Mas mesmo as pessoas mais velhas como eu alí, falavam, brincavam, comprimentavam outras , mesmos as mais jovens. Eles não, só na deles.
As 4 primeiras vezes que passei por eles, tentaram puxar conversa comigo:
-Tudo bem coroa?
Respondi só com um sinal de dedo.
Na quinta vez que tentaram puxar conversa comigo resolvi então fazer texto.
Olhei bem nos olhos do que me oferecu cerveja e lhe disse com voz firme:
- Tranquilo! Podem continuar fazendo trabalho de voces numa boa, sem neurose.
Os dois ficaram perplexos, me olharam espantados, muito mal conseguiram levantar o polegar.
Passei direto por eles, fingi que ia dar uma volta na festa saí e fui para o larguinho.
Fiquei num bar e os ví entrar apressados num carro estaciona

Trabalhei muito tempo nos bailes da quadra de areia nos anos 90. Na bilheteria vendi muito ingresso pra pessoas que eu tinha certesa serem pilas secretos. Quando desconfiava,
Dava um toque nos seguranças que contravamos para impedir o uso de drogas no baile.
A unica forma que tinhamos pra nos livrar deles era deixarem saber que sabiamos que eram. Logo eles iam embora.
Arrumar um problema com eles, explanar a presença deles pra geral, podia acontecer de alguem querer quebra-los.
Daí seria muito píor: a morte ou sumiço de um pila na favela, investigando o baile funk, poderia trazer a interdição do baile e, principalmente, a vingança de outros pilas, dentro da lei deles: 10 por 1: pra cada pila morto, dez moradores executados, bandidos ou não.
PRESSÃO PRA VENDER CRAK.
Hoje há uma grande pressão para que as favelas vendam crak, acari é uma das poucas favelas que tem resistido. Isso tem desgrado não só os matutos crakeiros, mas uma parcela da policia bandida que quer ter lucro facil com a corrupção. Essa parcela da policia costuma dar “ataques” em favelas que não vendem crak e que os tranficantes são crías e por isso evitam trocar tiros com os pilas pra não causar mortes de moradores, nem mesmo de policiais.
Operações policiais em Acari com mais de sem policiais,tem resultado em pouca ou nenhuma morte ou prisão. Enquanto, operações com trinta policiais em outras favelas resultam na morte de 6,8, 10 bandidos e até policiais.
O não confronto tem mantido acari longe das cameras e dos holofotes da mídia,e em consquencia fora da prioridade de implatntação de um Unidade Pacificadora da PM como as que tem no santa marta, no batam, na cidade de deus e outras comunidades.
Durante uma operação policial em acari, dia desses, qualquer morador que ficasse perto deum menino com o radinho podia ouvir as ordens:
-Só palmeia e recua. Não dá tiro, quem der tiro vai ser cobrado depois.
E os policias falando:- sai pra pra rua porra”! vem trocar com a gente, acari só tem bandido bundão!
Era clara a intenção dos pilas provocar o confronto para causar uma “merda” e justificar a ocupação policiail da favela por parte do governo.
Uma especie de vingança contra os bandidos crías locais por não querem fazer coisas que prejudique a comunidade mais do que vender vender drogas.
Até agora os crías de acari tem preferido passar por bundões pra uma parcela da policia.
Mas serem respeita por uma outra parcela da policia e terem a simpatia maioria dos moradores, simpatia não conivencia, e a estranhesa positiva das dezenas pessoas que tem vindo de fora pra participar de atividades e trazer projetos pra favela.
Enquant os Crías continuarem fazendo o certo, mesmo que na vida errada, resitindo ás covardias, judarias e as armadilhas dos Vermes da Pedra de Crak haverá essa relativa paz na favela.
Nós moramoras otários, não por conivencia, mas por convivencia e por amor á paz a a vida
esperamo que essa paz seja longa e duradourao bastante para vermos nos "meninos" , os que querem sair, sairem vivos da vida do crime, antes de serem presos ou mortos.
E é por isso também que devemos odiar os X-9: Um desses pode xnovar e ser o causador da prisão ou ma morte de um garoto que a gente sabe que mais sedo ou maiis tarde, vai sair da vida. que tá alí só porque não tem outra altenativa, mas no fundo do coração tem a esperança de uma nova portunidade na vida. E a agarra logo que apareça. mas pra isso é preciso que esteja vivo, livre e sádio, entre a gente dentro da favela, perto de nossos olhos, e mais ainda dentro de nossos corações.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

ACARI MEMÓRIA MULHER


Quando vim morar em Acari, em 1974, já tinha uma boa caminhada na vida cultural suburbana. Minha avó era a matriarca de um time de futebol de Várzea muito popular na Baixada Fluminese, na cidade de Nilópolis, em com meus 10 anos de idade botava no ar o serviço de alto falantes do club.
Entre uma música e outra em passava recados de moradores uns pros outros, sintonizava o Reporter Esso, O Globo no Ar,
O Programa Hoje é Dia de Rock, o Program Musical dos Bairros da Rádio Mundial e as atrações dos Bailes do Clube, além da agenda dos jogos do time pelos quintos cantos do Rio de Janeiro e da Baixada.
Em 1974 eu fazia teatro independente na zona oeste e participava do Movimento cultural Marginal Suburbano do Rio.
Os patriarcas da minha familia, ou morreram sedo, tiveram ausentes da criação dos filhos na maior parte do tempo.
Isso fez com que nossas mulheres pudessem fazer de nós homens mais delas que elas nossas, e exercer um matriarcado que se, não conseguiu vencer o patriarcado da sociedade e que vivemos, pelo menos conseguiram sustentar uma longa luta de guerrilhas que perduram até os dias de hoje.
A arma mais poderosa que essas mulheres tem usado para resistir por tanto tempo e nos manter no “nosso lugar” aliada
Uma singular capacidade de boca á boca manter viva a mémoria de cinco gerações, desde a vida na roça nos anos 20 e 30 até agora quase 2010: Desde a Vó Quita, filha de bugre com crioulo pega a laço no meio da mata atlántica até Tía Mariquinha, a atual matriarca da familia, com 85 anos, mãe de 10 filhos, seis homens, 4 mulheres, o mais velho com 68 anos.
Filhas mulheres inferiores em número, mais superiores e mais fortes psicologica e fisicamente.
Nos primeiros tempo que vivem em Acari, de 1974 á 1978 vivia muito mais tempo fora que dentro da Favela.
Só em 1977 quando entrei parao Grupo de Danças Populares do GRANES QUILOMBO é fui ficando mais e vivendo mais Acari.
Ao mesmo tempo passei a fazer parte da Ala Alambique liderada pelo ator e cineasta Zózimo Bulbul onde desfilavam a maioria dos atores e ativistas culturais negros da época.
No Grupo de Dança a maioria dos participantes, mais de 40, eram mulheres.
Entrei para a Ala de Compositores em 1978 e logo, em 1979. assumi a Vice-Presidencia da Associação de Moradores do Parque Acari.
Estar ao mesmo tempo no grupo de dança, na alambique, na ala de compositores e na associação de moradores meu me deu o raro previlégio de partilhar das coisas da juventude, dos mais- velhos e das mulheres acarienses, uma vez que, como donas de casa, elas ficavam mais tempo na comunidade e portanto eram elas que mais recorriam a associação de
Moradores pra solicitar os serviços.
Com os homens da favela, pelo menos na associação, os contatos eram mais de seis em seis meses quando se fazia as assembléias gerais.
Foi na sede da Associação de Moradores do Parque Acari que aprendi que as mulheres da Comunidade são as mais importantes guardiães e multiplicadoras da memória histórica e sociocultural.
Quando finalmente decidi fazer meu blog minha intenção principal é registrar o que puder dessa memória já que varias dessas mulheres já estão se “indo” e as mais jovens dão sinais evidentes de amnésia cultural.
Não tenho nenhuma pretensão de substituir a mulhereda.
Só estou fazendo a mnha parte de fiel servo das suas mais públicas e mais íntimas vontades... politicas, sociais, culturais, sensoais, sensoriais e mesmo sensuais.
O que não tem sido facil, já que a violência dos homens insiste a me forçar mais a militância anti-violência e pelos direitos humanos que á poesia e a animação cultural de uma maneira geral e em especial a pró-feminista.
Mas mesmo assim, parece que agora, com o blog, a poesia, a animação cultural e o pró-feminismo, como armas de luta libertária vão voltar, depois de mais de 15 em segundo plano, a frente das minhas “correrias”.
NÃO HÁ UM CANTO DA FAVELA

Não há um
canto de favela
que não guarde
uma história.

Não há
um canto
de favela
que não tenha
um conto
pra contar.

Não há
um canto
de favela
que não guarde
histórias
nas marcas
da ultima
enchente nas
paredes dos
barracos
que levou
agua á baixo
tvsvideosgeladeiras
armários,
roupaspanelas
que ficou-se
devendo prestações
mas com sorte
saiu-se
com vida.

Não há
um canto
da favela
um cantinho
de viela
que não guarde
ainda os sons
das vozinhas femininas
infantis
brincando
de casinha e Bárbie
até uma
sairavada de AR-15
botar todo mundo
embaixo da mesa
da cozinha
longe do lugar
da bala perdida
achar um.

Não há
um canto
da favela
que não guarde
as vozes sussurradas
dos meninos
contando
a boca miúda
os feitos lendários
de Jotaélli
quando da retomada
épica do seu
Reino d'Pó
das parades do Acari.

Não há
um canto
da favela


que não guarde
o testemunho
choroso
de um irmão em Deus
subitamente
per'vertido a fé cristã
depois de tantas
dores e horrores
que infligiu
aos seus inimigos
e suas familias
aqui na Terra.

FAVELA: CEM ANOS.

Tá visto que em cem anos de favela
muito sangue de moprte banhou
as terras batidas de becos, ruas e vielas.

Mas tá visto também que na favela
há muito mais mulher que a gente
e muita menina vira moça toda hora, todo dia
se vendo meio que assustada e maravilhada
pela primeira vez menstruada.

Vai daí, que por benção de Mãe Oxum,
essa saguinolência toda que jorra na favela
por cem anos a fio, filetes e chimvicas,
tem sido muito menos da certeza da morte
e muito mais da verdade da possibilidade da vida.

Daí que, pela graça de Mãe Oxum,
nafavela, centenariamente, se sangra ainda
muito mais da divina maravilha da criação
que dos horrores letais das chacinas.
MEMÓRIA FAVELA: MULHER!

“Entre hoje e o amanhã corre um rio
Que nos alerta: nas águas de quem oprime não navega quem liberta”
Renato Teixeira cantado por
Pena Branca e Xavantinho.

De favela em favela
Os homens vivem cada vez menos
Já que se matam cada vez mais
as mulheres vivem cada vez mais
Já que quase nunca se matam...
Nem mais, nem menos.
De favela em favela
Quem vive mais conta mais
Quem vive pouco não resta
Nem o evento da própria morte pra contar.
As mulheres que estão vivendo mais,
Cada vez mais vão ficando pra contar
Das vidas e das mortes e muito mais:
Sobre a existência toda que pulsa
Pungente no tempo que passa...
Do que se nasce pra vida
Até pro que se morre pra
Uma outra vida... se há.
Assim, cada vez mais a memória da favela sobrevive
Dum jeito de lembrar feminino.
Só que a mulher da favela
Não conta a favela com a voz da razão.
Pras dizer a verdade
Ela diz a favela. Ao contrário
Do senso comum, ela sensualiza
Sensualizando a favela... tipo
O pensamento parece uma coisa à toa
Mas como é que a gente voa
Quando começa a pensar.
Na memória da favela
É prestar atenção no que diz
A mulher da favela
Mas há que prestar atenção no que
Ela ‘não diz’ da favela.
Ao memorizar a favela,
É neste ‘não dizer’ que está
A verdadeira memória da favela.
A memória mulher da favela
Não é a mesma memóriamachofavela...
Não é também tesededoutoradofeminista
Nem documnetáriopraestaçãounibanco...
A memória mulher da favela
Tem carne e sangue, tem gosto e desgosto,
Tem odor e tem dor, tem idoneidade e felicidade.
A memória mulher da favela menstrúa.
É fisicamente palpável, cafunesável, visível.
A memória mulher da favela
Copula, fica molhadinha, goza
E concebe... e brota nas cozinhas,
Nas portas de rua... e nas rodas de cerveja
Se oraliza e se faz verbo
Como uma cria de parto normal
E não num parto absurdo de
Uma pesquisa de campo.
A memória mulher da favela
Por mais trágica e dolorida
Que venha ser a lembrança
É sempre uma saudade meiga
Que Dolores cantava.
A memória mulher da favela
Faz a saudade esperança do passado
Faz esperança saudade do futuro.
A memória mulher da favela
É cabeça e coração,
Razão e emoção.
Mas, em tudo, que tudo por tudo
A memóira mulher da favela...
É útero!
E, em sendo uterina, cada morte
Por mais trágica, é só uma virgulinha
Dentre milhões de ?s, !s e... s
Em sendo uterina,
A memória mulher da favela
Nunca no final do parágrafo
Há ponto final. Há sempre dois pontos:
E o que vem depois dos dois pontos?!
Ouça o que diz a mulher da favela...
Mas há que prestar atenção
No “o-não-dizer” da mulher da favela
E, ou melhor, :


terça-feira, 21 de julho de 2009

COMMODITY BLACK GIRLS

Não sou professor de educação física, fisiologista ou coisa parecida. Sou um treineiro de terreno baldio.
Esses assuntamentos que se segue são assim mais pra devaneios culturais políticos de um velho comunista feitos de enuviadas e enebriadas lembranças.

Madrugada dum mês de janeiro de 1986, mesa de barraquinha em frente ao portelão: componentes da mesa: tiburcio maia, compositor do quilombo, ari araújo, sociólogo, pesquisador, joão saldanha e eu, pato novo no samba, vice-presidente da ala de compositores do quilombo.
Pauta da reunião: copa do mundo de 1986 e quantas seleções africanas passariam para a oitas de final. Concenso: se o brasil não se classicasse, o que era improvável, a gente passaria a torcer pra seleção que tivesse mais crioulo além da do brasil, muito provavelmente a frança, se não fosse um seleção africana.

Ari Araújo defendia a tese e que: a bola é um corpo que se equilibra no chão sobre a parte menor do seu corpo.
No que joão saldanha completava: é por isso que os negros são feras no futebol, a bola é uma bailarina, e todo crioulo é meio bailarino.
Nesta época eu já estava irremediavelmente contaminado pelo feminismo negro socialista de camaradas do MNU como Lélia Gonzáles, luzia e do NZINGA Coletivo de Mulheres Negras muitas desse grupo hoje fazem parte do Crioula.
Sob o efeito desse doce veneno, pensei e questionar joão saldanha mostrando a ele sua contradição, já que ele era contra mulher jogar futebol mas ao mesmo tempo “avalizava” a tese do Ari. Mas, melhor não, síria muita ousadia tava conhecendo o velho guru aquela hora, em talvez não fosse a melhor hora. Hora essa que veio, quando visitei joão, internado, com problemas de respiração depois de voltar da cobertura de um jogo nas altitudes dos andes.
Mas depois dá pra falar disso com mais calma. Agora quero aproveitar a navegação dessas lembranças pra assuntar com meu umbigo, ceixando vocês de voyer “escritivos”: - Se a teses cientificas de joão e ari estão certas, como acredito que estão, se as meninas de favela e periferia, na roça, nas comunidades quilombolas, tiverem oportunidades iguais ao meninos de jogar futebol, desde os 3,4 anos de idade, são grandes as chances de termos muito mais martas, pretinhas, formigas,etc

Só que então elas vão passar a enfrentar os mesmos problemas quês os meninos, serem alvos e caçadores de craques-bebes, como eles.
Mas não só os mesmos problemas que eles, mas mais os problemas que geralmente a mulher enfrenta quando começa a conquistar espaços em profissioes que a cultura machista consagrou serem pra macho... futebol é pra homem, não é esse o mote? Além de serem alvos mais fáceis de pedófilos travestidos de técnicos, empresários,etc.

Além disso meninas, depois dos 11, 12 anos, até antes, passam a ter, não problemas, mas especificidades que os meninos quando atingem a mesma idade não tem, ou se tem, não afeta tanto o corpo.
O fato é que se as meninas tiverem as mesmas oportunidades que os meninos, desde as primeira infância, e como até uns 12,13 anos prevalessem as habilidades á força física... elas vão se dar bem, não individualmente, ou por acaso, ou esforço próprio, só com ajuda da família duns amigos, como é o caso de marta. Mas vão se dar bem coletivamente.

Mas, aí vem um problema: no que diz que o jogador de futebol hoje é uma commodity, e o brasil o maior exportador e comodity do mundo, pela primeira vez depois de 121 anos de extinta legalmente a escravidão, alguém da credibilidade, do pesquisador centro internnacional e estudos do futebol, admite que serem humanos são mercaorias.
A entrada de meninas negras no mundo do futebol, coisa boa, legal, também as transforma em commodity como os meninos negros.

A Esquerda ortodoxa stalinista brasileira, e também a trokitsta reformistas, eita, redunancia, repetiram cem mil vezes, que o futebol é ópio do povo, que muitos de nós acreitamos nisso, como verdade absolutista, dogma. Até hoje, novos e novas esquerdistas torcem o nariz para o futebol, inclusive camaradas negros socialistas ,comunistas, e não dão importância a ele nos seus partidos socialistas, mandatos políticos, ongs ecorganizações de esquerda.
E deixam campo livre para que a direita use o futebol outros esportes pra suas políticas clientelistas, assistencialistas, compensatórias e salacionistas, e principamente, de fortificação da hegemonia burguesa, branca, racista e neoescrata sobre a gente negra e branca pobre oprimida.

Quem esta vendo a copa das confederações na áfrica do sul, dá só uma prestadinha de atenção, numa menssagem da fifa: a entidade e uma ong, estão implantando uns vinte, centros de futabol por toda áfrica. Estes centros serão bancados por grandes multinacionais do esporte como nike, adidas e outras... as mesmas que exploram mão de obra escrava no paquistão, na tailândia, na china.
Logo logo, não só o brasil, mas muitos paises africanos, serão exportadores de commoditys para o futebol mundial, quer dizer europeu, craques-bebes que serão exportados de seus paises, por alguns milhares de euros, ou dólares pra uns dois três anos, cinco no maximo serem venedidos ou revendidos por 1000, milhão mais.

O problema nosso é que, nós, negros da diáspora, estamos ainda tão marcados e traumaitizados e dororidos, com os 500 anos de escravidão passados, que nem estamos ainda sentido os grilhões e as dores das escridões modernas e futuras.
O futebol, pode até ser ópio do povo, mas como o ópio e outras especiarias, é uma das formas de trabalho escravo do 3 milenio.
E é preciso que a companheirada e os e as camaradas negros e branco/as revolucionariios, troks’refomistas se liguem nisso. Geral,
E em patircular as companheiras e camaradas negras e brancas feministas socialistas e comunistas.

POETA CONCEIÇÃO EVARISTO:VISIVEIS PORÉM ESTEREOTIPADOS


Bruno Dorigatti · Rio de Janeiro (RJ) · 29/11/2008 15:44 · 48 votos
Publicado originalmente no
Boletim PPCor - Políticas da Cor na Educação Brasileira, abr/maio 2007.
Está é opinião da Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Conceição Evaristo a respeito dos negros na literatura brasileira. Segundo ela, "não pesa uma invisibilidade sobre o negro, mas sim estereotipia. A literatura brasileira está repleta de personagens negras, tanto no verso, como na prosa. O que há é uma estereotipia do negro nos textos literários". E ela cita, entre outros, Gregório de Matos, José de Alencar, Graciliano Ramos, Jorge Amado."O que existe é uma representação deprimente sobre nós negros." Porém, acrescenta ela, "se procurarmos somente a afro-descedência, vários autores tiveram papel marcante na literatura brasileira", como Castro Alves, Manuel da Silva Alvarenga, Gonçalves Dias, Teixeira e Souza – autor do primeiro romance brasileiro –, Gonçalves Crespo, a poetisa Auta de Souza, Paula Brito, poeta, contista, novelista, tradutor e iniciador do movimento editorial no Brasil e primeiro editor de Machado de Assis, Mário de Andrade. Já entre os que assumem e escancaram a ascendência, a partir dos anos 1920, estão Lino Guedes, Solano Trindade, Abdias do Nascimento, Adão Ventura, Edimilson de Almeida, Ricardo Aleixo, Waldemar Euzébio, Carlos Assunção, Oswaldo de Camargo, Paulo Colina, Cuti, Oliveira Silveira, Marcio Barbosa, Jamu Minka, Oubi Inaê Kibuco, José Carlos Limeira, Landê Onawale, Semog (Luis Gomes), Salgado Maranhão, Nei Lopes, dentre outros, contistas, poetas e também estudiosos, pesquisadores da cultura afro-brasileira, não esquecendo das mulheres, como Geni Guimarães, Miriam Alves, Esmeralda Ribeiro, Ana Cruz, Lia Vieira, Mãe Beata de Yemonjá, Ana Maria Gonçalves, Cidinha da Silva, Maria Helena Vargas da Silveira.Leia a íntegra da entrevista abaixo.Ainda hoje são pouco conhecidas personalidades que fazem parte do histórico de luta da população negra no Brasil ao longo dos séculos. Na Literatura Brasileira também é possível perceber a influência de escritores negros na luta contra a discriminação?Conceição Evaristo. Sim, sem qualquer dúvida. Creio que uma leitura mais atenta de vários textos de escritores negros ao longo da literatura brasileira nos fornece essa resposta. Alguns conseguiram criar um discurso literário marcadamente opositor à mentalidade da época. Por exemplo, Caldas Barbosa (1738-1800), famoso por seus lundus, ainda no Brasil Colônia, tenta responder, por meio de versos, aos vários insultos que recebia, como o de ser descendente da “nojenta prole da rainha ginga”, dirigido contra ele pelo poeta português Bocage (1765-1805). Poetas, romancistas como Luiz Gama, Cruz e Souza, Lima Barreto, Lino Guedes, Solano Trindade e muitos dos escritores contemporâneos, incansavelmente, produzem obras que auxiliam e que valem mesmo como discurso contra o racismo.Quais são os autores ou obras brasileiras que a senhora destacaria em função da presença da discussão racial ou outras manifestações de luta da população negra? E que autores foram esquecidos por nossa literatura?Conceição Evaristo. O primeiro que eu destacaria seria Luiz Gama (1830-1882). Com seus poemas satíricos, aponta na sociedade da época a pretensão racista de se constituir e de se apresentar como uma sociedade branca. Cruz e Souza (1861-1898), com a sua negritude angustiada. O grande poeta simbolista do Brasil morre em estado total de miséria, esquecido pela crítica da época. E quando recuperado, é apontado como um poeta que tenta escapar de sua condição étnica – conclusão tirada a partir de certas metáforas que Cruz e Souza utilizava nas construções de seus versos. Criações importantes do poeta foram deixadas no esquecimento, ou melhor, no desconhecimento, como “Núbia” e o poema em prosa “Emparedado”, em que a voz autoral negra do poeta se faz ouvir. Referência maior talvez seja a de Lima Barreto (1881-1922). Desprezado por muito tempo pela crítica literária, mas nas últimas décadas já se encontra plenamente recuperado pelas pesquisas acadêmicas. Lima Barreto segundo o seu biógrafo Regis de Morais, denominava o espaço familiar em que vivia como “Vila Quilombo”. Ao meu ver, ele é o escritor que mais, contundentemente, coloca o dedo na ferida do racismo brasileiro. Sua obra, notadamente em Recordações do Escrivão Isaias Caminha e em Clara dos Anjos, proporciona várias discussões sobre os modos das relações raciais da sociedade brasileira. Em 1903, em seu Diário Íntimo, Lima Barreto relatava o desejo de escrever sobre a escravidão no Brasil, e a influência desse processo na nacionalidade brasileira. Em 1905, o escritor volta a registrar a mesma idéia. Queria escrever um romance que falasse da vida e do trabalho dos negros em uma fazenda. E não podemos esquecer a escritora maranhense, Maria Firmina dos Reis, (1825-1917) também muito pouco conhecida. Os compêndios tradicionais da historiografia da literatura brasileira não citam a escritora. Há, entretanto estudos que apontam Maria Firmina como a autora do primeiro romance abolicionista, Úrsula, escrito por uma mulher. Registros comprovam a presença dela em jornais maranhenses publicando poesias, contos, crônicas e também como compositora de um hino para a abolição da escravatura, segundo informações do pesquisador de literatura afro-brasileira, Profº Eduardo de Assis da UFMG.Ao longo do processo histórico e social de constituição da nossa sociedade, em muitas áreas, o negro foi invisibilizado. A senhora percebe este processo de invisibilidade do negro nas obras de Literatura Brasileira, assim como na área acadêmica? Como isso acontece?Conceição Evaristo. Se a pergunta for sobre o negro como personagem, eu me arriscaria a dizer que nesse sentido não pesa uma invisibilidade sobre o negro, mas sim estereotipia. A literatura brasileira está repleta de personagens negras, tanto no verso, como na prosa. O que há é uma estereotipia do negro nos textos literários. Gregório de Matos (1623-1696) já compõe uma representação da mulher africana escravizada em seus poemas. De seus versos afloram o desprezo pelos mestiços e o apetite sexual que os portugueses tinham pelas mulatas. A literatura brasileira segue ao longo do tempo difundindo estereótipos de negros em várias obras. Textos escritos no passado e na contemporaneidade repetem, revitalizam, reatualizam estereótipos tais como: o do negro Pai-João, o da Mãe-Preta, o do negro preguiçoso, libidinoso, o do negro infantilizado, o da mulher negra boa de cama, o da mulata fogosa, permissiva, etc, etc. É só atentarmos para personagens como: Pai Benedito, em Tronco do Ipê, de José de Alencar (1829-1877), infantilizado pela incompetência lingüística para articular a “língua de branco”. O mesmo estereótipo aparece na obra São Bernardo, de Graciliano Ramos (1892-1953). A personagem Casemiro, aliás, uma retomada do estereótipo do escravo fiel, aparece retratada como alguém possuidor de uma dificuldade de linguagem. Na narrativa, se lê que Casimiro mal articulava poucas palavras, e quando estava contente “aboiava”. Rita Bahiana e Bertoleza, em O Cortiço de Aluisio de Azevedo, (1857-1913) são imagens estereotipadas de mulheres negras. A primeira é desenhada como a mulata em que tudo nela é sexualizado, do corpo à voz. A segunda surge idiotizada, animalizada e “morre focinhando”, segundo a narrativa. Por sua vez, Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado, (1912- 2001) representa uma mulher-natureza, incapaz de entender qualquer norma social. Nessas e outras obras da literatura brasileira, normalmente, as personagens negras surgem estereotipadas em concordância com a maneira como o negro é percebido pela sociedade. Não há uma ausência do negro e da cultura negra nos textos literários brasileiros. O que existe é uma representação deprimente sobre nós negros. Nesse sentido, é preciso pensar que a cultura dominante tem o poder de se representar e de representar as outras culturas circundantes. Se pensarmos na invisibilidade do escritor negro, temos de levantar ainda uma outra questão: a do processo de branqueamento que certos indivíduos sofrem quando circulam; quando vivem em espaços sociais tidos como “lugares de branco”. A instituição literária é lugar de uma maioria branca e do sexo masculino. O processo de branqueamento que Machado de Assis sofreu é exemplar. Desde a transfiguração de seus retratos, como a pouca circulação dos textos em que Machado traz a questão da escravidão. Por isso, esperamos com muita ansiedade um trabalho de pesquisa, feito por um professor da Federal de Minas, já citado nessa entrevista. Esse estudo pretende trazer textos jornalísticos de Machado assinado por pseudônimo, em que o fundador da Academia Brasileira de Letras, se coloca diante da questão escravocrata. Mas, os críticos literários, até hoje, optam por apontar um Machado de Assis branco. Há uma gama de escritores negros, e aqui eu estou incluindo os mestiços, que nós desconhecemos. Castro Alves, Manuel da Silva Alvarenga, Gonçalves Dias, Teixeira e Souza – autor do primeiro romance brasileiro –, Gonçalves Crespo, a poetisa Auta de Souza, Paula Brito, poeta, contista, novelista, tradutor e iniciador do movimento editorial no Brasil. Foi ele o primeiro editor de Machado de Assis. Paula Brito e outros trazem uma ascendência africana ou indígena que raramente aparece destacada. O modernista Mário de Andrade era mulato. Reafirmo que, se procurarmos somente a afro-descedência, vários autores tiveram papel marcante na literatura brasileira. Entretanto, quando pensamos na assunção dessa ascendência, como um dado para a própria escrita, nomeamos aqueles/as, cuja referência de datação se coloca a partir dos anos 20 até a contemporaneidade. São escritores/as que trazem uma escrita profundamente marcada por suas experiências de afro-descendente. Começamos por Lino Guedes que assume uma “negritude” em seus textos, mesmo que de forma lamentosa. Solano Trindade, por declamar: “negros que exploram negros não são meus irmãos”. Abdias do Nascimento, pela contundência de seu discurso poético em consonância com o seu discurso político. Adão Ventura, um dos primeiros que conheci no exercício de poetar as dores do negro mineiro. Edimilson de Almeida, Ricardo Aleixo, Waldemar Euzébio, poetas mineiros de agora. Carlos Assunção, Oswaldo de Camargo, Paulo Colina, Cuti, Oliveira Silveira, Marcio Barbosa, Jamu Minka, Oubi Inaê Kibuco, José Carlos Limeira, Landê Onawale, Semog (Luis Gomes), Salgado Maranhão, Nei Lopes, dentre outros, contistas, poetas e também estudiosos, pesquisadores da cultura afro-brasileira. As mulheres, Geni Guimarães, Miriam Alves, Esmeralda Ribeiro, Ana Cruz, Lia Vieira, Mãe Beata de Yemonjá, Ana Maria Gonçalves, Cidinha da Silva, Maria Helena Vargas da Silveira e outras, contistas, poetisas, romancistas, cronistas, nomes, que aparecerão com mais vigor na cena literária, quando estudiosos atentos às diversidades da cultura e da literatura brasileira se debruçarem sobre o novo. Uma geração novíssima vem despontando em Cadernos Negros, cito alguns nomes: Andréia Lisboa de Souza, Atiely Santos, Cristiane Sobral, Allan da Rosa. E não posso deixar de citar aqui o nome de Carolina Maria de Jesus que, audaciosamente, a partir de restos de papel e lixo, feriu a pretensão brasileira que procura fazer uma “assepsia” na literatura, tanto do ponto de vista da temática, como no da linguagem.Quais as contribuições, na sua opinião, que a lei 10.639/2003 pode exercer no ensino de Literatura e Língua Portuguesa na educação brasileira? Existe material didático com abordagem sobre essa questão nesta área?Conceição Evaristo. A obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no ensino fundamental e médio, oficial e particular, sem dúvida alguma, abre um espaço de visibilidade aos aspectos poucos difundidos das culturas africanas e afro-brasileira. É preciso forjar um reconhecimento de que as culturas africanas, aqui aportadas, são formadoras da nacionalidade brasileira e não meras contribuições. A presença do negro na cultura e no pensamento nacional extrapola o espaço da arte relacionada ao canto, à dança, à culinária. Creio que a lei 10.639/2003 proporciona, ou melhor, exige, que se tenha um olhar mais diversificado sobre literatura brasileira. Há autores e textos negros que são estudados, mas a partir de uma ótica euro-cêntrica. Procura-se, inventa-se um lado branco para esses autores, assim como para os seus trabalhos. Hoje, novos textos estão chegando ao mercado, e uma nova maneira de lidar com esses textos está sendo levada, (ainda em pequena escala, reconheço] aos professores. Uma escrita que trata dignamente o universo histórico, cultural, político e religioso negro pede e força passagem. É lógico que o mercado editorial e livreiro é impulsionado pelo lucro, pelo retorno e não pela questão ideológica, mas no momento, abre-se uma brecha. As editoras estão hoje mais propensas a investir em obras que desenvolvem temáticas relativas às culturas africanas e afro-brasileiras. Quanto à divulgação dos textos afro-brasileiros em grande escala, temos algumas novidades. Cadernos Negros – melhores poemas foi uma das obras selecionadas no vestibular da UFBA, desse ano. Anteriormente, um livro de poesia de Edimilson de Almeida e de Ricardo Aleixo, Roda do Mundo, apareceu incluído no vestibular da UFMG. Ano passado, foi o livro de Waldemar Euzébio, Achados, que foi incluído no vestibular da cidade de Montes Claros. E em 2008, o vestibular da UFMG trará o romance Ponciá Vicêncio, de minha autoria. A presença de obras como essas no vestibular, penso eu, ecoa os efeitos da 10.639. E quais as significações e quais efeitos da inclusão de um desses livros no vestibular? Várias. Uma delas, sem dúvida, é a possibilidade de ampliação do universo de leitores, entre alunos e professores.Qual a importância da Literatura Africana na Língua Portuguesa e na Literatura Brasileira?Conceição Evaristo. Creio que essa pergunta coloca dois níveis de questões distintas. Eu diria que a importância das Literaturas Africanas na Língua Portuguesa estaria na possibilidade de ampliação de sentidos da própria língua portuguesa. Os escritores africanos que herdaram da colonização portuguesa, como nós herdamos, o idioma português, fazem “maravilhas”, produzem novos efeitos estéticos com uma língua que, desde que emigrou da metrópole para as suas antigas colônias, deixou de ser só a língua de Camões. Transformou-se em uma língua que ganhou novos donos, novas marcas culturais, diversificou-se, enriqueceu-se ao misturar-se com locais falares, por onde ela aportava. Falamos, todos nós, uma mesma língua. Falamos e não falamos... E do ponto de vista da linguagem, nesse falar e não falar a mesma língua portuguesa reside, muitas vezes, o fundamento estético dos textos africanos. A segunda pergunta, talvez seja preciso inverter. Seria qual a importância da literatura brasileira nas literaturas africanas? Interessante observar que os escritores brasileiros, notadamente os modernistas, tiveram uma grande influência nas literaturas africanas de língua portuguesa. Jorge Amado, Guimarães Rosa, o poeta Manuel Bandeira e outros marcaram a escrita de escritores africanos. Há vários textos africanos que dialogam com uma escrita brasileira. Só para exemplificar, podemos pensar na escrita do angolano Luandino Vieira e do moçambicano Mia Couto.tags: Rio de Janeiro RJ literatura literatura-brasileira negro negros representacao invisibilidade literatura-africana
Artigos
Visíveis, porém estereotipados
Bruno Dorigatti · Rio de Janeiro (RJ) · 29/11/2008 15:44 · 48 votos
Publicado originalmente no
Boletim PPCor - Políticas da Cor na Educação Brasileira, abr/maio 2007.Está é opinião da Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Conceição Evaristo a respeito dos negros na literatura brasileira. Segundo ela, "não pesa uma invisibilidade sobre o negro, mas sim estereotipia. A literatura brasileira está repleta de personagens negras, tanto no verso, como na prosa. O que há é uma estereotipia do negro nos textos literários". E ela cita, entre outros, Gregório de Matos, José de Alencar, Graciliano Ramos, Jorge Amado."O que existe é uma representação deprimente sobre nós negros." Porém, acrescenta ela, "se procurarmos somente a afro-descedência, vários autores tiveram papel marcante na literatura brasileira", como Castro Alves, Manuel da Silva Alvarenga, Gonçalves Dias, Teixeira e Souza – autor do primeiro romance brasileiro –, Gonçalves Crespo, a poetisa Auta de Souza, Paula Brito, poeta, contista, novelista, tradutor e iniciador do movimento editorial no Brasil e primeiro editor de Machado de Assis, Mário de Andrade. Já entre os que assumem e escancaram a ascendência, a partir dos anos 1920, estão Lino Guedes, Solano Trindade, Abdias do Nascimento, Adão Ventura, Edimilson de Almeida, Ricardo Aleixo, Waldemar Euzébio, Carlos Assunção, Oswaldo de Camargo, Paulo Colina, Cuti, Oliveira Silveira, Marcio Barbosa, Jamu Minka, Oubi Inaê Kibuco, José Carlos Limeira, Landê Onawale, Semog (Luis Gomes), Salgado Maranhão, Nei Lopes, dentre outros, contistas, poetas e também estudiosos, pesquisadores da cultura afro-brasileira, não esquecendo das mulheres, como Geni Guimarães, Miriam Alves, Esmeralda Ribeiro, Ana Cruz, Lia Vieira, Mãe Beata de Yemonjá, Ana Maria Gonçalves, Cidinha da Silva, Maria Helena Vargas da Silveira.Leia a íntegra da entrevista abaixo.Ainda hoje são pouco conhecidas personalidades que fazem parte do histórico de luta da população negra no Brasil ao longo dos séculos. Na Literatura Brasileira também é possível perceber a influência de escritores negros na luta contra a discriminação?Conceição Evaristo. Sim, sem qualquer dúvida. Creio que uma leitura mais atenta de vários textos de escritores negros ao longo da literatura brasileira nos fornece essa resposta. Alguns conseguiram criar um discurso literário marcadamente opositor à mentalidade da época. Por exemplo, Caldas Barbosa (1738-1800), famoso por seus lundus, ainda no Brasil Colônia, tenta responder, por meio de versos, aos vários insultos que recebia, como o de ser descendente da “nojenta prole da rainha ginga”, dirigido contra ele pelo poeta português Bocage (1765-1805). Poetas, romancistas como Luiz Gama, Cruz e Souza, Lima Barreto, Lino Guedes, Solano Trindade e muitos dos escritores contemporâneos, incansavelmente, produzem obras que auxiliam e que valem mesmo como discurso contra o racismo.Quais são os autores ou obras brasileiras que a senhora destacaria em função da presença da discussão racial ou outras manifestações de luta da população negra? E que autores foram esquecidos por nossa literatura?Conceição Evaristo. O primeiro que eu destacaria seria Luiz Gama (1830-1882). Com seus poemas satíricos, aponta na sociedade da época a pretensão racista de se constituir e de se apresentar como uma sociedade branca. Cruz e Souza (1861-1898), com a sua negritude angustiada. O grande poeta simbolista do Brasil morre em estado total de miséria, esquecido pela crítica da época. E quando recuperado, é apontado como um poeta que tenta escapar de sua condição étnica – conclusão tirada a partir de certas metáforas que Cruz e Souza utilizava nas construções de seus versos. Criações importantes do poeta foram deixadas no esquecimento, ou melhor, no desconhecimento, como “Núbia” e o poema em prosa “Emparedado”, em que a voz autoral negra do poeta se faz ouvir. Referência maior talvez seja a de Lima Barreto (1881-1922). Desprezado por muito tempo pela crítica literária, mas nas últimas décadas já se encontra plenamente recuperado pelas pesquisas acadêmicas. Lima Barreto segundo o seu biógrafo Regis de Morais, denominava o espaço familiar em que vivia como “Vila Quilombo”. Ao meu ver, ele é o escritor que mais, contundentemente, coloca o dedo na ferida do racismo brasileiro. Sua obra, notadamente em Recordações do Escrivão Isaias Caminha e em Clara dos Anjos, proporciona várias discussões sobre os modos das relações raciais da sociedade brasileira. Em 1903, em seu Diário Íntimo, Lima Barreto relatava o desejo de escrever sobre a escravidão no Brasil, e a influência desse processo na nacionalidade brasileira. Em 1905, o escritor volta a registrar a mesma idéia. Queria escrever um romance que falasse da vida e do trabalho dos negros em uma fazenda. E não podemos esquecer a escritora maranhense, Maria Firmina dos Reis, (1825-1917) também muito pouco conhecida. Os compêndios tradicionais da historiografia da literatura brasileira não citam a escritora. Há, entretanto estudos que apontam Maria Firmina como a autora do primeiro romance abolicionista, Úrsula, escrito por uma mulher. Registros comprovam a presença dela em jornais maranhenses publicando poesias, contos, crônicas e também como compositora de um hino para a abolição da escravatura, segundo informações do pesquisador de literatura afro-brasileira, Profº Eduardo de Assis da UFMG.Ao longo do processo histórico e social de constituição da nossa sociedade, em muitas áreas, o negro foi invisibilizado. A senhora percebe este processo de invisibilidade do negro nas obras de Literatura Brasileira, assim como na área acadêmica? Como isso acontece?Conceição Evaristo. Se a pergunta for sobre o negro como personagem, eu me arriscaria a dizer que nesse sentido não pesa uma invisibilidade sobre o negro, mas sim estereotipia. A literatura brasileira está repleta de personagens negras, tanto no verso, como na prosa. O que há é uma estereotipia do negro nos textos literários. Gregório de Matos (1623-1696) já compõe uma representação da mulher africana escravizada em seus poemas. De seus versos afloram o desprezo pelos mestiços e o apetite sexual que os portugueses tinham pelas mulatas. A literatura brasileira segue ao longo do tempo difundindo estereótipos de negros em várias obras. Textos escritos no passado e na contemporaneidade repetem, revitalizam, reatualizam estereótipos tais como: o do negro Pai-João, o da Mãe-Preta, o do negro preguiçoso, libidinoso, o do negro infantilizado, o da mulher negra boa de cama, o da mulata fogosa, permissiva, etc, etc. É só atentarmos para personagens como: Pai Benedito, em Tronco do Ipê, de José de Alencar (1829-1877), infantilizado pela incompetência lingüística para articular a “língua de branco”. O mesmo estereótipo aparece na obra São Bernardo, de Graciliano Ramos (1892-1953). A personagem Casemiro, aliás, uma retomada do estereótipo do escravo fiel, aparece retratada como alguém possuidor de uma dificuldade de linguagem. Na narrativa, se lê que Casimiro mal articulava poucas palavras, e quando estava contente “aboiava”. Rita Bahiana e Bertoleza, em O Cortiço de Aluisio de Azevedo, (1857-1913) são imagens estereotipadas de mulheres negras. A primeira é desenhada como a mulata em que tudo nela é sexualizado, do corpo à voz. A segunda surge idiotizada, animalizada e “morre focinhando”, segundo a narrativa. Por sua vez, Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado, (1912- 2001) representa uma mulher-natureza, incapaz de entender qualquer norma social. Nessas e outras obras da literatura brasileira, normalmente, as personagens negras surgem estereotipadas em concordância com a maneira como o negro é percebido pela sociedade. Não há uma ausência do negro e da cultura negra nos textos literários brasileiros. O que existe é uma representação deprimente sobre nós negros. Nesse sentido, é preciso pensar que a cultura dominante tem o poder de se representar e de representar as outras culturas circundantes. Se pensarmos na invisibilidade do escritor negro, temos de levantar ainda uma outra questão: a do processo de branqueamento que certos indivíduos sofrem quando circulam; quando vivem em espaços sociais tidos como “lugares de branco”. A instituição literária é lugar de uma maioria branca e do sexo masculino. O processo de branqueamento que Machado de Assis sofreu é exemplar. Desde a transfiguração de seus retratos, como a pouca circulação dos textos em que Machado traz a questão da escravidão. Por isso, esperamos com muita ansiedade um trabalho de pesquisa, feito por um professor da Federal de Minas, já citado nessa entrevista. Esse estudo pretende trazer textos jornalísticos de Machado assinado por pseudônimo, em que o fundador da Academia Brasileira de Letras, se coloca diante da questão escravocrata. Mas, os críticos literários, até hoje, optam por apontar um Machado de Assis branco. Há uma gama de escritores negros, e aqui eu estou incluindo os mestiços, que nós desconhecemos. Castro Alves, Manuel da Silva Alvarenga, Gonçalves Dias, Teixeira e Souza – autor do primeiro romance brasileiro –, Gonçalves Crespo, a poetisa Auta de Souza, Paula Brito, poeta, contista, novelista, tradutor e iniciador do movimento editorial no Brasil. Foi ele o primeiro editor de Machado de Assis. Paula Brito e outros trazem uma ascendência africana ou indígena que raramente aparece destacada. O modernista Mário de Andrade era mulato. Reafirmo que, se procurarmos somente a afro-descedência, vários autores tiveram papel marcante na literatura brasileira. Entretanto, quando pensamos na assunção dessa ascendência, como um dado para a própria escrita, nomeamos aqueles/as, cuja referência de datação se coloca a partir dos anos 20 até a contemporaneidade. São escritores/as que trazem uma escrita profundamente marcada por suas experiências de afro-descendente. Começamos por Lino Guedes que assume uma “negritude” em seus textos, mesmo que de forma lamentosa. Solano Trindade, por declamar: “negros que exploram negros não são meus irmãos”. Abdias do Nascimento, pela contundência de seu discurso poético em consonância com o seu discurso político. Adão Ventura, um dos primeiros que conheci no exercício de poetar as dores do negro mineiro. Edimilson de Almeida, Ricardo Aleixo, Waldemar Euzébio, poetas mineiros de agora. Carlos Assunção, Oswaldo de Camargo, Paulo Colina, Cuti, Oliveira Silveira, Marcio Barbosa, Jamu Minka, Oubi Inaê Kibuco, José Carlos Limeira, Landê Onawale, Semog (Luis Gomes), Salgado Maranhão, Nei Lopes, dentre outros, contistas, poetas e também estudiosos, pesquisadores da cultura afro-brasileira. As mulheres, Geni Guimarães, Miriam Alves, Esmeralda Ribeiro, Ana Cruz, Lia Vieira, Mãe Beata de Yemonjá, Ana Maria Gonçalves, Cidinha da Silva, Maria Helena Vargas da Silveira e outras, contistas, poetisas, romancistas, cronistas, nomes, que aparecerão com mais vigor na cena literária, quando estudiosos atentos às diversidades da cultura e da literatura brasileira se debruçarem sobre o novo. Uma geração novíssima vem despontando em Cadernos Negros, cito alguns nomes: Andréia Lisboa de Souza, Atiely Santos, Cristiane Sobral, Allan da Rosa. E não posso deixar de citar aqui o nome de Carolina Maria de Jesus que, audaciosamente, a partir de restos de papel e lixo, feriu a pretensão brasileira que procura fazer uma “assepsia” na literatura, tanto do ponto de vista da temática, como no da linguagem.Quais as contribuições, na sua opinião, que a lei 10.639/2003 pode exercer no ensino de Literatura e Língua Portuguesa na educação brasileira? Existe material didático com abordagem sobre essa questão nesta área?Conceição Evaristo. A obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no ensino fundamental e médio, oficial e particular, sem dúvida alguma, abre um espaço de visibilidade aos aspectos poucos difundidos das culturas africanas e afro-brasileira. É preciso forjar um reconhecimento de que as culturas africanas, aqui aportadas, são formadoras da nacionalidade brasileira e não meras contribuições. A presença do negro na cultura e no pensamento nacional extrapola o espaço da arte relacionada ao canto, à dança, à culinária. Creio que a lei 10.639/2003 proporciona, ou melhor, exige, que se tenha um olhar mais diversificado sobre literatura brasileira. Há autores e textos negros que são estudados, mas a partir de uma ótica euro-cêntrica. Procura-se, inventa-se um lado branco para esses autores, assim como para os seus trabalhos. Hoje, novos textos estão chegando ao mercado, e uma nova maneira de lidar com esses textos está sendo levada, (ainda em pequena escala, reconheço] aos professores. Uma escrita que trata dignamente o universo histórico, cultural, político e religioso negro pede e força passagem. É lógico que o mercado editorial e livreiro é impulsionado pelo lucro, pelo retorno e não pela questão ideológica, mas no momento, abre-se uma brecha. As editoras estão hoje mais propensas a investir em obras que desenvolvem temáticas relativas às culturas africanas e afro-brasileiras. Quanto à divulgação dos textos afro-brasileiros em grande escala, temos algumas novidades. Cadernos Negros – melhores poemas foi uma das obras selecionadas no vestibular da UFBA, desse ano. Anteriormente, um livro de poesia de Edimilson de Almeida e de Ricardo Aleixo, Roda do Mundo, apareceu incluído no vestibular da UFMG. Ano passado, foi o livro de Waldemar Euzébio, Achados, que foi incluído no vestibular da cidade de Montes Claros. E em 2008, o vestibular da UFMG trará o romance Ponciá Vicêncio, de minha autoria. A presença de obras como essas no vestibular, penso eu, ecoa os efeitos da 10.639. E quais as significações e quais efeitos da inclusão de um desses livros no vestibular? Várias. Uma delas, sem dúvida, é a possibilidade de ampliação do universo de leitores, entre alunos e professores.Qual a importância da Literatura Africana na Língua Portuguesa e na Literatura Brasileira?Conceição Evaristo. Creio que essa pergunta coloca dois níveis de questões distintas. Eu diria que a importância das Literaturas Africanas na Língua Portuguesa estaria na possibilidade de ampliação de sentidos da própria língua portuguesa. Os escritores africanos que herdaram da colonização portuguesa, como nós herdamos, o idioma português, fazem “maravilhas”, produzem novos efeitos estéticos com uma língua que, desde que emigrou da metrópole para as suas antigas colônias, deixou de ser só a língua de Camões. Transformou-se em uma língua que ganhou novos donos, novas marcas culturais, diversificou-se, enriqueceu-se ao misturar-se com locais falares, por onde ela aportava. Falamos, todos nós, uma mesma língua. Falamos e não falamos... E do ponto de vista da linguagem, nesse falar e não falar a mesma língua portuguesa reside, muitas vezes, o fundamento estético dos textos africanos. A segunda pergunta, talvez seja preciso inverter. Seria qual a importância da literatura brasileira nas literaturas africanas? Interessante observar que os escritores brasileiros, notadamente os modernistas, tiveram uma grande influência nas literaturas africanas de língua portuguesa. Jorge Amado, Guimarães Rosa, o poeta Manuel Bandeira e outros marcaram a escrita de escritores africanos. Há vários textos africanos que dialogam com uma escrita brasileira. Só para exemplificar, podemos pensar na escrita do angolano Luandino Vieira e do moçambicano Mia Couto.tags: Rio de Janeiro RJ literatura literatura-brasileira negro negros representacao invisibilidade literatura-africana

MENINAS COMMODITYS

Por seis fins de semanas, 48 meninos da Escolinha de Futebol da Escola de Samba Favo de Acari da favela de acari vão a Barra da Tijuca, na Secretaria de Esportes e Lazer da Cidade do Rio de Janeiro disputar a Super Copa Trivella de Futebol Society. Vão acompanhados por mim e por mais dois treinadores. No primeiro jogo da equipe pré-mirim, idade até 11 anos entrou entusiasmadissima em campo,antes do adiversário, movida pela alegria de, a primeira vez, particpar de uma competição fora da favela, e com escolinhas de grandes clubes como Vasco, Flamengo, Fluminense ou de jogadores de nome como Gonçalves, ex-craque do Botafogo e da Seleção Brasileira.
A alegria se somou expressões de incredulidade e deboche quando o adversario entrou em campo com duas meninas. Uma delas começou jogando como titular.
Já perfilados pra começar a partida, um dos nossos jogadores, bom de bola, mas convecido de que joga muito mais que jogo,me diz: aí deley, vou dar uma dez "canetas" nessa novinha.
Ao final do jogo que nosso time perdeu por 5 a 3 meu lateralzinho tinha tomado duas canetas e um lençol da novinha e ainda viu amargurado ela marcar um dos cinco gols de sua equipe, num belissimo voleio da entrada da nossa área.

Terminado o jogo, no onibus, na volta pra casa, os meninos comentavam indignados que era maior vergonha perder pra um time que joga uma garota.
Só de sacanagem lembrei a eles, que outro times, possiveis proximos adversarios nossos, também tinham meninas. No que o meu indgnado e envergonhado lateralzinho, ameaça; da proxima vez vou entrar pra quebrar, nem quero saber se é mulher ou não.
No que um outro garoto perguntou:- então porque voce não quebrou aquela garota quando ela te deu o maió troncão e te jogou no alambrado.
´há aliviei né? mulher... mas não vou aliviar mais não.

O que os meninos não conseguem admitir é que pelo menos até aos 11, 12 anos as habilidades motoras, e não a força fisica, é que prevalece.
Depoimentos de jogadoras como Marta e outras jogadoras da seleção brasileira elas relembram que começaram a jogar bola bem novinhas, no meio dos garotos de 6, 7 anos.Com o tempo foram sendo "aceitas" até chegarem aos 14, 15 anos quando então tem a rarissima sorte de serem levadas para um time de futebol feminino de um clube profissional.

Esse parece ser o destino de Amanda, uma doce criaturinha de 16 anos que joga numa das escolinhas de Acari, e das cerca de 8, 10 meninas que estão participando da Super Copa Trivella.
Elas,certamente,logo logo, vão fazer parte do seleto mundo dos "craques-bebês" a que se referem a legenda de capa da matéria GOL DE OURO da Revista VEJA, de Maio de 2009.

Só que na mesma matéria, na pagina 78,no final do primeiro parágrafo, há uma frase grifada, no minimo polêmica, mas sem duvida motivadora de muita reflexão, não só pra gente que trabalha com escolinhas de futebol, as periferias das grande cidades, mas também pra pais, militantes de direitos humanos, defensores do estatuto da criança e do adolescentes, combatentes contra o trabalho infantil, e porque sim feministas. A frase, com o grifo da revista,claro.: " O jogador de futebol virou commodity e o Brasil, seu maior exportador" Essa frase, toma grande importancia e é tanto mais preocupante por ser da autoria do Sr. Raffaele Poli, um italiano pesquisador do Centro Internacional dos Estudos do Futebol.
Fui no dicionário "ver" o que significa commodity e, tá lá: commodity é mercadoria pra exportação, pra comercio internacional. Pode até ser que o Sr Poli não tivesse a intenção de comparar, melhor igualar crianças brasileiras, algumas ainda quase bebes, a outras commoditys como petroleo, soja, laranja,açaí, cupuaçu e outras frutas ou a galinhas, bois, etc. mas o fez.

O ministro dos esportes brasileiro Orlando Costa tem dado alguns alertas com relação a evasão de mini-craques brasileiros. Ao "lado" dele, só mesmo os clubes, que vem, impotentes, seus craques bebes, serem "exportados" pra europa. Contra ele, quase todo mundo, quase todo mundo, que dizer, leiamos a legenda da capa da VEJA; " O milionário negócio de descobrir "craques-bebês" brasileiros une clubes, familias e investidores".
Se une clubes, tenho minhas duvidas... talvez clubes-testa de ferro "fundados" para, ou como criadouro, viveiro, estufa, sei lá. Mas não clubes antigos e tradicionais como os grandes clubes brasileiros.

Estamos em Acari, organizando um campeonato de futebol feminino. Estou retomando o projeto Cirlanda, um antigo projeto que tenho engavetado, de incentivo feminino a pratica de esportes, á partir dos 5 anos de idade até os 15 anos,inclusive, os até agora dominados por homens, como o futebol. Recomendo a todos a leitura da matéria da VEJA. Depois de vossas leituras, gostaria de "entabular" com que interessar possa, e com que possa passar a se interessar, uma roda-de-conversa virtual e/ou mesmo face a face, sobre o tema. Finalizo esse começo dizendo que estou assim meio que com um ponta de conciência de culpa quando constato, o me vem a duvida de que: será que ao tentar propiciar as meninas,ainda na primeira infancia, a oportuinidade, de provarem que são tão capazes de praticar qualquer esporte e, conquistar espaços antes reservados os homens, não estou, sem mesmo intenção, jogando-as no billhonario balaio das commodity, ao que se refere o ser Poli, pesquisador do Centro Internacional de Estudos do Futebol.
Pode se também que, minha consciencia de culpa, permaneça apenas, no subliminar da minha consciência, se conseguir que essas meninas, pelo menos a do nosso projeto, assim como os meninos, despertem desde sedo, a consciencia critica e criativa, de craques brasileiros que com afonsinho, socrates, vladimir e estrangeiros com zidande.
craques de fama internacional, que nunca perdaram a consciencia de "classe trabalhadora" do futebol, mesmo tendo ganho a grana que ganharam jogando bola.

Se algumas dessas meninas se compreederem também, como trabalhadoras, mulheres trabalhadoras do futebol, e de alguma maneira, participarem de ações coletivas, com tal...
já é "uma".
Nota: A equipe Mirim do Favo de Acari , depois de oito jogosfoi campeã na sua categoria perdendo apenas um jogo de 2 x 1 superando equipes fortes e "ricas" como Vasco Barra, Fla Barra, Flu Barra, Escolinha do Gonçalves,etc

SAMARICA PARTEIRA

de orlando rodrigues

inteprete:luiz gonzaga

Oi sertão!
- Ooi!
- Sertão d' Capitão Barbino! Sertão dos caba valente...
- Tá falando com ele!...
- ...e dos caba frouxo também.
-...já num tô dento.
- Há, há, há... [risos]
- sertão das mulhé bonita...
– ôoopa
- ...e dos caba fei' também ha, ha
- ...há, há, há... [risos]

- Lula!
- Pronto patrão.
- Monte na bestinha melada e risque. Vá ligeiro buscar Samarica parteira que Juvita já tá com dô de menino.

Ah, menino! Quando eu já ia riscando, Capitão Barbino ainda deu a última instrução:
- Olha, Lula, vou cuspi no chão, hein?! Tu tem que vortá antes do cuspe secá!
Foi a maior carreira que eu dei na minha vida. A eguinha tava miada.

Piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri
uma cancela: nheeeiim ... pá...
Piriri piriri piriri piriri piriri piriri
outra cancela: nheeeiim... pá!
Piriri piriri piriri pir... êpa !
Cancela como o diabo nesse sertão: nheeeiim... pá!
Piriri piriri piriri piriri
Um lajedo: patatac patatac patatac patatac patatac . Saí por fora !
Piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri
Uma lagoa, lagoão: bluu bluu, oi oi, kik' k' - a saparia tava cantando.

Aha! Ah menino! Na velocidade que eu vinha essa égua deu uma freada tão danada na beirada dessa lagoa, minha cabeça foi junto com a dela!... e o sapo gritou lá de dentro d'água:
- ói, ói, ói ele agora quaje cai!

... Sapequei a espora pro suvaco no vazi' dessa égua, ela se jogou n'água parecia uma jangada cearense: [bluu bluu, oi oi, kik' k'] Tchi, tchi, tchi.
Saí por fora.

Piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri
Outra cancela: nheeeiim... pá!
piriri piriri piriri piriri piriri piriri

Um rancho, rancho de pobe...
- Au au!
Cachorro de pobe, cachorro de pobe late fino...
- Tá me estranhan'o cruvina?
Era cruvina mermo. Balançô o rabo. Não sei porque cachorro de pobe tem sempre nome de peixe: é cruvina, traíra, piaba, matrinxã, baleia, piranha.
Há! Maguinho mas caçadozinh' como o diabo!
Cachorro de rico é gooordo, num caça nada, rabo grosso, só vive dormindo. Há há ... num presta prá nada, só presta prá bufar, agora o nome é bonito: é white, flike, rex, whiski, jumm.
Há! Cachorro de pobe é ximbica!

- Samarica, ooooh, Samarica parteeeeira!

Qual o quê, aquelas hora no sertão, meu fi', só responde s'a gente dê o prefixo:
- Louvado seja nosso senhor J'us Cristo!
- Para sempre seja Deus louvado.

- Samarica, é Lula... Capitão Barbino mandou vê a senhora que Dona Juvita já tá com dô de menino.
- Essas hora, Lula?
- Nesse instante, Capitão Barbino cuspiu no chão, eu tem que vortá antes do cuspe secá.

Peguei o cavalo véi de Samarica que comia no murturo ? Todo cavalo de parteira é danado prá comer no murturo, não sei porque. Botei a cela no lombo desse cavalo e acochei a cia peguei a véia joguei em riba, quase que ela imbica p'outa banda.

- Vamos s'imbora Samarica que eu tô avexado!
- Vamo fazê um negócio Lula? Meu cavalin' é mago, sua eguinha é gorda, eu vou na frente.
- Que é que há Samarica, prá gente num chegá hoje? Já viu cavalo andar na frente de égua, Samarica? Vamo s'imbora que eu tô avexado!!

Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá!
Piriri tic tic piriri tic tic
bluu oi oi bluu oi, uu, uu

- ói, ói, ói ele já voltoooou!

Saí por fora.

Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
Patateco teco teco, patateco teco teco, patateco teco teco

Saí por fora da pedreira

Piriri piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá !
Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá !
Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá!
Piriri piriri tic tic piriri tic tic

- Uu uu.

- Tá me estranhando, Nero? Capitão Barbino, Samarica chegou.

- Samarica chegou!!

Samarica sartou do cavalo véi embaixo, cumprimentou o Capitão, entrou prá camarinha, vestiu o vestido verde e amerelo, padrão nacioná, amarrou a cabeça c'um pano e foi dando as instrução:

- Acende um incenso. Boa noite, D. Juvita.
- Ai, Samarica, que dô !
- É assim mermo, minha fi'a, aproveite a dô. Chama as muié dessa casa, p'a rezá a oração de São Reimundo, que esse cristão vem ao mundo nesse instante. B'a noite, cumade Tota.
- B'a noite, Samarica.
- B'a noite, cumade Gerolina.
- B'a noite, Samarica.
- B'a noite, cumade Toinha.
- B'a noite, Samarica.
- B'a noite, cumade Zefa.
- B'a noite, Samarica.
- Vosmecês sabe a oração de São Reimundo?
- Nós sabe.
- Ah Sabe, né? Pois vão rezando aí, já viu??

[vozes rezando]

- Capitão Barbiiino! Capitão Barbino tem fumo de Arapiraca? Me dê uma capinha pr' ela mastigar. Pegue D. Juvita, mastigue essa capinha de fumo e não se incomode. É do bom! Aguenta nas oração, muié! [vozes rezando] Mastiga o fumo, D. Juvita... Capitão Barbino, tem cibola do Cabrobró?
- Ai Samarica! Cebola não, que eu espirro.
- Pois é prá espirrar mesmo minha fi'a, ajuda.
- Ui.
- Aproveite a dor, minha fi'a. Aguenta nas oração, muié. [vozes rezando] Mastigue o fumo D. Juvita.
- Capitão Barbiiino, bote uma faca fria na ponta do dedão do pé dela, bote. Mastigue o fumo, D. Juvita. Aguenta nas oração, muié. [vozes rezando alto].
- Ai Samarica, se eu soubesse que era assim, eu num tinha casado com o diabo desse véi macho.
- Pois é assim merm' minha fi'a, vosmecê casou com o vein' pensando que ela num era de nada? Agora cumpra seu dever, minha fi'a. Desde que o mundo é muundo, que a muié tem que passar por esse pedacinh'. Ai, que saudade! Aguenta nas oração, muié! [vozes rezando alto].Mastigue o fumo, D. Juvita.
- Ai, que dô!
- Aproveite a dô, minha fi'a. Dê uma garrafa pr' ela soprá, dê. Ô, muié, hein? Essa é a oração de S. Reimundo, mermo?
- É..é [muitas vozes].
- Vosmecês num sabe outra oração?
- Nós num sabe... [muitas vozes].
- Uma oração mais forte que essa, vocês num têm?
- Tem não, tem não, essa é boa [muitas vozes]
- Pois deixe comigo, deixe comigo, eu vou rezar uma oração aqui, que se ele num nascer, ele num tá nem cum diabo de num nascer: "Sant' Antoin pequenino, mansadô de burro brabo, fazei nascer esse menino, com mil e seiscentos diabo!"
[choro de criança]

- Nasceu e é menino homem!
- E é macho!
- Ah, se é menino homem, olha se é? Venha vê os documento dele! E essa voz!

Capitão Barbino foi lá detrás da porta, pegou o bacamarte que tava guardado a mais de 8 dia, chegou no terreiro, destambocou no oco do mundo, deu um tiro tão danado, que lascou o cano. Samarica dixe:

- Lascou, Capitão?
- Lascou, Samarica. É mas em redor de 7 légua, não tem fi' duma égua que num tenha escutado. Prepare aí a meladinha, ah, prepare a meladinha, que o nome do menino... é Bastião.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

LENÇO NO PESCOÇO

De Wilson Batista.

em 1933.

Meu chapéu do lado
Tamanco arrastando
Lenço no pescoço
Navalha no bolso
Eu passo gingando
Provoco e desafio
Eu tenho orgulho
Em ser tão vadio
Sei que eles falam
Deste meu proceder
Eu vejo quem trabalha
Andar no miserê
Eu sou vadio
Sempre tive inclinação
Eu me lembro, era criança
Tirava samba-canção
Comigo não
Eu quero ver quem
tem razão
E eles tocam
E você canta
E eu não dou

DE WILSON BATISTA A FORÇA DO RAP

FORRÓ EM CARUARU


Jackson do Pandeiro


No forró de Sá Joaninha
No Caruarú
Cumpade Mané Bento
Só fartava tu
Nunca vi meu cumpade
Forgansa tão boa
tão cheia de brinquedo,
de animação
Bebendo na função
Nós dansemo sem pará
Num galope de matá
Mas arta madrugada
Pro mode uma danada
Qui vei de Tacaratú
Matemo dois sordado
Quato cabo e um sargento
Cumpade Mané Bento
Só fartava tú
Meu irmão Jisuino
Grudô numa nega
Chamego dum sujeito
valente e brigão
Eu vi qui a confusão
Não tardava cumeçá
Pois o cabra de punhá
Cum cara de assassino
Partiu prá Jisuino
tava feito o sururú
Matemo dois sordado
Quato cabo e um sargento
Cumpade Mané Bento
Só fartava tú
Pro Dotô Delegado
Que veio trombudo
Eu diche que naquela
grande confusão
Só hove uns arranhão
Mas o cabra morredô
Nesse tempo de calô
Tem a carne reimosa
O véi zombô da prosa
Fugi do Caruarú
Matemo dois sordado
Quato cabo e um sargento
Cumpade mané Bento
Só fartava tú