quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
FAPA,FAVELA PARTICIPAÇÕES: PERGUNTAS QUE ESPERAM RESPOSTAS:
A Coluna de Anselmo Góis, no O Globo deu uma nota que em 2013 Celso Athayde sairá da CUFA pra criar uma Holding que já esta denominada de FAPA, Favela Participações que gerirá um grupo de 10 empresas...
Holding é uma empresa criada para gerir um grupo de outras empresas ou a participação acionaria de um grupo determinado nestas.
A idéia e que um numero significativo de empresas implantadas dentro de uma favela possa realmente trazer o desenvolvimento para maioria dos moradores deve ser vista com reservas, reflexões e questionamentos.
A primeira questão a ser levantada é que empresas, como empreendimentos capitalistas visam principalmente o lucro constante e precisam de garantias para não haja prejuízo nem interrupção temporária ou definitiva da produção das marcadorias.
Empresas tem resistido a implantar seus negócios nas favelas devido a falta de garantias a segurança e a integridade física de seus funcionários: uma operação policial para combater o tráfico de drogas pode impedir a entrada de funcionários causando um dia de trabalho paralisado, uma guerra entre quadrilhas rivais pode para a produção por até uma semana trazendo grandes prejuízos na produção e inviabilizando a produção e a continuidade da empresa no local.
Empresas precisam além da segurança real, física e material, de segurança simbólica que além da segurança física visível gerem um sensação segurança não física mas sensível, por exemplo: Os moradores dos bairros que ficam no entorno de varias favelas o Rio vêem com simpatia quadrilhas de traficantes que "dominam" uma favela e garantem a paz e a segurança não só no território físico da favela em si mas extensiva aos moradores das ruas do "pé do morro" evitantando assaltos, roubos de resistencias, violências contra moradores... e "cobrando" e tomando "providencias cabíveis" quando alguma coisa acontece de errado com esses moradores do entorno da favela.
No momento varias empresas estão implantando suas atividades em favelas ocupadas por UPPs já que o braço amardo do estado, garante não só a segurança real, física, mas também a sensação de segurança "invisível" mas tão real, quanto a real.
Como não existe mais trafico, pelo menos no "tamanho" que era antes, não há ostentação armada de bandidos. Por outro lado, a crença e a sensação de que nenhuma quadrilha rival tentaria tomar uma favela ocupada por UPPs dá uma certa proteção ao "pequeno" trafico existente.
Por outro lado uma favela ocupada por UPP garante a empresas de TV A CABO e INTERNET que elas não terão concorrência de "empresas" locais "informações" conhecidas como NetGato NetCabo e a eliminação das existentes.
Com relação a questão de segurança real e não visível um ponto a ser levantado é:
Suponhamos que uma quadrilha local de uma favela mantenha ótimas "relações" com empresas locais e do entorno da favela que "controla" e também aos moradores o entorno.
Uma vez criada uma holding de empresas como a proposta FAPA: A holding confiará, acreditará e aceitará a segurança que a quadrilha local oferece, promete e garante ou optará pela segurança mais "confiável" e durável que o estado pode oferecer pedindo o u mesmo exigindo a implantação de uma UPP no local, como condição pra implantar seus projetos no local?
Outras perguntas que merecem e precisam de respostas:
A implantação de uma loja do Bobs ou o MacDolnads não causará a falência de pequenos comerciantes que há vários e vários anos vendem seus x-tudos e vitaminas na favela, com a mesma qualidade ou até maior do que estas grandes empresas de lanches rápidos?
A implantação de um Shopping Favela não causará a falência das muitas lojas de roupas, armarinhoos, comércios de variedades? Estes comerciantes terão que se sujeitar, se quiserem sobreviver, a pagar altas taxas de aluguel e "condomínio" pra funcionar dentro destes chopings? Suportarão a concorrência das C&AS, Di Santini, Casa&Vídeo?
As dezenas de mulheres que hoje ganham a vida, em tem em seus salões de beleza... seus negócios conseguirão sobreviver as grandes casas de estética que estarão dentro desses chopings?
Sabe-se informalmente que mais ou menos 10°/° do arrecadado total com a venda de drogas fica dentro da favela. Por "mais pouco" que seja, é evidente o quanto esse "pouco" dinheiro que fica dentro da favela contribuí para o aumento da renda percapita da favela como um todo.
Com relação a uma holding de empresas... há serias duvidas se pelo menos 01 por cento do lucro gerado por elas ficariam dentro da favela propiciando um desenvolvimento geral que beneficie a maioria dos moradores e não só uma elite.
Outra questão importante é se a implantação de uma holding de empresas numa favela gerará um numero de empregos significativo o suficiente para a maioria, ou pelo menos uma numero bastante de moradores que com o salário que perceberem num montante o real desenvolvimento da favela como um todo, que beneficie a todos ou a maioria.
Tomando como exemplo o fato, a verdade e a realidade de que dentro e no entorno das favelas os empregos que exigem pelo menos o 2º grau completo são ocupados na sua maioria por gente de fora da favela... é só olhar pra a maioria dos funcionários de creches, escolas públicas, postos de saúde, etc e de supermercados, farmácias, etc.
Os empregos que exigem escolarida mínima ou muito pouca, este sim "sobram" para os moradores da comunidade.
Uma questão delicada: Com a possível, não determinada, mas possível e provável implantação e UPPs, ou pelo menos " contingente policial formal" para garantir o lucro e o funciomento continuo, sem interrupções das empresas e o conseqüente fim o trafico de drogas ou pelo menos, com a diminuição substantiva deste a um nível que venda drogas "no sapatinho" e não precise ostentar armas... o que será feito de e com os traficantes locais que não conseguirem continuar no trafico ou não conseguir algum tipo de emprego numa das empresas da tal holding?
Há favelas, não ocupadas por UPPs, que a grande maioria, quase a totalidade dos traficantes são crias, jovens e já não tão jovens nascidos e criados na favela. A grande maioria deles só sabe, por só aprendeu a trabalhar no tráfico, boa parte nunca foi preso, e outra boa parte, embora já tenha pego cadeia por crime hediondo, simplesmente por ser traficante, sequer deu um tiro na vida, nunca matou ninguém, mas tem no trafico a única opção pra criar seus filhos sustentar sua familia, mas não tem nível de escolaridade pra ser incluído nessa tal "salvadora" inclusão social e econômica que uma holding possa garantir.
É óbvio que empresas, empresários, antes de tudo visam seus lucros e a garantia da geração continua desse lucros. Por mais humanos e humanitários que queiram parecer, por mais responsabilidades sociais que possam demonstrar, quando seus lucros e a rentabilidade se seus negócios são ameaçados não teem nenhum constrangimento em evocar e por em pratica o velho ditado: "amigos, amigos, negócios á parte", ou amigos, amigos, sentimentos e humanismo á parte".
Por isso não estão nem um pouco preocupados com a sorte dos traficantes locais, se serão presos, presos e mortos. Importante pra eles é uma comunidade limpa e segura, não importa quantas liberdades sejam perdidas, quantas cadeias tenham que ser construídas, quanto sangue negro e favelado seja jorrado pra lavar e deixar limpa a favela para implantar sua empresas e seus funcionários cheguem e saiam do trabalho por ruas e vielas higienizadas e "detetizadas".
Se os moradores favelados influentes na comunidade, lideranças comunitárias, mediadores e empreendedores de dentro e de fora da favela, não estão preocupados, o se estão não tem respostas, e por não terem respostas, fingem que os "meninos" do trafico são invisíveis, não existem, não tem solução imediata, á médio, ou a longo prazo pra eles... alguém na favela tem que ter, se preocupar com a vida e o destino deles, e suas familias, de seus filhos...
Nenhum deles nasceu traficante e boa parte deles gostaria e deixar de ser e viver outra vida...
E merecem sérios questionamentos, criticas construtivas, levantamento de duvidas, e tentativas de busca de respostas e soluções, senão para o trafico de drogas, que estão muito além do que meros lideres favelados possa dar.
Se o Trafico de drogas movem bilhões de dólares anualmente, é hoje um grande empreendimento capitalista, neoliberal e desumano, por isso além de nossas forças de favelados de combatermos sozinhos... o traficante, desde o prenteso "chefe" até o mais simples fogueteiro é problema nosso, e lideranças, militantes favelados e moradores influentes, até como traficantes/trabalahdores do trafico, mas principalmente como moradores, na sua maioria jovens, que vimos nascer, segurarmos no colo, alguns batizarmos e sermos padrinhos,crescer, brincar, tentar a sorte de uma vida melhor no futebol, na musica o numa fábrica que não existe mais.
Não consigo olhar para o futuro desses garotos que vivem no trafico, principalmente, os que tenho uma convivência mais próxima... num caixão ou numa cadeia.
Também não consigo ver o futuro deles e de suas familias sob a tutela e opressão do braço armado o trafico ou do braço armado do estado.
Minha vó, meu tio astrogildo e minha mãe me ensinaram a acreditar e amar o ser humano como criaturas boas e sagradas, ninguém nasce mal e se ninguém nasce mal, ninguém inevitavelmente morrerá como um ser humano mal por isso merece viver o mais possível e mais longamente possível como criaturas humanas boas e sagradas como nasceram.
E a maioria, a imensa maioria do rapzes jovens, e já não tão jovens, que vivem e precisam do trafico, hoje pra viver, sobreviver, sustentar suas familias e criar seus filhos e filhas pelos caminhos o bem que não puderam seguir são criaturas humanas, boas e do bem.
E a elas devemos respostas e oportunidades de uma vida alternativa a que uma UPPs possa oferecer, ou o trafico de drogas, tem-lhe oferecido.
Essa é a opinião pessoal minha, de Deley de Acari, poeta e animador cultural da favela de Acari. Opinião pessoal que mais que a atitude de dar opinião pessoal gera atitudes, ações e verdades para tornar o que sonha, realidade.
Amor Livre e Luta!
Deley de Acari
POR UM AMOR MAIOR
POR UM AMOR MAIOR
A presente postagem de poemas no blog significa antes de tudo uma rendição a minha imcapacidade de digitar, formar e publicar um livro escrito no papel. É uma capitulação a minha incapacidade de lidar com o computador e com a net.
A minha intenção em publicar um livro no papel “era” viabilizar acesso á um número bem maior de pessoas além daquelas em numero restrito que tiveram acesso aos poemas aqui reunidos que já haviam sido publicados em livros e outras publicações escritas que, por diversas razões, desde o alto preço de capa á circulação restrita as tornaram inacessiveis ao povo da favela de Acari e de alguns bairros da periferia.
Decidi definitivamente de tentar publicar o livro no papel. Uma vez publicado, com o título ‘POR UM AMOR MAIOR”, com cerca de 60 paginas e duas edições de 300 exemplares, num total de 600 iria vendo á baixo custo, 12 á 16 Reais, uma parte e distribui-los gratuitamente na Favela de Acari. Porém, depois de varias tentativas frustradas, por mim mesmo, a mim, aqui estão as poesias com titulo do livro postadas no blog www.deleydeacari.blogspot.com. Leiam não como uma simples, ou mais uma postagem mas como um “livro eletronico” em que pese a precariedade editorial que meu precário blog oferece.
Republica-los no Blog todos reunidos, já que foram publicados aqui separados é uma forma de me livrar deles, lança-los ao vento, a calmaria e a tempestade da web.
O primeiro poema do blog, meio que um hai kai foi escrito de depois lançado numa camisa sob o patrocionio de Sebatião Soares e Valeria Moreira, então, lá pros fins dos anos 80, então no Bloco Afro Alafin Aye.
Deus,
Criou-lo
A Mulher.
Os poemas que se seguem é tudo que restou de um total de 535 poemas cujos os originais foram queimados num latão de 200 litros pelo meu padastro, dois meses depois da morte de minha mãe em 1986, depois que ele, por duas vezes, tentou currar minha irmã, e ter sido expulso da favela pelo Cy de Acari.
O choque provocado pela violencia contra minha irmã somado ao trauma da perda de 535 poemas orinais, oito peças de teatro e 68 contos literários queimados pelo meu padrastro me causaram um histeria literária que durou cerca de 15 anos. Só consegui criar um poema de novo em 1996, por ocasião de um ato contra a Chacina de Vigário Geral.
VALA
á delma, irmã
Vala, manancial de xistossomose
beço de tifo
cova natural de muitos
amigos de infancia
crivados de bala.
Rio
dos meus barquinhos
de elástico e graveto...
Rio das pescarias de rã
com barbante e miolo de pão
PARA ALÉM DE TESÃO
E aquela tesão da manhã
que rareou um pouco nodia
na cozinha e no tanque da madame
E aquela tesão da manhã
que rareou um pouco mais ainda
com o sufoco no onibus Castelo-Acari
sem sequer saber se chegava viva ou não
E aquela tesão da manhã
que rareou ainda mais um pouco
com a fome não saciada
pelo pedaço de ovo com macarrão
e feijão requentado pra sobrar
mais um pouco pras crianças
almoçarem amanhã, dividindo
o pouco, irmão com irmão.
E aquela tesão que pouco a pouco
se rareou mais um pouco
até ser quase só desespero
Esse amor feito quase sem gosto
e com muito cansaço até o gozo
misto de orgasmo e afrição.
Esse maior feito dum outro jeito
de se amar que nos foi preciso encontrar
pra fazermos amor bem gostoso
Porque só a gente se amando,
se amando muito mesmo
para além das necessidades do espirito
e do corpo ou simplesmente paixão
pra conseguir fazer amor gostoso
cansada e quase sem tesão.
SÍNDROME DO DESEMPREGO
Saindo de casa bem cedo
á procura de emprego, levou
força do meu amor, minha fé.
No ultimo anúncio marcado
mente e corpo abalados,
pela má aparência rejeitado, deixou
que vissem seus olhos pela fome
bem fundo escavado, que vissem
o carapinha emarenhado, deixou
que vissem o suor fazendo
da face negra um ébano vitrificado.
Mas não deixou
que lhe vissem o medo
comum a quem vive
a síndrome do desemprego
não deixou que lhe vissem
o velho medo porque é da certeza
que existe o medo é
que o burgues racista faz do humano dócil escravo
um inimigo finalmente vencido
depois que sua humanidade
ele mesmo já havia esquecido.
Saindo de casa bem cedo
á procura de emprego, levou
a força do meu amor minha fé
Deixou um beijo gostoso de Colgate
e café saboroso feito mel.
Voltou á noite trazendo
um beijo mau gosto de
caldo de cana e pastel
amargoso feito fel.
Ah, a insegurança do amanhã,
de todos, do tudo.
Ah, seu velho medo
desaguado em lágrimas no regaço
do meu colo, chorado em segredo
longe do olhar racista do senhor burgues
dono e senhor dos empregos.
Ah, esse imenso desejo
que seu velho medo se transforme
com o axé do meu amor, minha fé
na minha, na sua, na nossa
nova e indestrutivel coragem
libertária do amanhã.
POR UM AMOR MAIOR
Hoje tua preta amanda
não pode fazer amor contigo
chegou do trabalho cansada,
explorada, currada, assediada
pelo olhar tarado
do senhor patrão.
Hoje tua preta amada
não pode fazer amor contigo.
Precisou de tí mais
que pai, irmão ou homem...
precisou e encontrou-te amigo.
Hoje tua preta amada
não pode fazer amor contigo
mas te ensinou um amor,
um amor maior que jamais
havias aprendido.
DOMINGO
A Catuaba para
escorregar o café
um giro na feira
A Catuaba para
escorregar o café
um giro na feira
comprar uma Roberta Close
para comer ao molho pardo
a pelada no rala-coco
pra tirar a barriga
um mocoto com arroz
uma cerveja com
o vapô da área
na tendinha do tião
um pagode esperto
um samba do Ne do Wilson
o macara á tarde
Vasco e Flamengo
de casa cheia
Os trapalhões na tve
o fantastico mentir da vida
uma bimbada na nega
para relaxar corpo e mente
e amanhã acordar tranqulis
e ser explorado
pelo patrão numa boa...
E me deixar fazendo
o almoço uqe será jantar
talves amanhã outra vez almoço
que voce ira comer
temperado com amortesão
que sempre fica recolhido
em meu corpo inteiro
ardente, inquieto, angustiado
de insastifação e frustração
de quase sempre e esse quase sempre
entre nós é todo dia... que
voce me come, jorra-se
cai pro lado e dorme
antes mesmo que eu sinta
dor, prazer ou gozo
de ter voce dentro de mim.
ÍVO VÊ O OVO
á delma, irmã amada.
Barquinho de graveto
nas valas da favela
banhos de rio
jogo de gude
cachorro fazendo trenzim
dibico de pipa
vizinha de perna aberta
aparcendo a calcinha
pique de esconder
gazeta bem batida
machucadinho no dedo
priminha fazendo xixi
cavalo calvagando
professora sorrindo
correição de formiga
manga roubada
contar estrelas com dedo
viajar pelo mundo
na goiabeira do fundo do quintal
ver São Jorge na Lua...
Tudo isso me assustava
fascinava e emocionava
a um só tempo
fazendo da nossa infância
pobre e desamada
uma infância quase feliz.
Mas nada, nada me assustava
e fascinava mais a um só tempo
que ficarmos horas afio
venho pintinhos nascerem do ovo.
SÓ CRIOULO
a líane galvão
Ipanema,
Madureira,
sou Favela.
Branco,
negro,
sou mestiço.
Operario,
intelectual,
sou poeta.
Machista,
Feminista,
sou simplesmente amante.
Esquerda,
Direita,
Sou só crioulo... só.
QUEM DIZ QUE... NÃO VIVE, NÃO SABE O QUE DIZ
Quem diz que favela
é quilombo urbano
não vive, não sabe o que diz.
Não vive, não sabe
da angústia da favela.
Quem diz que favela
é quilombo urbano
não vive, não sabe o que diz.
Não vive o medo que
a favela vive constantemente.
Quem diz que favela
é quilombo urbano
não vive, não sabe o que diz.
Não vive a violencia
do crime organizado que
oprime a favela.
Quem diz que favela
é quilombo urbano
não vive, não sabe o que diz.
Não vive a miséria
que vive a favela.
Quem diz que favela
é quilombo urbano
não vive, não sabe o que diz.
Não vive os abusos
e as chacinas policiais
que atingem a favela.
Quem diz que favela
é quilombo urbano
não vive, não sabe o que diz.
Só vive a favela
nas retóricas academicas
de suas teses de doutorado.
Quem diz que favela
é quilombo urbano
não vive, não sabe o que diz.
Só vive a favela
nas lombras alucinadas
das madrugas do Baixo-Gavea
ainda meio que cheirado.
Quem diz que favela
é quilombo urbano
não vive, não sabe o que diz.
Só vive a favela
no assistencialismo paternalista
da neodireita vivariqueana
que periga imobilizar a favela
de sua autonomia.
Quem dizque favela
é quilombo urbano
não vive, não sabe o que diz.
Não sabe que quilombo urbano
seria sinonimo de socialismo,
não machismo, não racismo, igualdade,
irmandade, parceria, ajuda mútua,
amor, felicidade, harmonia...
e que na favela
há muito pouco de cada isso
um quase nada de cada isso.
Daí que,
a existencia de favela
é ela mesma
a prova mais contundente
da inexistencia de
quilombos urbanos.
AMAZONA NEGRA
Quando te cavalgo
sou amazona selvagem
que te tendo, te deixa ser
meu carapinha, te lanhando
peito e rosto, não é chicote.
É do Cometa-Amor
que existe em mim
negras, reluzentes
caldas múltiplas que
orvalham meu suor acre-salgado
embebendo teus lábios de meu sumo.
Suor-bálsamo que lene,
das feridas de me amar
que se abrem em ti, a dor com o prazer
que o me sorver te alucina.
Do ir e vir
do sexo no sexo
nosso ir e vir
é nosso ir.
Para o êxtase da chegada
não somos
cavalo e Amazona
mas sim um só caminho.
Quando erupe o vulcão
que é o nosso amor
esvai-se por minha garganta
peluda em carne viva
nossas lavas flamejantes
calcinando nossos ventres
e nossas coxas.
Descansamos do descanso
que é fazer amor
quando se ama.
Na esteira, semi-inconsciente,
nem somos neste momento,
um e outro, macho e fêmea
nem sentimos um e outro
homem e mulher...
De tanto nos sentirmos
sentirmos e sermos
Um e outro ao mesmo tempo.
Ainda embriagados de orgasmo,
ansiados nos esperançamos
que esta ao mesmo tempo
esta embriaguez divina
SEJA SEMPRE.
MARAVILHOSA
Maravilhosa,você dorme!
sua cabeça carapinha pousada
sobre meu peito de poeta.
Gotas de suór e húmus te molham
a vúlva, reluzem em seu púbis
feito microestrelas que me
embebem os lábios embriagando
minha alma quando faço cafuné
de língua em seu cólo uterino.
Maravilhosa,você dorme!
Seu coração pulsa e tamborila
feito marimba cálida, sua respiração
melodiosa me inspira
como um calímba no cío.
Marevilhosa,você dorme!
Seus seios fartos(de Yabá)
roçam o céu de meus sonhos
como lilazes cúmes.
Maravilhosa,você dorme!
Te ver dormir me fascina...
És a prova mais verdadeira
que Deus existe,embora não
acredite Nele.
Nem devo temer,venerar ou
amar a Ele...
Mas sim adorar,amar e
desejar descaramente
somente as DEUSAS!
Maravilhosa,você dorme!
A Lua
Vem lésbicamente
á janela do quarto admirar
sua beleza negra donde
os Orixás escolheram a cor
para abonitar a noite que
era feia por se incolor.
Maravilhosa,voce dorme!
E me abraça e enlaça em
me envolve na paz do seu sono
como um menino em seus braços
me sinto protegido e acolheido.
Sei-me assim nos braços de
Mãe Oxum...que me fez então
libérto da sína do machismo
e a ser como sou agora
e daqui pra sempre...irmão,
amigo,amante,amado,
simplesmente homem!
Esse é o primeiro poema que consegui escrever depois de 15 anos de impotencia poetica. Como já escrevi á pouco foi criado para um ato contra a cachina de VG.
SE FICAM IMPUNES... NOS CHACINAM A DIGNIDADE
Chacinam em Hiroxima, Nahasaki, Auschwistz...
se ficam impunes...uma chacina contra nossa verdade.
Depois, que verdade diremos ás nossas crianças
e toda gente que amamos e anos amam também.
Chaicina em Sharpville, Saigon, Luanda...
Se ficam impunes... uma chacina contra nosso olhar.
Depois, com que olhares olharemos nos olhos
de nossas crianças e toda gente que amamos e nos amam também.
Chacinam em Ruanda em Bagdá... Guerra do Golfo...
Se ficam impunes... uma chacina contra nossa alegria.
Depois, com que alegria abraçaremos as nossas crianças
e toda gente que amamos nos amam também.
Chacinam no Carandiru, na Candelária, em acari, ianomamis...
se ficam impunes...uma chacina contra nossa esperança.
Depois, com que esperança mostraremos
o caminho para nossas crianças...Com que esperança caminharemos
junto com ela e toda gente que amamos e que nos amam também.
Chacinam em Eldorado dos Carajás em Belford Roxo, em Vigario Geral
se ficam impunes...uma chacina contra nosso senso de justiça.
Depois, que senso de justiça legaremos ás nossas crianças
e a toda gente que amamos e que nos amam também
Chacinam em Sabra e Shatila, se ficam impunes...
uma chacina contra o amor que existe em nós.
Depois, com que amor amaremos nossas crianças
e a toda gente que amamos e que nos amam também
Chacina na favela, chacinam no campo, chacinam na cidade
se ficam impunes...uma chacina contra nossa dignidade humana.
Depois, com que dignidade continuaremos vivendo
com nossas crianças e com toda gente que amamos
e nos amam também. Chacinam nossas crianças,
chacinam a gente que amamos e que nos amam também...
se ficam impunes...uma chacina contra nossa própria vida.
Depois, que vida continuaremos a viver... sem verdade, ,sem olhar,
sem alegria, sem esperança, sem justiça, sem amor e sem dignidade humana.
Os poemas que vem a seguir foram escritos por “encomenda” para o livro “UM SECULO DE FAVELA” organizado por Marcos Alvito e Alba Zaluar.
FAVELA: CEM ANOS.
Tá visto que em cem anos de favela
muito sangue de moprte banhou
as terras batidas de becos, ruas e vielas.
Mas tá visto também que na favela
há muito mais mulher que a gente
e muita menina vira moça toda hora, todo dia
se vendo meio que assustada e maravilhada
pela primeira vez menstruada.
Vai daí, que por benção de Mãe Oxum,
essa saguinolência toda que jorra na favela
por cem anos a fio, filetes e chimvicas,
tem sido muito menos da certeza da morte
e muito mais da verdade da possibilidade da vida.
Daí que, pela graça de Mãe Oxum,
nafavela, centenariamente, se sangra ainda
muito mais da divina maravilha da criação
que dos horrores letais das chacinas.
ACARI-SUPRAEMERGENTE
( ou entregando a favela a cidade)
Quem sabe na próxima enchente
a favela submerge no Rio Acari
duma vez... só de vez
E emerge na Avenida Sernambetiba
frente a barraca do Pepê...
Vái daí que para o gáldio dos emergentes...
dá até pra acreditar que só assim
nós da favela sejamos entregados
saco da cbeça e algemas nos pulsos
favelabairranamente á cidade...
Zé Gabiolé: ói nós da favela
supraemergentes da Barra.
REGRAS E EXCREÇÕES
Vê legal... são cento e cinquenta e tres bairros
e mais de seiscentes favelas dentro deles...
coisa meio assim que matar o porco
tirar a tripa do porco, picar o porco
e botar o porco dentro tripa
que vira lingüiça.
Vê legal... que já há mais favela
que bairro e agora os bairros
tão dentro das favelas.
Vê legal então que já não é
alguma pobreza
dentro de muita riqueza.
Agora é alguma riqueza
dentro de muita pobreza.
Vê legal então
se favela hoje é regra,
então se bairro é excesão,
Ser da favela hoje é regra,
ser do bairro hoje é excreção.
NÃO HÁ UM CANTO DA FAVELA
Não há um canto de favela
que não guarde uma história.
Não há um canto de favela
que não tenha um conto
pra contar.
Não há um canto
de favela que não guarde
histórias nas marcas
da ultima enchente nas
paredes dos barracos
que levou agua á baixo
tvsvideosgeladeiras armários,
roupaspanelas que ficou-se
devendo prestações mas com sorte
saiu-se com vida.
Não há um canto
da favela um cantinho
de viela que não guarde
ainda os sons das vozinhas femininas
infantis brincando de casinha e Bárbie
até uma sairavada de AR-15
botar todo mundo embaixo da mesa
da cozinha longe do lugar
da bala perdida achar um.
Não há um canto da favela
que não guarde as vozes sussurradas
dos meninos contando
a boca miúda os feitos lendários
de Jotaélli
quando da retomada
épica do seu Reino d'Pó
das parades do Acari.
Não há um canto da favela
que não guarde o testemunho
choroso de um irmão em Deus
subitamente per'vertido a fé cristã
depois de tantas dores e horrores
que infligiu aos seus inimigos
e suas familias aqui na Terra.
Este poema abaixo foi escrito a pedido da Cristina Vital para uma publicação do ISER sobre Memória na Favela.
MEMÓRIA FAVELA: MULHER!
Á Cristina vital
“Entre hoje e o amanhã corre um rio
Que nos alerta: nas águas de quem oprime não navega quem liberta”
Renato Teixeira cantado por
Pena Branca e Xavantinho.
De favela em favela
Os homens vivem cada vez menos
Já que se matam cada vez mais
as mulheres vivem cada vez mais
Já que quase nunca se matam...
Nem mais, nem menos.
De favela em favela
Quem vive mais conta mais
Quem vive pouco não resta
Nem o evento da própria morte pra contar.
As mulheres que estão vivendo mais,
Cada vez mais vão ficando pra contar
Das vidas e das mortes e muito mais:
Sobre a existência toda que pulsa
Pungente no tempo que passa...
Do que se nasce pra vida
Até pro que se morre pra
Uma outra vida... se há.
Assim, cada vez mais a memória da favela sobrevive
Dum jeito de lembrar feminino.
Só que a mulher da favela
Não conta a favela com a voz da razão.
Pras dizer a verdade
Ela diz a favela. Ao contrário
Do senso comum, ela sensualiza
Sensualizando a favela... tipo
O pensamento parece uma coisa à toa
Mas como é que a gente voa
Quando começa a pensar.
Na memória da favela
É prestar atenção no que diz
A mulher da favela
Mas há que prestar atenção no que
Ela ‘não diz’ da favela.
Ao memorizar a favela,
É neste ‘não dizer’ que está
A verdadeira memória da favela.
A memória mulher da favela
Não é a mesma memóriamachofavela...
Não é também tesededoutoradofeminista
Nem documnetáriopraestaçãounibanco...
A memória mulher da favela
Tem carne e sangue, tem gosto e desgosto,
Tem odor e tem dor, tem idoneidade e felicidade.
A memória mulher da favela menstrúa.
É fisicamente palpável, cafunesável, visível.
A memória mulher da favela
Copula, fica molhadinha, goza
E concebe... e brota nas cozinhas,
Nas portas de rua... e nas rodas de cerveja
Se oraliza e se faz verbo
Como uma cria de parto normal
E não num parto absurdo de
Uma pesquisa de campo.
A memória mulher da favela
Por mais trágica e dolorida
Que venha ser a lembrança
É sempre uma saudade meiga
Que Dolores cantava.
A memória mulher da favela
Faz a saudade esperança do passado
Faz esperança saudade do futuro.
A memória mulher da favela
É cabeça e coração,
Razão e emoção.
Mas, em tudo, que tudo por tudo
A memóira mulher da favela...
É útero!
E, em sendo uterina, cada morte
Por mais trágica, é só uma virgulinha
Dentre milhões de ?s, !s e... s
Em sendo uterina,
A memória mulher da favela
Nunca no final do parágrafo
Há ponto final. Há sempre dois pontos:
E o que vem depois dos dois pontos?!
Ouça o que diz a mulher da favela...
Mas há que prestar atenção
No “o-não-dizer” da mulher da favela
E, ou melhor, :
Este dois ultimos poemas foram publicados na Coletânia POESIA FAVELA IN LIVRO.
UM REAL NA FAVELA VALE MUITO
In memorian de Mateuzin da Baixa da Maré
(estudo ainda inacabado de um poema inspirado numa foto
em aparece a mão ensanguentada de mateuzin com um real )
Um real na favela vale muito,
Vale o pão do café das mães,
Vale meia dúzia de “ovo”
Pra misturar no miojo do almoço,
Vale uma viagem pelo mundo
Nos caminhos imensuráveis
Da web,Um real na favela vale muito,
Vale um guaravita e um traquina
Pra enganar a barriga, até chegar
Em casa quando falta merenda
Na escola,Um real na favela vale muito,
Um real, de prata e dourado,
Reluzente o ao solAlumbrando a alma sublime
Na palma da mão de um
Menino morto por um estado
Policial fascista cruel e desumano...
A prata de moeda denuncia
A espada da perversa guerra,
O ouro da moeda denuncia
A ganância da classe dominante
E sua sanha de poder,
A pequena mão espalmada
Mostrando a moeda é a própria
Mão do Tribunal Popular
Permanente do Mundo sentenciando
Que a vida de uma criança
Não tem preço, não se mede por dinheiro,
Ela é imensurável, como seus sonhos,
Suas esperanças, seu futuro, sua vida,
Um real na favela vale muito,
Um real na mão de uma criança
Assassinada numa viela de favela
Pela cruel e desumana mão armada
Do estado policial é uma sentença muda:
O Estado Policial Não presta, e antes
Que reduza a vida no Campo, favela e
na periferiaA uma prata de real,
É preciso, sentar no banco dos réus
Do Tribunal Popular dos Povos,
Ser julgado, condenado e sentenciado
A ser destruído e reduzido a nada.
Um real na favela vale muito,
Quando na mão espalmada
De uma criança morta pelo estado...
Porque mostra os governantes
Não prestam, não valem sequer
Um real de pinga aguada.
SEM VOCÊ AINDA SOMOS A ESPERA, COM VOCÊ SOMOS A ESPERANÇA.
á Pâmella Passos
Sem você, ainda somos flor, com você somos o jardim,
Sem você ainda somos arvore, com você somos a floresta,
Sem você ainda somos glóbulo, com você somos o sangue,
Sem você ainda somos gota, com você somos o oceano.
Sem você ainda somos trigo, com você somos o pão partilhado
nos fazendo companheiros e companheiras,
Sem você ainda somos uva, com você somos vinho que nos nutre, nos fortalece, nos purifica e amplia nossa lucides e faz transparente nossa amizade.
Sem você, ainda somos a espera, com você somos a esperança,
Sem você, ainda somos lágrima, com você somos o choro de alegria.
Sem você, ainda somos dedos, com você somos nossas mãos dadas.
Sem você, ainda somos pessoas, com você somos a humanidade.
Sem você, ainda somos o afeto, com você somos a ternura revolucionária guevariana.
Sem você ainda somos pulso sem algema, com você somos a liberdade conquistada.
Sem você, ainda somos negra, com você somos a mãe África e a diáspora que se faz libertação,
Sem você ainda somos mulher, com você somos todas as criaturas humanas para além dos sexos, para além dos gêneros...
39
que nos livramos do cativeiro do machismo, do sexismo, que nos oprime, nos desumaniza nos faz escravo do poder patriarcal.
Sem você ainda somos calma, com você somos a Paz que a humanidade tanta precisa,
Sem você, um homem ainda é um homem, com você um homem é uma criatura nova que, nutrido pelo seu amor, se faz um ser gentil, um homem simplesmente homem, não-macho, não sexista, não dominador.
Sem você um homem ainda é um homem, com você um homem é amante, amigo, irmão, sempre contigo... nunca a sua frente, nunca a suas costas, nunca ao seu lado... mas sim sempre com você.
Sem você um homem um homem ainda é um homem, pouco mais que uma pessoa solitária, com você um homem é todo amante, companheiro terno, carinhoso, generoso... cumplice cotidiano e perene do seu eu mulher em constante libertação.
Rio, 30 de Dezembro de 2009
aniversário de Pâmella Passos
e Betinho da Força do Rap
Deley de Acari
FIM
Assinar:
Postagens (Atom)