MAIS FAÇO PRECE, MAIS PRETA ME
APARECE.
Minha avó dizia quando aparecia algo
ou alguém indesejável de forma inesperada: Quanto mais rezo, mas assombração me
aparece. Faço um contraponto a expressão
dela com Mais faço prece, mais preta me aparece porque falo de mulher negras
que foram aparecendo na minha vida de poeta e afrocomunista não de forma assombrante
mas alumiante, alumbrante, mesmo que varias vezes de forma trágica como a
pequena Jenifer de 11 anos recentemente assassinada. Mas na maioria das vezes
de forma positiva, como foram os casos da deputada Dani Monteiro e da D.
Marinete, mãe da Marielle. Estes poemas estão sendo postados agora novamente e
estaão sendo publicados neste livro. Estes primeiros poemas foram escritos
entre 1976 e 1986 periodo em que eu estive muito próximo do movimento de
mulheres negras ainda nascente. Eles são tudo o que restou de mais de 300
poemas não sua maioria tendo mulheres compas de luta como fonte inspiradora. O
restante dos outros 300 foram queimados com todos os originais com 8 peças de
teatro, 65 contos, mais de 50 cronicas
dentro de um latão antes dele se expulso da favela de acari, três meses após
a morte de minha mãe depois de tentar estuprar minha irmã enquanto eu
trabalhava fora de casa num ciep como animador cultural. Esse epsódio me causou uma amnésia e um esterilidade
poética de quase 20 anos até que o professor Marcos Alvito me encomendasse uns
poemas para o livro
CEM ANOS DE FAVELA.
Cada preta que me aparece, depois de
uma prece enquanto eu viver nunca será a ultima, será sempre a penúltima porque
sempre aparece uma depois dela. Algumas são inclusive fictícias mas com a mesma
força de alumbranto como as reais. Algumas das fictícias que me alumiam e
alumbram por exemplo são Arminda e Lucrécia eLucrecia dos contos de Machado de
Assis e Clara dos Anjos de lima Barreto. E uma Euridice Negra, em fase de criação
num conto por mim, que consegue sair do inferno sozinha depois de descobrir que
sabe cantar ainda melhor que Orfeu que jamais precisou do canto dele pra tira-la
do inferno. Ela descobriu, como fala Italo Calvino que, numa cidade inferno é
preciso descobrir o que não é inferno, protege-lo e amplia-lo. Mais ou menos o
que as mulheres negras vem descobrindo... que sabem e podem canta tão bem ou
até melhor que os Orfeus das vidas modernas e do seu próprio canto feminino
fazem corda pra ascenderem do inferno que o machismo e o misogenismo impõem e
suas vidas pra superificie da terra fezendo da terra céu na terra.
VALA
á delma, irmã
Vala,
manancial de "xistossomose"
berço de tifo
cova natural de muitos amigos de infância
crivados de bala.
Rio dos meus barquinhos
de elástico e graveto
rio das pescarias derã
com barbante e miolo de pão.
á delma, irmã
Vala,
manancial de "xistossomose"
berço de tifo
cova natural de muitos amigos de infância
crivados de bala.
Rio dos meus barquinhos
de elástico e graveto
rio das pescarias derã
com barbante e miolo de pão.
SÍNDROME DO DESEMPREGO
Saíndo do barraco bem cedo
á procura de emprego, levou
s força do meu amor, minha fé.
No ultimo anuncio marcado,
mente e corpo abalados,
pela má aparência regeitado,deixou
que vissem seus olhos pela fome
bem fundo escavao, que vissem
o carapinha emaranhando, deixou
que vissem o suor fazendo da face negra
um ébano vitrificado
mas não deixou
que lhe vissem o medo
comum a quem vive a síndrome do desemprego
não deixou que lhe vissem
o velho medo porque é da certeza
que existe o medo em nós é que
o burguês racista faz do humano dócil escravo.
um inimigo finalmente vencido
depois que de sua humanidade
ele mesmo já havia esquecido.
Saindo do barraco bem cedo
a procura de emprego
levou a força o meu amor, minha fé
deixou um beijo gostoso Colgate
e café saboroso feito mel
voltou á noite trazendo
um beijo mau gosto de caldo de cana
amargoso feito fel.
Ah, a insegurança do amanha~
de todos, do tudo, seu velho medo
desaguado em lágrimas no regaço
do meu colo, chorado em segredo,
longe do olhar racista do senhor burguês
dono e senhor dos empregos
ah,esse imenso desejo que s
eu velho medo se transforme
com o axé de meu amor, minha fé
na minha, na sua, na nossa nova e indestrutível
coragem libertária do amanhã.
Saíndo do barraco bem cedo
á procura de emprego, levou
s força do meu amor, minha fé.
No ultimo anuncio marcado,
mente e corpo abalados,
pela má aparência regeitado,deixou
que vissem seus olhos pela fome
bem fundo escavao, que vissem
o carapinha emaranhando, deixou
que vissem o suor fazendo da face negra
um ébano vitrificado
mas não deixou
que lhe vissem o medo
comum a quem vive a síndrome do desemprego
não deixou que lhe vissem
o velho medo porque é da certeza
que existe o medo em nós é que
o burguês racista faz do humano dócil escravo.
um inimigo finalmente vencido
depois que de sua humanidade
ele mesmo já havia esquecido.
Saindo do barraco bem cedo
a procura de emprego
levou a força o meu amor, minha fé
deixou um beijo gostoso Colgate
e café saboroso feito mel
voltou á noite trazendo
um beijo mau gosto de caldo de cana
amargoso feito fel.
Ah, a insegurança do amanha~
de todos, do tudo, seu velho medo
desaguado em lágrimas no regaço
do meu colo, chorado em segredo,
longe do olhar racista do senhor burguês
dono e senhor dos empregos
ah,esse imenso desejo que s
eu velho medo se transforme
com o axé de meu amor, minha fé
na minha, na sua, na nossa nova e indestrutível
coragem libertária do amanhã.
POR UM AMOR MAIOR
Hoje tua preta amada
não pode fazer amor contigo
chegou do trabalho, cansada,
explorada pelo olhar tarado
do senhor patrão.
Hoje tua preta amada
não pode fazer amor contigo
precisou de tí, mais
que pai, irmão ou homem
precisou e encontrou-te amigo.
Hoje tua preta amada
não pode fazer amor contigo.
mas te ensinou uma amor,
um amor maior que jamais
havias aprendido.
SÓ CRIOULO
á liane Galvão.
Ipanema...
Madureira
sou favela.
Branco..
Negro
sou mestiço
Operário
intelectual
sou poeta
Machista
feminista
sou simplesmente
amante.
Esquerda
direita
sou só crioulo... só!
á liane Galvão.
Ipanema...
Madureira
sou favela.
Branco..
Negro
sou mestiço
Operário
intelectual
sou poeta
Machista
feminista
sou simplesmente
amante.
Esquerda
direita
sou só crioulo... só!
, AMAZONA NEGRA
Quando te cavalgo
sou amazona selvagem
que te tendo, te deixa ser
meu carapinha, te lanhando
peito e rosto, não é chicote.
É do Cometa-Amor
que existe em mim
negras, reluzentes
caldas múltiplas que
orvalham meu suor acre-salgado
embebendo teus lábios de meu sumo.
Suor-bálsamo que lene,
das feridas de me amar
que se abrem em ti, a dor com o prazer
que o me sorver te alucina.
Do ir e vir
do sexo no sexo
nosso ir e vir
é nosso ir.
Para o êxtase da chegada
não somos
cavalo e Amazona
mas sim um só caminho.
Quando erupe o vulcão
que é o nosso amor
esvai-se por minha garganta
peluda em carne viva
nossas lavas flamejantes
calcinando nossos ventres
e nossas coxas.
Descansamos do descanso
que é fazer amor
quando se ama.
Na esteira, semi-inconsciente,
nem somos neste momento,
um e outro, macho e fêmea
nem sentimos um e outro
homem e mulher...
De tanto nos sentirmos
sentirmos e sermos
Um e outro ao mesmo tempo.
Ainda embriagados de orgasmo,
ansiados nos esperançamos
que esta ao mesmo tempo
esta embriaguez divina
SEJA SEMPRE.
MARAVILHOSA
Maravilhosa,você dorme! sua cabeça
carapinha pousada sobre
meu peito de poeta. Gotas de suór
e húmus te molham a vúlva, reluzem
em seu púbis feito microestrelas
que me embebem os lábios embriagando
minha alma quando faço cafuné de língua
em seu cólo uterino.
Maravilhosa,você dorme! Seu coração pulsa
e tamborila feito marimba cálida,
sua respiração melodiosa me inspira
como um calímba no cío.
Marevilhosa,você dorme! Seus seios fartos
(de Yabá) roçam o céu de meus sonhos
como lilazes cúmes.
Maravilhosa,você dorme!
Te ver dormir me fascina...
És a prova mais verdadeira
que Deus existe,embora não
acredite Nele.
Nem devo temer,venerar ou amar a Ele...
Mas sim adorar,amar e desejar
descaramente somente as DEUSAS!
Maravilhosa,você dorme!
A Lua Vem lésbicamente á janela
do quarto admirar sua beleza negr
a donde os Orixás escolheram
a cor para abonitar a noite que
era feia por se incolor.
Maravilhosa,voce dorme!
E me abraça e enlaça em me
envolve na paz do seu sono
como um menino em seus braços
me sinto protegido e acolheido.
Sei-me assim nos braços de Mãe Oxum...
que me fez então libérto da sína
do machismo e a ser como sou agora
e daqui pra sempre...irmão, amigo,
amante,amado, simplesmente homem!
O poema que segue foi escrito a
pedido de Christina Vital que prefacia esse livro para um revista do Iser sobre
memória.
MEMÓRIA FAVELA:
MULHER!
“Entre hoje e o amanhã corre um rio
Que nos alerta: nas águas de quem oprime não navega quem liberta”
Renato Teixeira cantado por
Pena Branca e Xavantinho.
De favela em favela
Os homens vivem cada vez menos
Já que se matam cada vez mais
as mulheres vivem cada vez mais
Já que quase nunca se matam...
Nem mais, nem menos.
De favela em favela
Quem vive mais conta mais
Quem vive pouco não resta
Nem o evento da própria morte pra contar.
As mulheres que estão vivendo mais,
Cada vez mais vão ficando pra contar
Das vidas e das mortes e muito mais:
Sobre a existência toda que pulsa
Pungente no tempo que passa...
Do que se nasce pra vida
Até pro que se morre pra
Uma outra vida... se há.
Assim, cada vez mais a memória da favela sobrevive
Dum jeito de lembrar feminino.
Só que a mulher da favela
Não conta a favela com a voz da razão.
Pras dizer a verdade
Ela diz a favela. Ao contrário
Do senso comum, ela sensualiza
Sensualizando a favela... tipo
O pensamento parece uma coisa à toa
Mas como é que a gente voa
Quando começa a pensar.
Na memória da favela
É prestar atenção no que diz
A mulher da favela
Mas há que prestar atenção no que
Ela ‘não diz’ da favela.
Ao memorizar a favela,
É neste ‘não dizer’ que está
A verdadeira memória da favela.
A memória mulher da favela
Não é a mesma memóriamachofavela...
Não é também tesededoutoradofeminista
Nem documnetáriopraestaçãounibanco...
A memória mulher da favela
Tem carne e sangue, tem gosto e desgosto,
Tem odor e tem dor, tem idoneidade e felicidade.
A memória mulher da favela menstrúa.
É fisicamente palpável, cafunesável, visível.
A memória mulher da favela
Copula, fica molhadinha, goza
E concebe... e brota nas cozinhas,
Nas portas de rua... e nas rodas de cerveja
Se oraliza e se faz verbo
Como uma cria de parto normal
E não num parto absurdo de
Uma pesquisa de campo.
A memória mulher da favela
Por mais trágica e dolorida
Que venha ser a lembrança
É sempre uma saudade meiga
Que Dolores cantava.
A memória mulher da favela
Faz a saudade esperança do passado
Faz esperança saudade do futuro.
A memória mulher da favela
É cabeça e coração,
Razão e emoção.
Mas, em tudo, que tudo por tudo
A memóira mulher da favela...
É útero!
E, em sendo uterina, cada morte
Por mais trágica, é só uma virgulinha
Dentre milhões de ?s, !s e... s
Em sendo uterina,
A memória mulher da favela
Nunca no final do parágrafo
Há ponto final. Há sempre dois pontos:
E o que vem depois dos dois pontos?!
Ouça o que diz a mulher da favela...
Mas há que prestar atenção
No “o-não-dizer” da mulher da favela
E, ou melhor, :
“Entre hoje e o amanhã corre um rio
Que nos alerta: nas águas de quem oprime não navega quem liberta”
Renato Teixeira cantado por
Pena Branca e Xavantinho.
De favela em favela
Os homens vivem cada vez menos
Já que se matam cada vez mais
as mulheres vivem cada vez mais
Já que quase nunca se matam...
Nem mais, nem menos.
De favela em favela
Quem vive mais conta mais
Quem vive pouco não resta
Nem o evento da própria morte pra contar.
As mulheres que estão vivendo mais,
Cada vez mais vão ficando pra contar
Das vidas e das mortes e muito mais:
Sobre a existência toda que pulsa
Pungente no tempo que passa...
Do que se nasce pra vida
Até pro que se morre pra
Uma outra vida... se há.
Assim, cada vez mais a memória da favela sobrevive
Dum jeito de lembrar feminino.
Só que a mulher da favela
Não conta a favela com a voz da razão.
Pras dizer a verdade
Ela diz a favela. Ao contrário
Do senso comum, ela sensualiza
Sensualizando a favela... tipo
O pensamento parece uma coisa à toa
Mas como é que a gente voa
Quando começa a pensar.
Na memória da favela
É prestar atenção no que diz
A mulher da favela
Mas há que prestar atenção no que
Ela ‘não diz’ da favela.
Ao memorizar a favela,
É neste ‘não dizer’ que está
A verdadeira memória da favela.
A memória mulher da favela
Não é a mesma memóriamachofavela...
Não é também tesededoutoradofeminista
Nem documnetáriopraestaçãounibanco...
A memória mulher da favela
Tem carne e sangue, tem gosto e desgosto,
Tem odor e tem dor, tem idoneidade e felicidade.
A memória mulher da favela menstrúa.
É fisicamente palpável, cafunesável, visível.
A memória mulher da favela
Copula, fica molhadinha, goza
E concebe... e brota nas cozinhas,
Nas portas de rua... e nas rodas de cerveja
Se oraliza e se faz verbo
Como uma cria de parto normal
E não num parto absurdo de
Uma pesquisa de campo.
A memória mulher da favela
Por mais trágica e dolorida
Que venha ser a lembrança
É sempre uma saudade meiga
Que Dolores cantava.
A memória mulher da favela
Faz a saudade esperança do passado
Faz esperança saudade do futuro.
A memória mulher da favela
É cabeça e coração,
Razão e emoção.
Mas, em tudo, que tudo por tudo
A memóira mulher da favela...
É útero!
E, em sendo uterina, cada morte
Por mais trágica, é só uma virgulinha
Dentre milhões de ?s, !s e... s
Em sendo uterina,
A memória mulher da favela
Nunca no final do parágrafo
Há ponto final. Há sempre dois pontos:
E o que vem depois dos dois pontos?!
Ouça o que diz a mulher da favela...
Mas há que prestar atenção
No “o-não-dizer” da mulher da favela
E, ou melhor, :
CEM ANOS.
Tá
visto que em cem anos de
favela muito sangue de moprte banhou
as
terras batidas de becos, ruas e
vielas.
Mas tá visto também que na favela
há
muito mais mulher que a gente
e
muita menina vira moça toda hora,
todo
dia se
vendo meio que assustada
e
maravilhada pela primeira vez menstruada.
Vai
daí, que por benção de Mãe Oxum,
essa
saguinolência toda que
jorra na
favela
por cem anos a fio, filetes e xmbicas,
tem
sido muito menos da certeza da morte
e
muito mais da verdade da possibilidade da
vida.
Daí que, pela graça de Mãe Oxum,
nafavela,
centenariamente,
se sangra ainda muito mais
da
divina maravilha da criação
que
dos horrores letais das chacinas.
SEM VOCÊ AINDA
SOMOS A ESPERA, COM VOCÊ SOMOS A ESPERANÇA. á Pâmella Passos
Sem você,
ainda somos flor, com você somos o
jardim,
Sem você ainda somos arvore, com
você somos a floresta,
Sem
você ainda somos glóbulo, com você somos o sangue,
Sem
você ainda somos gota, com você somos o oceano.
Sem você ainda somos trigo, com você
somos o
pão partilhado nos fazendo
companheiros e companheiras,
Sem
você ainda somos uva, com você somos vinho que nos
nutre, nos fortalece, nos
purifica e amplia nossa
lucides
e
faz transparente nossa amizade.
Sem
você, ainda somos a espera, com você somos a esperança,
Sem
você, ainda somos lágrima, com você somos o choro de alegria.
Sem você,
ainda somos dedos, com você somos nossas mãos dadas.
Sem você,
ainda somos pessoas, com você somos a humanidade.
Sem você, ainda somos o afeto,
com você
somos a ternura revolucionária guevariana.
Sem
você ainda somos pulso sem algema, com você somos a liberdade
conquistada. Sem
você, ainda somos negra, com você somos a mãe África e a diáspora que se
faz
libertação,
Sem
você ainda somos mulher,
com você somos todas as criaturas humanas
para além dos sexos,
para além dos
gêneros...
que nos livramos do cativeiro do machismo, do sexismo, que nos oprime,
nos desumaniza nos
faz escravo do poder patriarcal.
Sem
você ainda somos calma, com você somos a
Paz
que a humanidade tanta precisa,
Sem
você, um homem ainda é um homem, com você um
homem é uma criatura nova
que, nutrido pelo seu
amor, se faz um ser gentil,
um homem simplesmente homem, não-macho, não
sexista, não dominador. Sem você um homem ainda é um
homem, com você
um homem é amante, amigo, irmão, sempre
contigo... nunca a sua frente,
nunca
a suas costas,
nunca ao seu lado... mas sim sempre com
você. Sem você um homem um homem ainda é
um homem, pouco
mais que uma pessoa solitária, com você um homem é todo amante,
companheiro terno, carinhoso,
generoso... cumplice cotidiano e perene do seu
eu mulher em
constante libertação.
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