segunda-feira, 22 de abril de 2019


MAIS FAÇO PRECE, MAIS PRETA ME APARECE.


Minha avó dizia quando aparecia algo ou alguém indesejável de forma inesperada: Quanto mais rezo, mas assombração me aparece.  Faço um contraponto a expressão dela com Mais faço prece, mais preta me aparece porque falo de mulher negras que foram aparecendo na minha vida de poeta e afrocomunista não de forma assombrante mas alumiante, alumbrante, mesmo que varias vezes de forma trágica como a pequena Jenifer de 11 anos recentemente assassinada. Mas na maioria das vezes de forma positiva, como foram os casos da deputada Dani Monteiro e da D. Marinete, mãe da Marielle. Estes poemas estão sendo postados agora novamente e estaão sendo publicados neste livro. Estes primeiros poemas foram escritos entre 1976 e 1986 periodo em que eu estive muito próximo do movimento de mulheres negras ainda nascente. Eles são tudo o que restou de mais de 300 poemas não sua maioria tendo mulheres compas de luta como fonte inspiradora. O restante dos outros 300 foram queimados com todos os originais com 8 peças de teatro, 65 contos, mais de 50 cronicas  dentro de um latão antes dele se expulso da favela de acari, três meses após a morte de minha mãe depois de tentar estuprar minha irmã enquanto eu trabalhava fora de casa num ciep como animador cultural.  Esse epsódio me causou uma amnésia e um esterilidade poética de quase 20 anos até que o professor Marcos Alvito me encomendasse uns poemas para o livro 



CEM ANOS DE FAVELA.


Cada preta que me aparece, depois de uma prece enquanto eu viver nunca será a ultima, será sempre a penúltima porque sempre aparece uma depois dela. Algumas são inclusive fictícias mas com a mesma força de alumbranto como as reais. Algumas das fictícias que me alumiam e alumbram por exemplo são Arminda e Lucrécia eLucrecia dos contos de Machado de Assis e Clara dos Anjos de lima Barreto. E uma Euridice Negra, em fase de criação num conto por mim, que consegue sair do inferno sozinha depois de descobrir que sabe cantar ainda melhor que Orfeu que jamais precisou do canto dele pra tira-la do inferno. Ela descobriu, como fala Italo Calvino que, numa cidade inferno é preciso descobrir o que não é inferno, protege-lo e amplia-lo. Mais ou menos o que as mulheres negras vem descobrindo... que sabem e podem canta tão bem ou até melhor que os Orfeus das vidas modernas e do seu próprio canto feminino fazem corda pra ascenderem do inferno que o machismo e o misogenismo impõem e suas vidas pra superificie da terra fezendo da terra céu na terra.



VALA

á delma, irmã

Vala,
manancial de "xistossomose"
berço de tifo
cova natural de muitos amigos de infância
crivados de bala.

Rio dos meus barquinhos
de elástico e graveto
rio das pescarias derã
com barbante e miolo de pão.


SÍNDROME DO DESEMPREGO

Saíndo do barraco bem cedo
á procura de emprego, levou
s força do meu amor, minha fé.
No ultimo anuncio marcado,
mente e corpo abalados,
pela má aparência regeitado,deixou
que vissem seus olhos pela fome
bem fundo escavao, que vissem
o carapinha emaranhando, deixou 
que vissem o suor fazendo da face negra
um ébano vitrificado
mas não deixou 
que lhe vissem o medo
comum a quem vive a síndrome do desemprego
não deixou que lhe vissem
o velho medo porque é da certeza
que existe o medo em nós é que
o burguês racista faz do humano dócil escravo.
um inimigo finalmente vencido
depois que de sua humanidade
ele mesmo já havia esquecido.

Saindo do barraco bem cedo
a procura de emprego
levou a força o meu amor, minha fé
deixou um beijo gostoso Colgate
e café saboroso feito mel
voltou á noite trazendo
um beijo mau gosto de caldo de cana
amargoso feito fel.
Ah, a insegurança do amanha~
de todos, do tudo, seu velho medo
desaguado em lágrimas no regaço
do meu colo, chorado em segredo,
longe do olhar racista do senhor burguês
dono e senhor dos empregos
ah,esse imenso desejo que s
eu velho medo se transforme
com o axé de meu amor, minha fé
na minha, na sua, na nossa nova e indestrutível
coragem libertária do amanhã.


POR UM AMOR MAIOR

Hoje tua preta amada
não pode fazer amor contigo
chegou do trabalho, cansada,
explorada pelo olhar tarado
do senhor patrão.

Hoje tua preta amada
não pode fazer amor contigo
precisou de tí, mais
que pai, irmão ou homem
precisou e encontrou-te amigo.

Hoje tua preta amada
não pode fazer amor contigo.
mas te ensinou uma amor, 
um amor maior que jamais
havias aprendido.


SÓ CRIOULO

á liane Galvão.

Ipanema...
Madureira
sou favela.

Branco..
Negro
sou mestiço

Operário
intelectual
sou poeta

Machista
feminista
sou simplesmente
amante.

Esquerda
direita
sou só crioulo... só!

, AMAZONA NEGRA

Quando te cavalgo
sou amazona selvagem
que te tendo, te deixa ser
meu carapinha, te lanhando
peito e rosto, não é chicote.
É do Cometa-Amor
que existe em mim
negras, reluzentes
caldas múltiplas que
orvalham meu suor acre-salgado
embebendo teus lábios de meu sumo.

Suor-bálsamo que lene,
das feridas de me amar
que se abrem em ti, a dor com o prazer
que o me sorver te alucina.

Do ir e vir
do sexo no sexo
nosso ir e vir
é nosso ir.
Para o êxtase da chegada
não somos
cavalo e Amazona
mas sim um só caminho.
Quando erupe o vulcão
que é o nosso amor
esvai-se por minha garganta
peluda em carne viva
nossas lavas flamejantes
calcinando nossos ventres
e nossas coxas.
Descansamos do descanso
que é fazer amor
quando se ama.
Na esteira, semi-inconsciente,
nem somos neste momento,
um e outro, macho e fêmea
nem sentimos um e outro
homem e mulher...
De tanto nos sentirmos
sentirmos e sermos
Um e outro ao mesmo tempo.
Ainda embriagados de orgasmo,
ansiados nos esperançamos
que esta ao mesmo tempo
esta embriaguez divina

 
SEJA SEMPRE.
MARAVILHOSA

Maravilhosa,você dorme! sua cabeça
carapinha pousada sobre
 meu peito de poeta. Gotas de suór
e húmus te molham a vúlva, reluzem
 em seu púbis feito microestrelas
que me embebem os lábios embriagando
 minha alma quando faço cafuné de língua
 em seu cólo uterino.
Maravilhosa,você dorme! Seu coração pulsa
 e tamborila feito marimba cálida,
sua respiração melodiosa me inspira
como um calímba no cío.
Marevilhosa,você dorme! Seus seios fartos
(de Yabá) roçam o céu de meus sonhos
como lilazes cúmes.
 Maravilhosa,você dorme!
Te ver dormir me fascina...
És a prova mais verdadeira
que Deus existe,embora não
 acredite Nele.
Nem devo temer,venerar ou amar a Ele...
 Mas sim adorar,amar e desejar
 descaramente somente as DEUSAS!
Maravilhosa,você dorme!
A Lua Vem lésbicamente á janela
 do quarto admirar sua beleza negr
a donde os Orixás escolheram

a cor para abonitar a noite que
 era feia por se incolor.
Maravilhosa,voce dorme!
E me abraça e enlaça em me
 envolve na paz do seu sono
como um menino em seus braços
me sinto protegido e acolheido.
Sei-me assim nos braços de Mãe Oxum...
que me fez então libérto da sína
do machismo e a ser como sou agora
e daqui pra sempre...irmão, amigo,
amante,amado, simplesmente homem!
O poema que segue foi escrito a pedido de Christina Vital que prefacia esse livro para um revista do Iser sobre memória.
MEMÓRIA FAVELA: MULHER!
“Entre hoje e o amanhã corre um rio
Que nos alerta: nas águas de quem oprime não navega quem liberta”
Renato Teixeira cantado por

Pena Branca e Xavantinho.
De favela em favela
Os homens vivem cada vez menos
Já que se matam cada vez mais
as mulheres vivem cada vez mais
Já que quase nunca se matam...
Nem mais, nem menos.
De favela em favela
Quem vive mais conta mais
Quem vive pouco não resta
Nem o evento da própria morte pra contar.
As mulheres que estão vivendo mais,
Cada vez mais vão ficando pra contar
Das vidas e das mortes e muito mais:
Sobre a existência toda que pulsa
Pungente no tempo que passa...
Do que se nasce pra vida
Até pro que se morre pra
Uma outra vida... se há.
Assim, cada vez mais a memória da favela sobrevive
Dum jeito de lembrar feminino.
Só que a mulher da favela
Não conta a favela com a voz da razão.
Pras dizer a verdade
Ela diz a favela. Ao contrário
Do senso comum, ela sensualiza
Sensualizando a favela... tipo
O pensamento parece uma coisa à toa
Mas como é que a gente voa
Quando começa a pensar.
Na memória da favela
É prestar atenção no que diz
A mulher da favela
Mas há que prestar atenção no que
Ela ‘não diz’ da favela.
Ao memorizar a favela,
É neste ‘não dizer’ que está
A verdadeira memória da favela.
A memória mulher da favela
Não é a mesma memóriamachofavela...
Não é também tesededoutoradofeminista
Nem documnetáriopraestaçãounibanco...
A memória mulher da favela
Tem carne e sangue, tem gosto e desgosto,
Tem odor e tem dor, tem idoneidade e felicidade.
A memória mulher da favela menstrúa.
É fisicamente palpável, cafunesável, visível.
A memória mulher da favela
Copula, fica molhadinha, goza
E concebe... e brota nas cozinhas,
Nas portas de rua... e nas rodas de cerveja
Se oraliza e se faz verbo
Como uma cria de parto normal
E não num parto absurdo de
Uma pesquisa de campo.
A memória mulher da favela
Por mais trágica e dolorida
Que venha ser a lembrança
É sempre uma saudade meiga
Que Dolores cantava.
A memória mulher da favela
Faz a saudade esperança do passado
Faz esperança saudade do futuro.
A memória mulher da favela
É cabeça e coração,
Razão e emoção.
Mas, em tudo, que tudo por tudo
A memóira mulher da favela...
É útero!
E, em sendo uterina, cada morte
Por mais trágica, é só uma virgulinha
Dentre milhões de ?s, !s e... s
Em sendo uterina,
A memória mulher da favela
Nunca no final do parágrafo
Há ponto final. Há sempre dois pontos:
E o que vem depois dos dois pontos?!
Ouça o que diz a mulher da favela...
Mas há que prestar atenção
No “o-não-dizer” da mulher da favela
E, ou melhor, :


CEM ANOS. 

Tá visto que em cem anos de favela                                            muito sangue de moprte banhou                                                                                                 as terras batidas de becos, ruas e vielas.                                                                                    Mas tá visto também que na favela                                                                                                há muito mais mulher que a gente                                                                                       e muita menina vira moça toda hora,                                                                                      todo dia se vendo meio que assustada                                                                                         e maravilhada pela primeira vez menstruada.                                                                       Vai daí, que por benção de Mãe Oxum,                                                                               essa saguinolência toda que jorra na favela                                                                                 por cem anos a fio, filetes e xmbicas,                                                                                        tem sido muito menos da certeza da morte                                                                            e muito mais da verdade da possibilidade da vida.                                                                   Daí que, pela graça de Mãe Oxum, nafavela,                                                      centenariamente, se sangra ainda muito mais                                                                    da divina maravilha da criação                                                                                            que dos horrores letais das chacinas.
SEM VOCÊ AINDA SOMOS A ESPERA, COM VOCÊ SOMOS A ESPERANÇA.                      á Pâmella Passos           
                                                                                                                                               Sem você, ainda somos flor, com você somos o jardim,                                                                Sem você ainda somos arvore, com você somos a floresta,                                                         Sem você ainda somos glóbulo, com você somos o sangue,                                                    Sem você ainda somos gota, com você somos o oceano.                                                         Sem você ainda somos trigo, com você somos o pão partilhado                                    nos fazendo companheiros e companheiras,                                                                              Sem você ainda somos uva, com você somos vinho que nos nutre,                                               nos fortalece, nos purifica e amplia nossa lucides                                                                            e faz transparente nossa amizade.                                                                                             Sem você, ainda somos a espera, com você somos a esperança,                                              Sem você, ainda somos lágrima, com você somos o choro de alegria.                                       Sem você, ainda somos dedos, com você somos nossas mãos dadas.                                      Sem você, ainda somos pessoas, com você somos a humanidade.                                        Sem você, ainda somos o afeto, com você somos a ternura revolucionária                       guevariana.                                                                                                                      Sem você ainda somos pulso sem algema, com você somos a liberdade conquistada. Sem você, ainda somos negra, com você somos a mãe África e a diáspora que se faz libertação,                                                                                                                                 Sem você ainda somos mulher, com você somos todas as criaturas humanas                               para além dos sexos, para além dos gêneros...                                                                      que nos livramos do cativeiro do machismo, do sexismo, que nos oprime,                              nos desumaniza nos faz escravo do poder patriarcal.                                                               Sem você ainda somos calma, com você somos a Paz                                                           que a humanidade tanta precisa,                                                                                               Sem você, um homem ainda é um homem, com você um homem                                              é uma criatura nova que, nutrido pelo seu amor, se faz um ser gentil,                                       um homem simplesmente homem, não-macho, não sexista, não dominador.                Sem você um homem ainda é um homem, com você um homem  é amante, amigo, irmão, sempre contigo... nunca a sua frente,                                                                       nunca a suas costas, nunca ao seu lado... mas sim sempre com você.                                 Sem você um homem um homem ainda é um homem,                                                         pouco mais que uma pessoa solitária, com você um homem é todo amante,                  companheiro terno, carinhoso, generoso... cumplice cotidiano e perene                         do seu eu mulher em constante libertação.

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