terça-feira, 21 de julho de 2009

MENINAS COMMODITYS

Por seis fins de semanas, 48 meninos da Escolinha de Futebol da Escola de Samba Favo de Acari da favela de acari vão a Barra da Tijuca, na Secretaria de Esportes e Lazer da Cidade do Rio de Janeiro disputar a Super Copa Trivella de Futebol Society. Vão acompanhados por mim e por mais dois treinadores. No primeiro jogo da equipe pré-mirim, idade até 11 anos entrou entusiasmadissima em campo,antes do adiversário, movida pela alegria de, a primeira vez, particpar de uma competição fora da favela, e com escolinhas de grandes clubes como Vasco, Flamengo, Fluminense ou de jogadores de nome como Gonçalves, ex-craque do Botafogo e da Seleção Brasileira.
A alegria se somou expressões de incredulidade e deboche quando o adversario entrou em campo com duas meninas. Uma delas começou jogando como titular.
Já perfilados pra começar a partida, um dos nossos jogadores, bom de bola, mas convecido de que joga muito mais que jogo,me diz: aí deley, vou dar uma dez "canetas" nessa novinha.
Ao final do jogo que nosso time perdeu por 5 a 3 meu lateralzinho tinha tomado duas canetas e um lençol da novinha e ainda viu amargurado ela marcar um dos cinco gols de sua equipe, num belissimo voleio da entrada da nossa área.

Terminado o jogo, no onibus, na volta pra casa, os meninos comentavam indignados que era maior vergonha perder pra um time que joga uma garota.
Só de sacanagem lembrei a eles, que outro times, possiveis proximos adversarios nossos, também tinham meninas. No que o meu indgnado e envergonhado lateralzinho, ameaça; da proxima vez vou entrar pra quebrar, nem quero saber se é mulher ou não.
No que um outro garoto perguntou:- então porque voce não quebrou aquela garota quando ela te deu o maió troncão e te jogou no alambrado.
´há aliviei né? mulher... mas não vou aliviar mais não.

O que os meninos não conseguem admitir é que pelo menos até aos 11, 12 anos as habilidades motoras, e não a força fisica, é que prevalece.
Depoimentos de jogadoras como Marta e outras jogadoras da seleção brasileira elas relembram que começaram a jogar bola bem novinhas, no meio dos garotos de 6, 7 anos.Com o tempo foram sendo "aceitas" até chegarem aos 14, 15 anos quando então tem a rarissima sorte de serem levadas para um time de futebol feminino de um clube profissional.

Esse parece ser o destino de Amanda, uma doce criaturinha de 16 anos que joga numa das escolinhas de Acari, e das cerca de 8, 10 meninas que estão participando da Super Copa Trivella.
Elas,certamente,logo logo, vão fazer parte do seleto mundo dos "craques-bebês" a que se referem a legenda de capa da matéria GOL DE OURO da Revista VEJA, de Maio de 2009.

Só que na mesma matéria, na pagina 78,no final do primeiro parágrafo, há uma frase grifada, no minimo polêmica, mas sem duvida motivadora de muita reflexão, não só pra gente que trabalha com escolinhas de futebol, as periferias das grande cidades, mas também pra pais, militantes de direitos humanos, defensores do estatuto da criança e do adolescentes, combatentes contra o trabalho infantil, e porque sim feministas. A frase, com o grifo da revista,claro.: " O jogador de futebol virou commodity e o Brasil, seu maior exportador" Essa frase, toma grande importancia e é tanto mais preocupante por ser da autoria do Sr. Raffaele Poli, um italiano pesquisador do Centro Internacional dos Estudos do Futebol.
Fui no dicionário "ver" o que significa commodity e, tá lá: commodity é mercadoria pra exportação, pra comercio internacional. Pode até ser que o Sr Poli não tivesse a intenção de comparar, melhor igualar crianças brasileiras, algumas ainda quase bebes, a outras commoditys como petroleo, soja, laranja,açaí, cupuaçu e outras frutas ou a galinhas, bois, etc. mas o fez.

O ministro dos esportes brasileiro Orlando Costa tem dado alguns alertas com relação a evasão de mini-craques brasileiros. Ao "lado" dele, só mesmo os clubes, que vem, impotentes, seus craques bebes, serem "exportados" pra europa. Contra ele, quase todo mundo, quase todo mundo, que dizer, leiamos a legenda da capa da VEJA; " O milionário negócio de descobrir "craques-bebês" brasileiros une clubes, familias e investidores".
Se une clubes, tenho minhas duvidas... talvez clubes-testa de ferro "fundados" para, ou como criadouro, viveiro, estufa, sei lá. Mas não clubes antigos e tradicionais como os grandes clubes brasileiros.

Estamos em Acari, organizando um campeonato de futebol feminino. Estou retomando o projeto Cirlanda, um antigo projeto que tenho engavetado, de incentivo feminino a pratica de esportes, á partir dos 5 anos de idade até os 15 anos,inclusive, os até agora dominados por homens, como o futebol. Recomendo a todos a leitura da matéria da VEJA. Depois de vossas leituras, gostaria de "entabular" com que interessar possa, e com que possa passar a se interessar, uma roda-de-conversa virtual e/ou mesmo face a face, sobre o tema. Finalizo esse começo dizendo que estou assim meio que com um ponta de conciência de culpa quando constato, o me vem a duvida de que: será que ao tentar propiciar as meninas,ainda na primeira infancia, a oportuinidade, de provarem que são tão capazes de praticar qualquer esporte e, conquistar espaços antes reservados os homens, não estou, sem mesmo intenção, jogando-as no billhonario balaio das commodity, ao que se refere o ser Poli, pesquisador do Centro Internacional de Estudos do Futebol.
Pode se também que, minha consciencia de culpa, permaneça apenas, no subliminar da minha consciência, se conseguir que essas meninas, pelo menos a do nosso projeto, assim como os meninos, despertem desde sedo, a consciencia critica e criativa, de craques brasileiros que com afonsinho, socrates, vladimir e estrangeiros com zidande.
craques de fama internacional, que nunca perdaram a consciencia de "classe trabalhadora" do futebol, mesmo tendo ganho a grana que ganharam jogando bola.

Se algumas dessas meninas se compreederem também, como trabalhadoras, mulheres trabalhadoras do futebol, e de alguma maneira, participarem de ações coletivas, com tal...
já é "uma".
Nota: A equipe Mirim do Favo de Acari , depois de oito jogosfoi campeã na sua categoria perdendo apenas um jogo de 2 x 1 superando equipes fortes e "ricas" como Vasco Barra, Fla Barra, Flu Barra, Escolinha do Gonçalves,etc

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