quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

POR UM AMOR MAIOR

POR UM AMOR MAIOR A presente postagem de poemas no blog significa antes de tudo uma rendição a minha imcapacidade de digitar, formar e publicar um livro escrito no papel. É uma capitulação a minha incapacidade de lidar com o computador e com a net. A minha intenção em publicar um livro no papel “era” viabilizar acesso á um número bem maior de pessoas além daquelas em numero restrito que tiveram acesso aos poemas aqui reunidos que já haviam sido publicados em livros e outras publicações escritas que, por diversas razões, desde o alto preço de capa á circulação restrita as tornaram inacessiveis ao povo da favela de Acari e de alguns bairros da periferia. Decidi definitivamente de tentar publicar o livro no papel. Uma vez publicado, com o título ‘POR UM AMOR MAIOR”, com cerca de 60 paginas e duas edições de 300 exemplares, num total de 600 iria vendo á baixo custo, 12 á 16 Reais, uma parte e distribui-los gratuitamente na Favela de Acari. Porém, depois de varias tentativas frustradas, por mim mesmo, a mim, aqui estão as poesias com titulo do livro postadas no blog www.deleydeacari.blogspot.com. Leiam não como uma simples, ou mais uma postagem mas como um “livro eletronico” em que pese a precariedade editorial que meu precário blog oferece. Republica-los no Blog todos reunidos, já que foram publicados aqui separados é uma forma de me livrar deles, lança-los ao vento, a calmaria e a tempestade da web. O primeiro poema do blog, meio que um hai kai foi escrito de depois lançado numa camisa sob o patrocionio de Sebatião Soares e Valeria Moreira, então, lá pros fins dos anos 80, então no Bloco Afro Alafin Aye. Deus, Criou-lo A Mulher. Os poemas que se seguem é tudo que restou de um total de 535 poemas cujos os originais foram queimados num latão de 200 litros pelo meu padastro, dois meses depois da morte de minha mãe em 1986, depois que ele, por duas vezes, tentou currar minha irmã, e ter sido expulso da favela pelo Cy de Acari. O choque provocado pela violencia contra minha irmã somado ao trauma da perda de 535 poemas orinais, oito peças de teatro e 68 contos literários queimados pelo meu padrastro me causaram um histeria literária que durou cerca de 15 anos. Só consegui criar um poema de novo em 1996, por ocasião de um ato contra a Chacina de Vigário Geral. VALA á delma, irmã Vala, manancial de xistossomose beço de tifo cova natural de muitos amigos de infancia crivados de bala. Rio dos meus barquinhos de elástico e graveto... Rio das pescarias de rã com barbante e miolo de pão PARA ALÉM DE TESÃO E aquela tesão da manhã que rareou um pouco nodia na cozinha e no tanque da madame E aquela tesão da manhã que rareou um pouco mais ainda com o sufoco no onibus Castelo-Acari sem sequer saber se chegava viva ou não E aquela tesão da manhã que rareou ainda mais um pouco com a fome não saciada pelo pedaço de ovo com macarrão e feijão requentado pra sobrar mais um pouco pras crianças almoçarem amanhã, dividindo o pouco, irmão com irmão. E aquela tesão que pouco a pouco se rareou mais um pouco até ser quase só desespero Esse amor feito quase sem gosto e com muito cansaço até o gozo misto de orgasmo e afrição. Esse maior feito dum outro jeito de se amar que nos foi preciso encontrar pra fazermos amor bem gostoso Porque só a gente se amando, se amando muito mesmo para além das necessidades do espirito e do corpo ou simplesmente paixão pra conseguir fazer amor gostoso cansada e quase sem tesão. SÍNDROME DO DESEMPREGO Saindo de casa bem cedo á procura de emprego, levou força do meu amor, minha fé. No ultimo anúncio marcado mente e corpo abalados, pela má aparência rejeitado, deixou que vissem seus olhos pela fome bem fundo escavado, que vissem o carapinha emarenhado, deixou que vissem o suor fazendo da face negra um ébano vitrificado. Mas não deixou que lhe vissem o medo comum a quem vive a síndrome do desemprego não deixou que lhe vissem o velho medo porque é da certeza que existe o medo é que o burgues racista faz do humano dócil escravo um inimigo finalmente vencido depois que sua humanidade ele mesmo já havia esquecido. Saindo de casa bem cedo á procura de emprego, levou a força do meu amor minha fé Deixou um beijo gostoso de Colgate e café saboroso feito mel. Voltou á noite trazendo um beijo mau gosto de caldo de cana e pastel amargoso feito fel. Ah, a insegurança do amanhã, de todos, do tudo. Ah, seu velho medo desaguado em lágrimas no regaço do meu colo, chorado em segredo longe do olhar racista do senhor burgues dono e senhor dos empregos. Ah, esse imenso desejo que seu velho medo se transforme com o axé do meu amor, minha fé na minha, na sua, na nossa nova e indestrutivel coragem libertária do amanhã. POR UM AMOR MAIOR Hoje tua preta amanda não pode fazer amor contigo chegou do trabalho cansada, explorada, currada, assediada pelo olhar tarado do senhor patrão. Hoje tua preta amada não pode fazer amor contigo. Precisou de tí mais que pai, irmão ou homem... precisou e encontrou-te amigo. Hoje tua preta amada não pode fazer amor contigo mas te ensinou um amor, um amor maior que jamais havias aprendido. DOMINGO A Catuaba para escorregar o café um giro na feira A Catuaba para escorregar o café um giro na feira comprar uma Roberta Close para comer ao molho pardo a pelada no rala-coco pra tirar a barriga um mocoto com arroz uma cerveja com o vapô da área na tendinha do tião um pagode esperto um samba do Ne do Wilson o macara á tarde Vasco e Flamengo de casa cheia Os trapalhões na tve o fantastico mentir da vida uma bimbada na nega para relaxar corpo e mente e amanhã acordar tranqulis e ser explorado pelo patrão numa boa... E me deixar fazendo o almoço uqe será jantar talves amanhã outra vez almoço que voce ira comer temperado com amortesão que sempre fica recolhido em meu corpo inteiro ardente, inquieto, angustiado de insastifação e frustração de quase sempre e esse quase sempre entre nós é todo dia... que voce me come, jorra-se cai pro lado e dorme antes mesmo que eu sinta dor, prazer ou gozo de ter voce dentro de mim. ÍVO VÊ O OVO á delma, irmã amada. Barquinho de graveto nas valas da favela banhos de rio jogo de gude cachorro fazendo trenzim dibico de pipa vizinha de perna aberta aparcendo a calcinha pique de esconder gazeta bem batida machucadinho no dedo priminha fazendo xixi cavalo calvagando professora sorrindo correição de formiga manga roubada contar estrelas com dedo viajar pelo mundo na goiabeira do fundo do quintal ver São Jorge na Lua... Tudo isso me assustava fascinava e emocionava a um só tempo fazendo da nossa infância pobre e desamada uma infância quase feliz. Mas nada, nada me assustava e fascinava mais a um só tempo que ficarmos horas afio venho pintinhos nascerem do ovo. SÓ CRIOULO a líane galvão Ipanema, Madureira, sou Favela. Branco, negro, sou mestiço. Operario, intelectual, sou poeta. Machista, Feminista, sou simplesmente amante. Esquerda, Direita, Sou só crioulo... só. QUEM DIZ QUE... NÃO VIVE, NÃO SABE O QUE DIZ Quem diz que favela é quilombo urbano não vive, não sabe o que diz. Não vive, não sabe da angústia da favela. Quem diz que favela é quilombo urbano não vive, não sabe o que diz. Não vive o medo que a favela vive constantemente. Quem diz que favela é quilombo urbano não vive, não sabe o que diz. Não vive a violencia do crime organizado que oprime a favela. Quem diz que favela é quilombo urbano não vive, não sabe o que diz. Não vive a miséria que vive a favela. Quem diz que favela é quilombo urbano não vive, não sabe o que diz. Não vive os abusos e as chacinas policiais que atingem a favela. Quem diz que favela é quilombo urbano não vive, não sabe o que diz. Só vive a favela nas retóricas academicas de suas teses de doutorado. Quem diz que favela é quilombo urbano não vive, não sabe o que diz. Só vive a favela nas lombras alucinadas das madrugas do Baixo-Gavea ainda meio que cheirado. Quem diz que favela é quilombo urbano não vive, não sabe o que diz. Só vive a favela no assistencialismo paternalista da neodireita vivariqueana que periga imobilizar a favela de sua autonomia. Quem dizque favela é quilombo urbano não vive, não sabe o que diz. Não sabe que quilombo urbano seria sinonimo de socialismo, não machismo, não racismo, igualdade, irmandade, parceria, ajuda mútua, amor, felicidade, harmonia... e que na favela há muito pouco de cada isso um quase nada de cada isso. Daí que, a existencia de favela é ela mesma a prova mais contundente da inexistencia de quilombos urbanos. AMAZONA NEGRA Quando te cavalgo sou amazona selvagem que te tendo, te deixa ser meu carapinha, te lanhando peito e rosto, não é chicote. É do Cometa-Amor que existe em mim negras, reluzentes caldas múltiplas que orvalham meu suor acre-salgado embebendo teus lábios de meu sumo. Suor-bálsamo que lene, das feridas de me amar que se abrem em ti, a dor com o prazer que o me sorver te alucina. Do ir e vir do sexo no sexo nosso ir e vir é nosso ir. Para o êxtase da chegada não somos cavalo e Amazona mas sim um só caminho. Quando erupe o vulcão que é o nosso amor esvai-se por minha garganta peluda em carne viva nossas lavas flamejantes calcinando nossos ventres e nossas coxas. Descansamos do descanso que é fazer amor quando se ama. Na esteira, semi-inconsciente, nem somos neste momento, um e outro, macho e fêmea nem sentimos um e outro homem e mulher... De tanto nos sentirmos sentirmos e sermos Um e outro ao mesmo tempo. Ainda embriagados de orgasmo, ansiados nos esperançamos que esta ao mesmo tempo esta embriaguez divina SEJA SEMPRE. MARAVILHOSA Maravilhosa,você dorme! sua cabeça carapinha pousada sobre meu peito de poeta. Gotas de suór e húmus te molham a vúlva, reluzem em seu púbis feito microestrelas que me embebem os lábios embriagando minha alma quando faço cafuné de língua em seu cólo uterino. Maravilhosa,você dorme! Seu coração pulsa e tamborila feito marimba cálida, sua respiração melodiosa me inspira como um calímba no cío. Marevilhosa,você dorme! Seus seios fartos(de Yabá) roçam o céu de meus sonhos como lilazes cúmes. Maravilhosa,você dorme! Te ver dormir me fascina... És a prova mais verdadeira que Deus existe,embora não acredite Nele. Nem devo temer,venerar ou amar a Ele... Mas sim adorar,amar e desejar descaramente somente as DEUSAS! Maravilhosa,você dorme! A Lua Vem lésbicamente á janela do quarto admirar sua beleza negra donde os Orixás escolheram a cor para abonitar a noite que era feia por se incolor. Maravilhosa,voce dorme! E me abraça e enlaça em me envolve na paz do seu sono como um menino em seus braços me sinto protegido e acolheido. Sei-me assim nos braços de Mãe Oxum...que me fez então libérto da sína do machismo e a ser como sou agora e daqui pra sempre...irmão, amigo,amante,amado, simplesmente homem! Esse é o primeiro poema que consegui escrever depois de 15 anos de impotencia poetica. Como já escrevi á pouco foi criado para um ato contra a cachina de VG. SE FICAM IMPUNES... NOS CHACINAM A DIGNIDADE Chacinam em Hiroxima, Nahasaki, Auschwistz... se ficam impunes...uma chacina contra nossa verdade. Depois, que verdade diremos ás nossas crianças e toda gente que amamos e anos amam também. Chaicina em Sharpville, Saigon, Luanda... Se ficam impunes... uma chacina contra nosso olhar. Depois, com que olhares olharemos nos olhos de nossas crianças e toda gente que amamos e nos amam também. Chacinam em Ruanda em Bagdá... Guerra do Golfo... Se ficam impunes... uma chacina contra nossa alegria. Depois, com que alegria abraçaremos as nossas crianças e toda gente que amamos nos amam também. Chacinam no Carandiru, na Candelária, em acari, ianomamis... se ficam impunes...uma chacina contra nossa esperança. Depois, com que esperança mostraremos o caminho para nossas crianças...Com que esperança caminharemos junto com ela e toda gente que amamos e que nos amam também. Chacinam em Eldorado dos Carajás em Belford Roxo, em Vigario Geral se ficam impunes...uma chacina contra nosso senso de justiça. Depois, que senso de justiça legaremos ás nossas crianças e a toda gente que amamos e que nos amam também Chacinam em Sabra e Shatila, se ficam impunes... uma chacina contra o amor que existe em nós. Depois, com que amor amaremos nossas crianças e a toda gente que amamos e que nos amam também Chacina na favela, chacinam no campo, chacinam na cidade se ficam impunes...uma chacina contra nossa dignidade humana. Depois, com que dignidade continuaremos vivendo com nossas crianças e com toda gente que amamos e nos amam também. Chacinam nossas crianças, chacinam a gente que amamos e que nos amam também... se ficam impunes...uma chacina contra nossa própria vida. Depois, que vida continuaremos a viver... sem verdade, ,sem olhar, sem alegria, sem esperança, sem justiça, sem amor e sem dignidade humana. Os poemas que vem a seguir foram escritos por “encomenda” para o livro “UM SECULO DE FAVELA” organizado por Marcos Alvito e Alba Zaluar. FAVELA: CEM ANOS. Tá visto que em cem anos de favela muito sangue de moprte banhou as terras batidas de becos, ruas e vielas. Mas tá visto também que na favela há muito mais mulher que a gente e muita menina vira moça toda hora, todo dia se vendo meio que assustada e maravilhada pela primeira vez menstruada. Vai daí, que por benção de Mãe Oxum, essa saguinolência toda que jorra na favela por cem anos a fio, filetes e chimvicas, tem sido muito menos da certeza da morte e muito mais da verdade da possibilidade da vida. Daí que, pela graça de Mãe Oxum, nafavela, centenariamente, se sangra ainda muito mais da divina maravilha da criação que dos horrores letais das chacinas. ACARI-SUPRAEMERGENTE ( ou entregando a favela a cidade) Quem sabe na próxima enchente a favela submerge no Rio Acari duma vez... só de vez E emerge na Avenida Sernambetiba frente a barraca do Pepê... Vái daí que para o gáldio dos emergentes... dá até pra acreditar que só assim nós da favela sejamos entregados saco da cbeça e algemas nos pulsos favelabairranamente á cidade... Zé Gabiolé: ói nós da favela supraemergentes da Barra. REGRAS E EXCREÇÕES Vê legal... são cento e cinquenta e tres bairros e mais de seiscentes favelas dentro deles... coisa meio assim que matar o porco tirar a tripa do porco, picar o porco e botar o porco dentro tripa que vira lingüiça. Vê legal... que já há mais favela que bairro e agora os bairros tão dentro das favelas. Vê legal então que já não é alguma pobreza dentro de muita riqueza. Agora é alguma riqueza dentro de muita pobreza. Vê legal então se favela hoje é regra, então se bairro é excesão, Ser da favela hoje é regra, ser do bairro hoje é excreção. NÃO HÁ UM CANTO DA FAVELA Não há um canto de favela que não guarde uma história. Não há um canto de favela que não tenha um conto pra contar. Não há um canto de favela que não guarde histórias nas marcas da ultima enchente nas paredes dos barracos que levou agua á baixo tvsvideosgeladeiras armários, roupaspanelas que ficou-se devendo prestações mas com sorte saiu-se com vida. Não há um canto da favela um cantinho de viela que não guarde ainda os sons das vozinhas femininas infantis brincando de casinha e Bárbie até uma sairavada de AR-15 botar todo mundo embaixo da mesa da cozinha longe do lugar da bala perdida achar um. Não há um canto da favela que não guarde as vozes sussurradas dos meninos contando a boca miúda os feitos lendários de Jotaélli quando da retomada épica do seu Reino d'Pó das parades do Acari. Não há um canto da favela que não guarde o testemunho choroso de um irmão em Deus subitamente per'vertido a fé cristã depois de tantas dores e horrores que infligiu aos seus inimigos e suas familias aqui na Terra. Este poema abaixo foi escrito a pedido da Cristina Vital para uma publicação do ISER sobre Memória na Favela. MEMÓRIA FAVELA: MULHER! Á Cristina vital “Entre hoje e o amanhã corre um rio Que nos alerta: nas águas de quem oprime não navega quem liberta” Renato Teixeira cantado por Pena Branca e Xavantinho. De favela em favela Os homens vivem cada vez menos Já que se matam cada vez mais as mulheres vivem cada vez mais Já que quase nunca se matam... Nem mais, nem menos. De favela em favela Quem vive mais conta mais Quem vive pouco não resta Nem o evento da própria morte pra contar. As mulheres que estão vivendo mais, Cada vez mais vão ficando pra contar Das vidas e das mortes e muito mais: Sobre a existência toda que pulsa Pungente no tempo que passa... Do que se nasce pra vida Até pro que se morre pra Uma outra vida... se há. Assim, cada vez mais a memória da favela sobrevive Dum jeito de lembrar feminino. Só que a mulher da favela Não conta a favela com a voz da razão. Pras dizer a verdade Ela diz a favela. Ao contrário Do senso comum, ela sensualiza Sensualizando a favela... tipo O pensamento parece uma coisa à toa Mas como é que a gente voa Quando começa a pensar. Na memória da favela É prestar atenção no que diz A mulher da favela Mas há que prestar atenção no que Ela ‘não diz’ da favela. Ao memorizar a favela, É neste ‘não dizer’ que está A verdadeira memória da favela. A memória mulher da favela Não é a mesma memóriamachofavela... Não é também tesededoutoradofeminista Nem documnetáriopraestaçãounibanco... A memória mulher da favela Tem carne e sangue, tem gosto e desgosto, Tem odor e tem dor, tem idoneidade e felicidade. A memória mulher da favela menstrúa. É fisicamente palpável, cafunesável, visível. A memória mulher da favela Copula, fica molhadinha, goza E concebe... e brota nas cozinhas, Nas portas de rua... e nas rodas de cerveja Se oraliza e se faz verbo Como uma cria de parto normal E não num parto absurdo de Uma pesquisa de campo. A memória mulher da favela Por mais trágica e dolorida Que venha ser a lembrança É sempre uma saudade meiga Que Dolores cantava. A memória mulher da favela Faz a saudade esperança do passado Faz esperança saudade do futuro. A memória mulher da favela É cabeça e coração, Razão e emoção. Mas, em tudo, que tudo por tudo A memóira mulher da favela... É útero! E, em sendo uterina, cada morte Por mais trágica, é só uma virgulinha Dentre milhões de ?s, !s e... s Em sendo uterina, A memória mulher da favela Nunca no final do parágrafo Há ponto final. Há sempre dois pontos: E o que vem depois dos dois pontos?! Ouça o que diz a mulher da favela... Mas há que prestar atenção No “o-não-dizer” da mulher da favela E, ou melhor, : Este dois ultimos poemas foram publicados na Coletânia POESIA FAVELA IN LIVRO. UM REAL NA FAVELA VALE MUITO In memorian de Mateuzin da Baixa da Maré (estudo ainda inacabado de um poema inspirado numa foto em aparece a mão ensanguentada de mateuzin com um real ) Um real na favela vale muito, Vale o pão do café das mães, Vale meia dúzia de “ovo” Pra misturar no miojo do almoço, Vale uma viagem pelo mundo Nos caminhos imensuráveis Da web,Um real na favela vale muito, Vale um guaravita e um traquina Pra enganar a barriga, até chegar Em casa quando falta merenda Na escola,Um real na favela vale muito, Um real, de prata e dourado, Reluzente o ao solAlumbrando a alma sublime Na palma da mão de um Menino morto por um estado Policial fascista cruel e desumano... A prata de moeda denuncia A espada da perversa guerra, O ouro da moeda denuncia A ganância da classe dominante E sua sanha de poder, A pequena mão espalmada Mostrando a moeda é a própria Mão do Tribunal Popular Permanente do Mundo sentenciando Que a vida de uma criança Não tem preço, não se mede por dinheiro, Ela é imensurável, como seus sonhos, Suas esperanças, seu futuro, sua vida, Um real na favela vale muito, Um real na mão de uma criança Assassinada numa viela de favela Pela cruel e desumana mão armada Do estado policial é uma sentença muda: O Estado Policial Não presta, e antes Que reduza a vida no Campo, favela e na periferiaA uma prata de real, É preciso, sentar no banco dos réus Do Tribunal Popular dos Povos, Ser julgado, condenado e sentenciado A ser destruído e reduzido a nada. Um real na favela vale muito, Quando na mão espalmada De uma criança morta pelo estado... Porque mostra os governantes Não prestam, não valem sequer Um real de pinga aguada. SEM VOCÊ AINDA SOMOS A ESPERA, COM VOCÊ SOMOS A ESPERANÇA. á Pâmella Passos Sem você, ainda somos flor, com você somos o jardim, Sem você ainda somos arvore, com você somos a floresta, Sem você ainda somos glóbulo, com você somos o sangue, Sem você ainda somos gota, com você somos o oceano. Sem você ainda somos trigo, com você somos o pão partilhado nos fazendo companheiros e companheiras, Sem você ainda somos uva, com você somos vinho que nos nutre, nos fortalece, nos purifica e amplia nossa lucides e faz transparente nossa amizade. Sem você, ainda somos a espera, com você somos a esperança, Sem você, ainda somos lágrima, com você somos o choro de alegria. Sem você, ainda somos dedos, com você somos nossas mãos dadas. Sem você, ainda somos pessoas, com você somos a humanidade. Sem você, ainda somos o afeto, com você somos a ternura revolucionária guevariana. Sem você ainda somos pulso sem algema, com você somos a liberdade conquistada. Sem você, ainda somos negra, com você somos a mãe África e a diáspora que se faz libertação, Sem você ainda somos mulher, com você somos todas as criaturas humanas para além dos sexos, para além dos gêneros... 39 que nos livramos do cativeiro do machismo, do sexismo, que nos oprime, nos desumaniza nos faz escravo do poder patriarcal. Sem você ainda somos calma, com você somos a Paz que a humanidade tanta precisa, Sem você, um homem ainda é um homem, com você um homem é uma criatura nova que, nutrido pelo seu amor, se faz um ser gentil, um homem simplesmente homem, não-macho, não sexista, não dominador. Sem você um homem ainda é um homem, com você um homem é amante, amigo, irmão, sempre contigo... nunca a sua frente, nunca a suas costas, nunca ao seu lado... mas sim sempre com você. Sem você um homem um homem ainda é um homem, pouco mais que uma pessoa solitária, com você um homem é todo amante, companheiro terno, carinhoso, generoso... cumplice cotidiano e perene do seu eu mulher em constante libertação. Rio, 30 de Dezembro de 2009 aniversário de Pâmella Passos e Betinho da Força do Rap Deley de Acari FIM

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