quarta-feira, 18 de março de 2015

MAS,... PRA ONDE VAI O FEMINISMO NEGRO,MESMO? SABENDO D’ONDE VEM?






  Não sei se sei. Só vou saber d’agora escrevendo este texto e postando lá no meu blog.

Uma  pista: “ o pensamento parece uma coisa atoa  mas como é que a gente voa quando começa a pensar.” Sabença de Lupicínio Rodrigues.

Saber coisas dessa linhagem, feminismo negro, pode-se se saber mais sabendo  se começar a pensar voando pra dentro de si mesmo.

Claro que, um homem negro como eu, jamais vai conseguir voar tão fundo nas fundezas do Tempo que é a alma que Olorum deu a cada um de, como uma mulher negra pode mergulhar.


Esse mergulho  de sabença sobre feminismo negro é inevitável e mesmo desejável que se submerja nas águas da afrodiáspora no Brasil.


Por exemplo: é certo, ou quase, que o Quilombo do Palmares, na verdade era uma rede de quilombos que se espalhava num perímetro de dezenas de quilômetros. Suas primeiras edificações datam do inicio dos anos 1.600 e a principal fortaleza de Palmares teria sido destruída em 1695.

Há evidencias que indicam que apesar da morte de Zumbi e a destruição da fortaleza principal a resistência palmarina tenha ido até pelo menos 1707.

Pesquisadores e historiadores nos informam que, pelo menos um quilombo dos 12 que compunham a rede de quilombos do Quilombo do Palmares, foi comandado por uma mulher. Isso por dezenas de anos. Me atrevo a presumir que essa comandante guerreira tenha imprimido no quilombo que comandava, mais que um toque feminino, uma forma de relações de gênero internas onde a opressão sobre as palmarinas era mínima ou inexistente.

Poderia escrever sobre outros exemplos, passando por Luiza Mahin na Salvador das  quatro  primeira  décadas do Séc. 19.


Pela seita Gélédes, ou pelo protagonismo de yalorixás, mulheres sacerdotisas que assumiram a frente dos terreiros, nos fins do Século 19 até hoje.

Mas, levando-se em consideração que, quanto mais velho se fica, mas a memória coletiva fica rala, vou dar um vôo de pato, na minha mente senil e pousar num ponto onde vi e vivenciei o feminismo negro nascer, ou melhor germinar sobre a terra já que já era planta crescendo sob a terra antes de brotar nos salões do IPCN nos fins dos anos 70, numa fase de retomada do Movimento Negro,ou revigoramento.


Antes de continuar preciso dizer que, pra mim e, certamente para muitas outras pessoas negras e afrodescendentes como eu, é racismo e eurocentrismo dizer que o feminismo negro, nasceu como dissidência de mulheres negras do feminismo de esquerda americano ou eurodescendente.



É minimizar a importância e desqualificar as resistências individuais, de inicio, e coletivas, inclusive com formação de organizações negras feministas nos fins de anos 70, começo de 80 e principalmente anos 90.


Voltando ao IPCN, minha memória me fala de um dia lá pelo ano de 1979 que presenciei a camarada Dulce Vasconcelos, em meio a uma plenária de cerca de 60 irmãs e irmãos, pelo menos uns 52,54 irmãos e 5 ou 6 irmãs, como nos chamávamos na época, protestar contra os irmãos que iam as plenárias e eventos do IPCN e não levavam suas companheiras e ainda davam em cima das poucas mulheres, irmãs negras, que iam lá sozinhas. Na plenária neste dia, também estava seu companheiro/esposo Jair.

Ambos, Dulce e Jair, lideravam o CEBA, de Niterói ,uma das varias organizações negras do interior. O principal projeto político para libertação das irmãs e irmãos negros, do CEBA, era a criação de uma fazenda coletiva, bem parecida com a de um sítio quilombola, hoje. Um projeto de organização negra rural, que os negros e negras  urbanos e de classe pobre remediada, acham legal, mas pouco viável.

Na segunda parte desse texto, dá pra falar do surgimento das organizações negras feministas surgidas de grupos de mulheres que reuniam no CEAP, no próprio IPCN... isso: do nascimento do Coletivo NZinga, do Crioula, do Bloco Afro Agbara Dudu e da visibilização do lesbianismo negro ainda por aí por esse tempo lá.


Nunca é demais deixar claro que, por melhor e mais louvável que seja o que escrevo sobre feminismo negro aqui no meu blog, nem de longe chega perto o quanto as compas negras podem fazer melhor.

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