Não sei se sei. Só vou saber d’agora escrevendo este
texto e postando lá no meu blog.
Uma pista: “
o pensamento parece uma coisa atoa mas
como é que a gente voa quando começa a pensar.” Sabença de Lupicínio Rodrigues.
Saber coisas dessa linhagem, feminismo negro, pode-se
se saber mais sabendo se começar a
pensar voando pra dentro de si mesmo.
Claro que, um homem negro como eu, jamais vai conseguir
voar tão fundo nas fundezas do Tempo que é a alma que Olorum deu a cada um de,
como uma mulher negra pode mergulhar.
Esse mergulho de sabença sobre feminismo negro é inevitável
e mesmo desejável que se submerja nas águas da afrodiáspora no Brasil.
Por exemplo: é certo, ou quase, que o Quilombo do
Palmares, na verdade era uma rede de quilombos que se espalhava num perímetro de
dezenas de quilômetros. Suas primeiras edificações datam do inicio dos anos
1.600 e a principal fortaleza de Palmares teria sido destruída em 1695.
Há evidencias que indicam que apesar da morte de
Zumbi e a destruição da fortaleza principal a resistência palmarina tenha ido
até pelo menos 1707.
Pesquisadores e historiadores nos informam que, pelo
menos um quilombo dos 12 que compunham a rede de quilombos do Quilombo do
Palmares, foi comandado por uma mulher. Isso por dezenas de anos. Me atrevo a
presumir que essa comandante guerreira tenha imprimido no quilombo que
comandava, mais que um toque feminino, uma forma de relações de gênero internas
onde a opressão sobre as palmarinas era mínima ou inexistente.
Poderia escrever sobre outros exemplos, passando por
Luiza Mahin na Salvador das quatro primeira décadas do Séc. 19.
Pela seita Gélédes, ou pelo protagonismo de
yalorixás, mulheres sacerdotisas que assumiram a frente dos terreiros, nos fins
do Século 19 até hoje.
Mas, levando-se em consideração que, quanto mais
velho se fica, mas a memória coletiva fica rala, vou dar um vôo de pato, na
minha mente senil e pousar num ponto onde vi e vivenciei o feminismo negro
nascer, ou melhor germinar sobre a terra já que já era planta crescendo sob a
terra antes de brotar nos salões do IPCN nos fins dos anos 70, numa fase de
retomada do Movimento Negro,ou revigoramento.
Antes de continuar preciso dizer que, pra mim e,
certamente para muitas outras pessoas negras e afrodescendentes como eu, é
racismo e eurocentrismo dizer que o feminismo negro, nasceu como dissidência de
mulheres negras do feminismo de esquerda americano ou eurodescendente.
É minimizar a importância e desqualificar as resistências
individuais, de inicio, e coletivas, inclusive com formação de organizações
negras feministas nos fins de anos 70, começo de 80 e principalmente anos 90.
Voltando ao IPCN, minha memória me fala de um dia lá
pelo ano de 1979 que presenciei a camarada Dulce Vasconcelos, em meio a uma
plenária de cerca de 60 irmãs e irmãos, pelo menos uns 52,54 irmãos e 5 ou 6
irmãs, como nos chamávamos na época, protestar contra os irmãos que iam as
plenárias e eventos do IPCN e não levavam suas companheiras e ainda davam em
cima das poucas mulheres, irmãs negras, que iam lá sozinhas. Na plenária neste
dia, também estava seu companheiro/esposo Jair.
Ambos, Dulce e Jair, lideravam o CEBA, de Niterói ,uma
das varias organizações negras do interior. O principal projeto político para
libertação das irmãs e irmãos negros, do CEBA, era a criação de uma fazenda
coletiva, bem parecida com a de um sítio quilombola, hoje. Um projeto de
organização negra rural, que os negros e negras urbanos e de classe pobre remediada, acham
legal, mas pouco viável.
Na segunda parte desse texto, dá pra falar do
surgimento das organizações negras feministas surgidas de grupos de mulheres
que reuniam no CEAP, no próprio IPCN... isso: do nascimento do Coletivo NZinga,
do Crioula, do Bloco Afro Agbara Dudu e da visibilização do lesbianismo negro
ainda por aí por esse tempo lá.
Nunca é demais deixar claro que, por melhor e mais
louvável que seja o que escrevo sobre feminismo negro aqui no meu blog, nem de
longe chega perto o quanto as compas negras podem fazer melhor.
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