quarta-feira, 22 de julho de 2009

ACARI MEMÓRIA MULHER


Quando vim morar em Acari, em 1974, já tinha uma boa caminhada na vida cultural suburbana. Minha avó era a matriarca de um time de futebol de Várzea muito popular na Baixada Fluminese, na cidade de Nilópolis, em com meus 10 anos de idade botava no ar o serviço de alto falantes do club.
Entre uma música e outra em passava recados de moradores uns pros outros, sintonizava o Reporter Esso, O Globo no Ar,
O Programa Hoje é Dia de Rock, o Program Musical dos Bairros da Rádio Mundial e as atrações dos Bailes do Clube, além da agenda dos jogos do time pelos quintos cantos do Rio de Janeiro e da Baixada.
Em 1974 eu fazia teatro independente na zona oeste e participava do Movimento cultural Marginal Suburbano do Rio.
Os patriarcas da minha familia, ou morreram sedo, tiveram ausentes da criação dos filhos na maior parte do tempo.
Isso fez com que nossas mulheres pudessem fazer de nós homens mais delas que elas nossas, e exercer um matriarcado que se, não conseguiu vencer o patriarcado da sociedade e que vivemos, pelo menos conseguiram sustentar uma longa luta de guerrilhas que perduram até os dias de hoje.
A arma mais poderosa que essas mulheres tem usado para resistir por tanto tempo e nos manter no “nosso lugar” aliada
Uma singular capacidade de boca á boca manter viva a mémoria de cinco gerações, desde a vida na roça nos anos 20 e 30 até agora quase 2010: Desde a Vó Quita, filha de bugre com crioulo pega a laço no meio da mata atlántica até Tía Mariquinha, a atual matriarca da familia, com 85 anos, mãe de 10 filhos, seis homens, 4 mulheres, o mais velho com 68 anos.
Filhas mulheres inferiores em número, mais superiores e mais fortes psicologica e fisicamente.
Nos primeiros tempo que vivem em Acari, de 1974 á 1978 vivia muito mais tempo fora que dentro da Favela.
Só em 1977 quando entrei parao Grupo de Danças Populares do GRANES QUILOMBO é fui ficando mais e vivendo mais Acari.
Ao mesmo tempo passei a fazer parte da Ala Alambique liderada pelo ator e cineasta Zózimo Bulbul onde desfilavam a maioria dos atores e ativistas culturais negros da época.
No Grupo de Dança a maioria dos participantes, mais de 40, eram mulheres.
Entrei para a Ala de Compositores em 1978 e logo, em 1979. assumi a Vice-Presidencia da Associação de Moradores do Parque Acari.
Estar ao mesmo tempo no grupo de dança, na alambique, na ala de compositores e na associação de moradores meu me deu o raro previlégio de partilhar das coisas da juventude, dos mais- velhos e das mulheres acarienses, uma vez que, como donas de casa, elas ficavam mais tempo na comunidade e portanto eram elas que mais recorriam a associação de
Moradores pra solicitar os serviços.
Com os homens da favela, pelo menos na associação, os contatos eram mais de seis em seis meses quando se fazia as assembléias gerais.
Foi na sede da Associação de Moradores do Parque Acari que aprendi que as mulheres da Comunidade são as mais importantes guardiães e multiplicadoras da memória histórica e sociocultural.
Quando finalmente decidi fazer meu blog minha intenção principal é registrar o que puder dessa memória já que varias dessas mulheres já estão se “indo” e as mais jovens dão sinais evidentes de amnésia cultural.
Não tenho nenhuma pretensão de substituir a mulhereda.
Só estou fazendo a mnha parte de fiel servo das suas mais públicas e mais íntimas vontades... politicas, sociais, culturais, sensoais, sensoriais e mesmo sensuais.
O que não tem sido facil, já que a violência dos homens insiste a me forçar mais a militância anti-violência e pelos direitos humanos que á poesia e a animação cultural de uma maneira geral e em especial a pró-feminista.
Mas mesmo assim, parece que agora, com o blog, a poesia, a animação cultural e o pró-feminismo, como armas de luta libertária vão voltar, depois de mais de 15 em segundo plano, a frente das minhas “correrias”.
NÃO HÁ UM CANTO DA FAVELA

Não há um
canto de favela
que não guarde
uma história.

Não há
um canto
de favela
que não tenha
um conto
pra contar.

Não há
um canto
de favela
que não guarde
histórias
nas marcas
da ultima
enchente nas
paredes dos
barracos
que levou
agua á baixo
tvsvideosgeladeiras
armários,
roupaspanelas
que ficou-se
devendo prestações
mas com sorte
saiu-se
com vida.

Não há
um canto
da favela
um cantinho
de viela
que não guarde
ainda os sons
das vozinhas femininas
infantis
brincando
de casinha e Bárbie
até uma
sairavada de AR-15
botar todo mundo
embaixo da mesa
da cozinha
longe do lugar
da bala perdida
achar um.

Não há
um canto
da favela
que não guarde
as vozes sussurradas
dos meninos
contando
a boca miúda
os feitos lendários
de Jotaélli
quando da retomada
épica do seu
Reino d'Pó
das parades do Acari.

Não há
um canto
da favela


que não guarde
o testemunho
choroso
de um irmão em Deus
subitamente
per'vertido a fé cristã
depois de tantas
dores e horrores
que infligiu
aos seus inimigos
e suas familias
aqui na Terra.

FAVELA: CEM ANOS.

Tá visto que em cem anos de favela
muito sangue de moprte banhou
as terras batidas de becos, ruas e vielas.

Mas tá visto também que na favela
há muito mais mulher que a gente
e muita menina vira moça toda hora, todo dia
se vendo meio que assustada e maravilhada
pela primeira vez menstruada.

Vai daí, que por benção de Mãe Oxum,
essa saguinolência toda que jorra na favela
por cem anos a fio, filetes e chimvicas,
tem sido muito menos da certeza da morte
e muito mais da verdade da possibilidade da vida.

Daí que, pela graça de Mãe Oxum,
nafavela, centenariamente, se sangra ainda
muito mais da divina maravilha da criação
que dos horrores letais das chacinas.
MEMÓRIA FAVELA: MULHER!

“Entre hoje e o amanhã corre um rio
Que nos alerta: nas águas de quem oprime não navega quem liberta”
Renato Teixeira cantado por
Pena Branca e Xavantinho.

De favela em favela
Os homens vivem cada vez menos
Já que se matam cada vez mais
as mulheres vivem cada vez mais
Já que quase nunca se matam...
Nem mais, nem menos.
De favela em favela
Quem vive mais conta mais
Quem vive pouco não resta
Nem o evento da própria morte pra contar.
As mulheres que estão vivendo mais,
Cada vez mais vão ficando pra contar
Das vidas e das mortes e muito mais:
Sobre a existência toda que pulsa
Pungente no tempo que passa...
Do que se nasce pra vida
Até pro que se morre pra
Uma outra vida... se há.
Assim, cada vez mais a memória da favela sobrevive
Dum jeito de lembrar feminino.
Só que a mulher da favela
Não conta a favela com a voz da razão.
Pras dizer a verdade
Ela diz a favela. Ao contrário
Do senso comum, ela sensualiza
Sensualizando a favela... tipo
O pensamento parece uma coisa à toa
Mas como é que a gente voa
Quando começa a pensar.
Na memória da favela
É prestar atenção no que diz
A mulher da favela
Mas há que prestar atenção no que
Ela ‘não diz’ da favela.
Ao memorizar a favela,
É neste ‘não dizer’ que está
A verdadeira memória da favela.
A memória mulher da favela
Não é a mesma memóriamachofavela...
Não é também tesededoutoradofeminista
Nem documnetáriopraestaçãounibanco...
A memória mulher da favela
Tem carne e sangue, tem gosto e desgosto,
Tem odor e tem dor, tem idoneidade e felicidade.
A memória mulher da favela menstrúa.
É fisicamente palpável, cafunesável, visível.
A memória mulher da favela
Copula, fica molhadinha, goza
E concebe... e brota nas cozinhas,
Nas portas de rua... e nas rodas de cerveja
Se oraliza e se faz verbo
Como uma cria de parto normal
E não num parto absurdo de
Uma pesquisa de campo.
A memória mulher da favela
Por mais trágica e dolorida
Que venha ser a lembrança
É sempre uma saudade meiga
Que Dolores cantava.
A memória mulher da favela
Faz a saudade esperança do passado
Faz esperança saudade do futuro.
A memória mulher da favela
É cabeça e coração,
Razão e emoção.
Mas, em tudo, que tudo por tudo
A memóira mulher da favela...
É útero!
E, em sendo uterina, cada morte
Por mais trágica, é só uma virgulinha
Dentre milhões de ?s, !s e... s
Em sendo uterina,
A memória mulher da favela
Nunca no final do parágrafo
Há ponto final. Há sempre dois pontos:
E o que vem depois dos dois pontos?!
Ouça o que diz a mulher da favela...
Mas há que prestar atenção
No “o-não-dizer” da mulher da favela
E, ou melhor, :


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