quarta-feira, 26 de maio de 2010

DE MC FIEL, DE FORÇA DO RAP, DE PODEROSOS E ELFANTES



Não é a primeira vez que sito o exemplo da Força do Rap sob uma Acari ocupada forças policiais. Em 1996 quando o pequeno Maicon foi assassinado por um policial do 9º BPM, a Força do Rap foi a única voz artística da favela a participar dos protestos.

Em 1998, ainda sob ocupação policial, a mesma Força do Rap foi convidada a subir no palco pra cantar e apoiar a campanha do candidato do governo, e aproveitou pra protestar contra a política, violenta, de segurança publica do governo.

Em Dezembro de 2001, MC Betinho, o mais jovem componente da Força do Rap, e um dos mais talentosos poetas do funk de todos os tempos, foi executado á sangue frio, sentado no sofá da casa de uma moradora da favela.

Os donos do poder, como os elefantes, jamais esquecem, e como os elefantes, mais sedo ou mais tarde, pisará naquele que o desagradou, afrontou.

Os donos do poder esperaram cinco anos pra se vingar da Força do Rap, “deixando” que seu poder militar armado assassinasse um de seus integrantes, Betinho.

Ainda não sei o que motivou os policiais militares da UPP do Santa Marta, atacarem o Rapper Fiel. Só sei que qualquer motivo, mesmo o mais banal, é motivo bastante para os vermes atentarem contra as vozes discordantes e resistentes nas favelas, como é a de Fiel. Ele tem paciência, sagacidade, tempo o bastante para esperar a oportunidade de darem o bote na nossa jugular.

Durante o longo e cansativo depoimento de que dei aos integrantes da Secretaria Nacional de Direitos Humanos pude perceber a indisfarçável perplexidade deles diante da minha inusitada “performance” de trinta anos de defensor de direitos humanos na favela.

A quase indisfarçável descrença que vi em suas faces me desencorajou de dizer da minha intenção de priorizar agora minha militância como poeta e animador cultural e de dizer-lhes também, quanto sambistas, funkeiros, reppers e outros artistas de favela e periferia podem vir a ser submetidos ao mesmo tipo de censura, pressão e repressão que a Força do Rap sofreu, que Fiel esta sofrendo, diante do crescente autoritarismo que prolifera por todos os cantos da sociedade civil organizada, incentivada por um estado policial penal militar que domina o Rio de Janeiro, e que não é só aqui.

Basta ver como a imprensa esportiva, mesmo a de esquerda, reagiu moralista e conservadoramente, contra o jovem meio campista do Santos, Paulo Henrique Ganso, por ele ter protestado contra o excesso de rigor na punição que ele e outros jogadores sofreram da diretoria do Santos, por terem chegado uma hora atrasado na concentração.

Com certeza, essa mesma imprensa que criticou Dunga, por não ter levado Ganso, pra Copa da África do Sul, deve agora, estar felicitando-o:
Afinal, um moleque desses, bom de bola, mas também com opinião própria e critica, seria um elemento desagregador e perigoso a unidade do grupo.

Durante a Ditadura Militar muitos artistas de favela e periferia, sofreram perseguição, foram presos, reprimidos e censurados por simplesmente pelo conteúdo contestatório e “comunista” de suas, nossas obras de arte, no teatro, na música, na poesia.
Enquanto os “medalhões” da musica de protesto tiveram condições de se exilar na Europa, nós ficamos aqui mesmo, exilados em nossas próprias favelas, em nossa periferia. Ao contrário do que aconteceu com esses medalhões, jamais fomos reconhecidos como “defensores de direitos humanos” que tínhamos como instrumento de luta, nossa arte.

Assim como no nosso tempo, artistas de favela e periferia como Fiel, Força do Rap, estão expostos, não mais a mesma espada, mas ao mesmo “ 762’ das forças policiais militar e civis militarizadas, como a CORE , por exemplo, braços armados da burguesia servida pelo estado penal policial militar.

O problema é que artistas favelados e de periferia com Fiel fazem arte e cultura na favela não só pra favelas e pros favelados, mas pra todo mundo da cidade que gosta de arte e cultura.
É inimaginável quanto de arte cultura das boas existem nas favelas e periferias, e que permanecem invisíveis atrás dos muros iinvisiveis mas embaçados que separa a favela do asfalto. Iniciativas como do rapper Fiel e do Baixinho do Santa Marta, do Se Bnze Que Dá e da Cia De Teatro la´da Maré, do Wesley com o Tudo Isso Na Rua, em Acari são tanto pra incentivar e divulgar a cultura da favela pra própria favela, tanto para trazer a galera do asfalto pra dentro da favela, tanto artistas, ativistas como simples consumidores de boa arte de boa cultura.

Portanto da repressão que atingiu Fiel e Seu Zé Baixinho com os socos e as botinas do samangos acertaram fisicamente eles, mas devem, precisa sentidas moralmente e indignadamente por todos nós que nãos somos do morro, mas nos aliamos aos manos e manas de lá. Se não por tanto, muito porque o povo do Santa Marta, como o povo da Maré, do Acari, doutra favela qualquer, não queremos a favela pra nós só, pra cês todas e todas não são de favela, mas que se não vivem dentro de nossas favelas vinte horas por dia, aprenderam a viver com nossas favelas dentro do coração de vocês 25 horas por dia, e mais vinte cinco nas mentes e nos sonhos.

Então, com certeza ,se a porrada dos pilas doeu no lombo do rapper Fiel, doeu um pouco menos, mas foi bem dolorido no peito e no corações de vocês.

Então, a porrada, num mais, nosostros menos, foi em todos nosostros...
Pero que si, pero que non, nosostros não vamo deixar assim. Né não?

Deley de Acari,
Poeta e animador Cultural.

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